Capítulo 8

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Enrique

Ela ficou simplesmente incomunicável. E eu, simplesmente desesperado. Comecei a sacar que talvez a pressão estivesse sendo muito grande, e fiquei com medo de perdê-la. De onde saiu aquela ideia idiota de casamento? Mal nos conhecíamos, ela sequer tinha visto meus pais ainda, e eu já falava em casar? Eu não achei que ela fosse ter esse tipo de reação, mas o Carlos me chamou de maluco psicótico, e a ficha caiu. Talvez eu estivesse mesmo parecendo um louco. E ela é um tipo de pessoa livre, que não curte pressão, não cairia na minha onda assim, fácil. O meu maior medo era que ela não gostasse de mim como eu gostava dela. Pois, se gostasse, tenho certeza que estaríamos morando juntos. Estava difícil dormir à noite. Liguei para a casa dos pais dela, e falei com a mãe (por sorte foi quem atendeu, e não o doido do pai), que foi muito querida comigo. Acho que ela simpatiza comigo.

— Mas ela é assim mesmo, meu querido. Sempre foi muito dona de si, tem umas manias, um jeito de ser que deixa a gente louca. Tem que ter paciência com ela. Ela gosta de você, gosta muito. Mas não gosta de ser pressionada. Puxou ao pai. Vão com calma que tudo se acerta. Eu tenho certeza de que vocês vão se entender, viu?

E ainda me convidou para comer um bolo qualquer dia. Claro, sogrona, com sua filha gostosa de sobremesa. Foi com esse pensamento que fui deitar e me masturbei pensando em cada uma de nossas trepadas insanas. O misto de medo e saudade me causou um tesão louco. E o ataque de ciúmes. Vai saber com quem ela andava?

O fato é que passei o fim de semana sem dormir direito, com a ansiedade lá em cima, pensando naquela maluca. Eu podia ter me apaixonado por alguém mais normal, né? Mas não, preciso gamar em uma pessoa destrambelhada e emocionalmente instável, porque não teria graça se fosse diferente. Ou o instável era eu e ela estava só tentando se livrar de mim. Na minha cabeça era nítido que ela só me queria por causa do sexo mesmo. E isso era é um problema, pois sexo, um dia, enjoa. Ou não? Sei lá. É possível passar a vida toda transando com a mesma pessoa sem enjoar? Eu não sabia responder, mas sabia que eu queria muito ela, precisava demais dela. E eu não sabia como encontrá-la.

"Por favor, não me procure mais". Essas palavras ferinas me atacavam o tempo todo. Trabalhar foi torturante na segunda-feira. Achei que seria bom, pois me distrairia, mas só consegui fazer merda. A distração era tamanha que acabei levando uma bronca da gerente, coisa que nunca havia acontecido antes. Aí me toquei que precisava arejar as ideias. Que tal um calmante? Ótimo. Chamei a Daiane, minha colega de trabalho, caixa da loja, para beber umas no Relax's Bar. Não há calmante melhor que um bom chopp barato. Daiane é uma boa amiga, e sim, somente amiga. Já havíamos saído em outras oportunidades, nunca rolou nada, e eu gostava de desabafar minhas neuras com ela. Para alguém tinha que sobrar, né? Não tinha dinheiro pra pagar terapia, e ela era uma companhia muito agradável. O Relax ficava no centro da cidade, próximo à loja onde trabalhávamos. E tinha esse nome porque as pessoas iam para relaxar (nossa, sério? Quanta perspicácia!), e ofereciam massagistas no recinto, ali no meio de todo mundo mesmo. Sem sacanagem, era massagem mesmo, na nuca, nas costas. Uma boa sacada que virou piada, pois a tendência é a gente pensar besteira quando coloca as palavras "bar" e "massagem" na mesma frase.

Papo vem, papo vai, vi umas meninas da turma da Danna chegando. Pensei em perguntar a alguma delas sobre a Danna, se alguma delas tinha falado com ela no fim de semana, mas fiquei com vergonha. Vergonha de parecer um sociopata neurótico. Apenas cumprimentei-as de longe e elas se afastaram sem me dar muita pelota.

— São colegas de faculdade da Danna.

— Olha só, já conhece até as amiguinhas dela. Tá indo longe a coisa. — Ela sorriu. As brincadeiras dela eram sempre muito leves, sem sarcasmo. Um amor de pessoa. Poderia ter me apaixonado por ela, facilitaria muito a minha vida.

— É, eu as vi uma vez só, quando fui procurá-la na faculdade. Ela nunca comentou que frequenta esse bar. Se é que frequenta.

— Não acho que as pessoas sentem grande necessidade de dizer onde e com quem vão. Mas tá na cara que ela gosta de curtir a vida, deve adorar baladas.

— Gosta, sim. Mais que eu, ela diz que sai praticamente todo fim de semana, mas deu uma diminuída depois que nos conhecemos.

— Ela disse isso?

— Disse.

— Então ela se importa com você. O suficiente para sair menos por estar com você, Ela sente que está com você, não é só um ficante. — Eu não tinha pensado por esse ângulo, e talvez, apenas talvez, fizesse algum sentido. Mais um motivo para eu pegar menos no pé dela.

— Talvez. O meu problema é... como agir? Como fazer com que ela fique comigo, sem que eu pareça um maluco?

— Vocês se conhecem há pouco tempo, é normal ela ter se assustado com tua proposta. Vocês precisam namorar bastante e, quem sabe, morar juntos antes de pensar em casar, já pensou nisso? A pressão é menor.

— Não sei como a família dela reagiria. Eles são meio religiosos.

— Acha que eles a obrigariam a casar na igreja?

— É possível que não aceitem bem a ideia de um relacionamento tão... informal, sabe? Mas acho que o maior problema não é esse. O problema é que ela não quer, mesmo. Deve estar muito assustada com isso. Eu sou um merda.

— Provavelmente está. Você foi com muita sede ao pote. Vá com calma, segure a tua ansiedade, não ache que ela tem que estar sempre com você, relaxe a pressão. Aí ela se solta mais e a chance de gostar de você é maior.

— Falando assim parece bem simples.

— E é simples, meu querido. Você que complica as coisas. — Deu uma piscadela pra mim, depois encheu meu copo de cerveja. Já era o terceiro da noite. E ia longe. O papo estava agradável, a noite idem. Lamento decepcioná-lo, leitoras e leitores, mas de lá eu a levei para casa e fui para a minha. Não rolou sequer um selinho. Não pensem bobagens. Porém, no outro dia, após o expediente, o telefone tocou. E, se o leitor não pensou bobagem, a Danna pensou.


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Imeeeeeeeensa gratidão à galera que está acompanhando e se divertindo com as desventuras desse casal sem noção. Especialmente AdryannaBe, que vem acompanhando de perto essa história, e também JhenyMalek, helofofa, JaquelineBellic, PoliFCunha. Não consegui marcá-las, mas registro aqui minha felicidade em ver seus comentários em cada capítulo!

Rolou treta nesse capítulo! Será que a Danna perdoa nosso estabanado Enrique??

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