Destruição de sentimentos

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- Acho que devo ter trocado de escola umas cinco vezes antes de enfim te encontrar, não é bom ficar sozinho depois de tudo, Ray - o garoto continua a falar enquanto usa uma de suas mãos para tirar a bandagem do meu pescoço e revelar a tatuagem dos meus cinco números de registro, fazendo eu parar de andar no processo. Eu estava em êxtase, não fazia ideia do que fazer naquela momento crucial e ainda por cima estava febril, o que só atrapalhava minha capacidade cerebral. - Só consegui te encontrar porque Isabella entrou em contato comigo, ela está preocupada com sua saúde mental - o albino se posicionou em minha frente e pegou gentilmente meu queixo me fazendo levantar o olhar para encara-lo.

- Melhor te levar logo para casa, você parece estar piorando de novo - afirma Norman após fazer uma ação ousada de pressionar sua testa contra a minha e a sentir mais quente que o normal. O rapaz mais alto coloca minha mochila virada para seu tórax e fala para que eu subisse em suas costas ou senão me carregaria no colo como uma dama. A primeira opção me pareceu a mais sensata nos meus poucos momentos de lucidez e assim o fiz me agarrando ao corpo de Norman e sendo capaz de sentir de bem perto o seu cheiro.

Norman começa a cantarolar no caminho para minha casa enquanto eu me contorço de vergonha por estar sendo carregado pelas ruas sem nenhuma decência, fiz o máximo possível para esconder meu rosto em meio às pessoas que passavam por nós. Mal consegui perceber que o coração do grisalho estava batendo fortemente, mas provavelmente era devido seu sedentarismo então não dei importância. Vez ou outra o albino murmurava algumas coisas que não conseguia ouvir direito e, quando perguntava do que se tratava o mesmo mudava rapidamente de assunto com um rosto corado ou apenas fingia que não era capaz de me ouvir.

🌤️


Assim que chegamos em minha residência Norman me deixou descer de suas costas para que eu conseguisse abrir a porta da frente. Eu ainda não sabia o que fazer em relação ao bombardeio de informações que havia recebido e tudo que pude fazer foi convidá-lo para entrar. Eu tomava meu remédios contra ansiedade e pesadelos mas não achei que Isabella estava tão preocupada comigo a ponto de recorrer ao garoto que eu tinha um crush quando criança, essa tinha sido uma jogada suja da parte dela, principalmente por saber desses meus sentimentos antigos. Eu disse a Norman para que se sentisse confortável enquanto eu fosse tomar um banho para diminuir a febre e tirar o suor.

Como o banheiro que eu utilizava ficava no meu quarto não senti a necessidade de fechar sua porta, apenas a do quarto em questão e então fui tomar uma ducha normal para pensar no que falar antes de voltar para a sala e tentar conversar com Norman a respeito de tudo aquilo. Eu gostava da sensação da água caindo nos meus cabelos então fiquei assim por um tempo, cheguei até a fechar os olhos de tamanha satisfação. Assim que abri minhas pálpebras novamente já sabia como argumentar com o rapaz grisalho que estava no andar de baixo, ou pelo menos era o que eu achava a poucos segundos atrás.

Avistei uma silhueta na porta do banheiro e virei meu rosto para ver o que era e me deparei com Norman me encarando desavergonhadamente com uma xícara do que aparentava ser chá nas mãos enquanto eu me banhava, o albino parecia estar em transe enquanto olhava meu corpo molhado e despido com um rosto tão vermelho quanto possível e, se não fosse pela minha ação instintiva de fechar a porta na cara dele eu genuinamente acho que ele continuaria ali parado, me olhando com aqueles olhos cintilantes e sedentos por alguma coisa.

🌤️


Eu me visto rapidamente sem nem ao menos enxugar os cabelos corretamente e desço correndo as escadas, prestes a dar um soco naquele filho da mãe pervertido que não sabia o que significava bater na porta antes de entrar, mas assim que olho em direção a sala de estar Norman parecia estar tão envergonhado e sem jeito que meu coração chega a falhar algumas batidas e descido conter minha raiva em prol daquele rostinho bonito. Suspiro alto para mostrar minha presença e me sento ao lado dele abraçando uma das almofadas que pertencia ao conjunto enquanto o albino desvia o olhar sem conseguir me encarar nos olhos.

- Olha, eu não queria manter contato com ninguém justamente para que isso não acontecesse - começo a explicar a situação com alguns intervalos entre as frases ditas com firmeza - Para que eu não preocupasse vocês com as minhas besteiras... - assim que termino o pouco que tinha para falar observo cuidadosamente o garoto ao meu lado que procurava coragem para me responder depois do fiasco do banho - Ray, enquanto a Emma fosse se transformar em uma Mama e eu seria usado pelos laboratórios devido meu alto QI você seria apenas morto e descartado como qualquer outra criança, eu entendo o motivo de você sofrer tanto com os pesadelos. Você sabia de tudo o que acontecia no orfanato desde sempre e apenas aguentou... Você era apenas uma criança - Norman fala com um tom de voz choroso enquanto eu sou apenas capaz de ouvir o seu ponto de vista da situação, mesmo que não estivesse errado.

- Você ainda têm uma boa convivência com a Emma ou a deixou de lado assim como eu? - o grisalho exclama enquanto pergunta com um tom um pouco azedo como se estivesse irritado pela perda da amizade que tínhamos. Eu apenas aceno com a cabeça de forma positiva e complemento que a garota até tentava me contactar algumas vezes pelas poucas redes sociais que eu possuía mas eu sempre a ignorava ou bloqueava, deixando a expressão do outro um pouco mais amena, aparentemente saber que não tinha sido o único a ser jogado de escanteio havia ajudado no seu ego fracassado.

🌤️


Assim que terminamos o extensivo diálogo sobre voltarmos a ser amigos e nos apoiarmos um ao outro como nos velhos tempos eu finalmente sou liberado para ir descansar no meu quarto afinal, eu ainda estava doente depois de tudo. Hora ou outra Norman vinha ao meu quarto para me obrigar a tomar aqueles remédios e chás horríveis além de limpar o meu suor com um pano úmido e medir minha temperatura vez ou outra, visto que Isabella não tinha tempo para cuidar de seu próprio filho nem em momentos assim. Fiquei nesse vai e vem de temperatura (e Norman's) por uns 3 dias antes de me recuperar completamente e poder regressar à escola.

🌤️


Nada de muito importante acontece quando eu chego na minha sala de aula depois de três dias ausente, ninguém lá se importava comigo afinal de contas, entretanto pude ver que o representante da sala se levantou e estava vindo em minha direção (provavelmente era para me passar a matéria perdida), mas nesse meio tempo Norman chegou me abraçando por trás como cumprimento, o que finalmente desencadeou a atenção dos demais alunos presentes e alguns sussurros começaram a surgir podendo ser ouvidos facilmente devido a pouca descrição das pessoas.

- Você já está se sentindo melhor hoje, certo? - o albino dá um sorriso largo enquanto olha para mim e logo completa - Teremos uma aula de educação física no terceiro horário, então vê se não pega pesado com o seu corpo. Eu apenas aceno de forma positiva com a cabeça sem olhar diretamente para o alto rapaz grisalho que chamava tanto a atenção. Até o presente momento nenhum dos alunos da sala pareciam perceber ou ao menos suspeitar que, assim como Norman, eu também era um animal para o abate.

Algo que não duraria por muito tempo...

🌤️

Algum tempo depois o interfone toca simbolizando o fim da segunda aula teórica da quinta-feira e todos os alunos da classe começam a se direcionar ao ginásio da escola para a aula de educação física. Assim que chegamos lá cada gênero vai até seu respectivo vestiário para trocar de roupa, tudo estava correndo normalmente, mas é óbvio que alguns enxeridos começariam a tentar se aproximar do "cara que não virou Friboi" que entrou no colégio deles só para poderem se vangloriar depois (e encher nosso saco).

- Ei mano, como é que você conseguiu essa sua tatuagem no peito? Ela é tão descolada - um rapaz começa a falar assim que Norman tira sua camiseta e mostra a marca feita pelo laboratório do outro mundo para poderem identificar suas propriedades. O albino olha para mim como se estivesse perguntando se poderia falar sobre aquilo com aqueles desconhecidos, mas antes que eu pudesse simbolizar um simples "tanto faz" outro dos garotos do grupinho fala comigo, algo que eu realmente não esperava - Ray, por que é que você usa essa bandagem no pescoço todo dia? É algo que eu me pergunto faz tempo sabe...

(1492 palavras)

"Me deparei com você novamente" - Norray Onde histórias criam vida. Descubra agora