Capítulo cinco

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Theobald.

Estava terminando de alimentar-me de um homem qualquer, que caminhava com um cão pela beira da estrada, quando vi o carro de minha mãe passar a toda velocidade em direção à capital. Olhei para o rosto pálido que me encarava com olhos arregalados e sem vida, refletindo por um momento e decidi que era melhor tentar segui-la. Quem sabe dessa forma consiga descobrir algo sobre o possível caso dela com o humano. Dei uma mordida voraz no rosto do homem, arrancando parte de sua bochecha direita e subi na moto, limpando a boca com um lenço que havia no bolso do casaco.

Em menos de dois minutos já tinha o carro em minha visão; mantive a velocidade, certificando-me de estar longe o suficiente para que ela não me notasse. Entrando nas ruas da capital foi mais fácil não ser visto por ela, pois haviam mais carros e motos, dificultando a identificação. Ela seguiu até um prédio refinado, em uma das ruas principais do centro da cidade, parando apenas por uns 10 segundos enquanto o portão da garagem abria, permitindo sua entrada. Certamente não era a primeira vez que minha mãe vinha aqui.

Estacionei a moto numa rua lateral, para que ela não a visse caso resolvesse deixar o prédio e encaminhei-me para a entrada, onde havia apenas um porteiro, a ponta de sua cabeça aparecendo atrás da bancada. Ele levantou o olhar ao ver-me no monitor que deveria estar à sua frente e eu fixei meu olhar no dele através da porta de vidro. Imediatamente seu olhar foi do usual desinteresse para uma eficiência robótica, como acontecia ao exercer meu poder persuasivo. A porta deslizante de vidro abriu-se e encaminhei-me até a bancada, sem romper o contato visual.

-A mulher que acabou de entrar num carro preto, subiu para qual apartamento?

-Cobertura, senhor. - Respondeu o homem mecanicamente.

-A quem pertence a cobertura?

-Ao Sr. Ciprian. - Ouvi o barulho do elevador descendo devagar e achei melhor não arriscar.

-Você não lembrará desta conversa, nem de ter-me visto assim que eu deixar o prédio. - O homem acenou positivamente com a cabeça enquanto abria as portas de vidro para que eu pudesse sair.

Fui até o beco onde estava minha moto e montei-a, parando ao colocar o capacete para refletir. Com certeza conseguiria identificar o homem com seu endereço e seu sobrenome, mas precisaria de um computador com internet, no mínimo. Dei a largada na moto e arranquei com ela cantando os pneus de leve, tomando as ruas e fazendo meu caminho até o galpão.

Ao chegar, dois homens corpulentos, que discutiam na entrada, distraíram-se ao ver minha moto e encaram-me com olhos invejosos, provavelmente pensando como um garoto dessa idade havia conseguido uma moto dessas. Observar o comportamento das pessoas era algo que me entretinha quando estava com minha guarda baixa, fazia valer a pena ser visto. Cumprimentei os dois com um aceno de cabeça e fiz menção de empurrar a porta, quando esta abriu-se de súbito, dando lugar ao rosto carrancudo de Donny.

-Boa noite, senhor. Vai pelo bar hoje? - Questionou ele, claramente espantado. Era raro eu entrar pelo bar, sempre preferi o sossego dos fundos.

Dei um meio sorriso e entrei, sem perder meu tempo com cortesias desnecessárias. O bar estava cheio, uma mistura de odores atingiu-me quando aspirei. A força dos odores sanguíneos acentuada pelo álcool atordoou-me por um instante; sacudi levemente a cabeça, afastando meus cabelos do rosto, para poder me concentrar no que viera fazer. Semicerrei os olhos e procurei pelo bar pela cabeça loira de Lucas. Nada. Mas a essa altura Donny com certeza estaria avisando-o sobre minha presença, portanto, logo viria ao meu encontro.

Abri caminho pelas pessoas e sentei-me numa mesa afastada, num canto. Um impulso sensorial fez-me levantar a cabeça: encostada à parede oposta, uma mulher olhava-me fixamente. Uma vampira. Esguia, cabelos longos e ondulados, caindo em cascata pelo decote do vestido, um copo intocado na mão esquerda, os dedos da mão direta tamborilando a parede atrás dela despretensiosamente. Não sabia como não havia notado antes, mas todos os olhares pareciam desviar-se para ela de tempos em tempos. Involuntariamente, passei minha língua entre os lábios e sorri maliciosamente, indicando a cadeira em minha frente com um aceno de cabeça. Ela sorriu, como se já esperasse minha reação e veio caminhando devagar, apoiando suas mãos no encosto da cadeira, perguntou em um sussurro que provavelmente só outro vampiro ouviria:

Orbis Semini - A SementeOnde histórias criam vida. Descubra agora