Orbis Semini - A Semente

Capítulo Oito

Dominic.

Eu estava sentada no sofá de couro aparentemente recém-comprado de Valentim, fingindo não escutar enquanto ele e sua entediante esposa contavam sobre a última viagem de férias aos meus queridos pais, quando uma sensação estranha me invadiu. Uma agonia pulsante, como se eu quisesse muito me alimentar; o que era surpreendente considerando as três taças de sangue fresco que eu tinha acabado de esvaziar. Então de repente, com um arrepio na nuca me dei conta de que a agonia não era minha: era de Theobald. Levantei-me de um pulo e comecei a encaminhar-me para fora da sala quando um odor peculiar me alcançou. Infelizmente eu não era a única no aposento com um olfato sensível. Todos se levantaram de súbito e voltaram seus olhares para a entrada do salão, ao mesmo tempo em que Theobald e Diana apareciam acompanhados de um garoto.

Encarei meu irmão confusa, nossos olhos se encontraram e eu pude notar o esforço que ele estava fazendo para não fincar os caninos no menino, que parecia ter encolhido ainda mais ao notar que agora cinco vampiros o encaravam estupefatos.

-O que é isso?! - Exclamou Valentim, que apressadamente se aproximou para analisar o garoto de perto, que a julgar pelo cheiro que se juntou aos outros, tinha acabado de urinar nas próprias calças. Theobald mantinha um aperto firme no ombro do menino, mas foi Diana quem respondeu:

-Theobald e eu encontramos este menino no bosque, escondido nas árvores. Achamos melhor trazê-lo para o seu conhecimento, principalmente por conta do cheiro que ele carrega consigo. - O olhar astuto da vampira desviou-se por uma fração de segundo para Telonious, que observava a cena com uma estranha expressão alarmada no rosto.

Uma lembrança antiga surgiu em minha mente: Theobald e eu encolhidos e sujos de lama – uma técnica que usávamos quando éramos crianças, para despistar nosso cheiro quando não queríamos ser descobertos - atrás de um grosso tronco de árvore, caído numa das florestas mais antigas da Romênia, espionando Telonious enquanto ele aparentemente torturava, e em seguida queimava, a última bruxa da história das bruxas. Então entendi a expressão inesperada de Telonious; o garoto tinha cheiro de bruxa.

-Ora, ora, ora... meu caro amigo, o que temos aqui? - Perguntou Valentim, olhando maliciosamente do menino para Telonious, que parecia ter se recuperado do choque e começava a se aproximar do menino, que encarava trêmulo o chão de mármore polida.

-Uma infeliz coincidência ou alguma surpresa inconveniente do destino? O que você nos diz, rapaz? - Perguntou Teloious segurando com firmeza o queixo do garoto, forçando-o a levantar os olhos.

Diana observava o peito da criança subir e descer rapidamente, Theobald avaliava cuidadosamente a esposa de Valentim, cujos caninos estavam à mostra, claramente preparando-se para disputar a presa. Yvana, finalmente abandonando sua postura indiferente, olhava o menino com curiosidade, que parecia não conseguir elaborar uma palavra sequer, tamanho medo que sentia.

-Talvez devêssemos oferecer um incentivo para que ele fale. - Disse Valentim, os olhos faiscando cheios de malícia. - O que acha, pequeno? Você gosta de brincar com facas? - Ele fez sinal com a mão para um de seus assistentes que observava cuidadosamente atrás de Theobald e Diana. O vampiro prontamente tirou uma adaga de sua bota e entregou-a ao Patrão. O menino começou a chorar, os olhos vermelhos e arregalados encontraram os meus, fazendo-me lembrar inesperadamente de Higor.

-O que você pensa que vai fazer?! - Falei, rapidamente colocando-me entre o garoto e Valentim. Telonious, assim como todos os presentes, encarando-me sem acreditar no que estava vendo. Atrás de mim, Theobald prendeu a respiração audivelmente.

-Perdoe-me, querida princesa, mas o que lhe parece que irei fazer? - Valentim olhava-me visivelmente irritado, ainda empunhando a adaga.

-Você não vai beber desse garoto, ele não representa nenhuma ameaça a nenhum de nós. É claramente inofensivo. - Afirmei sem desviar meu olhar do dele, que ficava mais raivoso a cada palavra minha.