Aqueles caras já tentavam me infernizar a algum tempo só porque eu parecia o típico emo depressivo e nerd que era perfeito para fazer os trabalhos e lições de casa dos valentões, depois de bater neles algumas vezes aos poucos os mesmos foram desistindo de me fazer como capacho, mas provavelmente só fizeram isso dessa vez para poderem infernizar o novo amiguinho do Friboi, algo que funcionaria em outras circunstâncias, é claro.
Por fim eu apenas disse que era uma cicatriz do acidente de carro que aconteceu comigo quando mais novo e que apenas não queria sair exibindo ela por aí, o que funcionou e deixou os meninos desinteressados novamente com respeito a mim. Apenas alguns minutos depois daquela conversa nada amigável entre colegas de classe o professor chama os alunos para a quadra e avisa que o jogo de hoje é basquete. Os meninos saem do vestiário e começam a brigar sobre em qual time Norman ficaria já que ele era enorme e provavelmente se daria bem jogando esse jogo, enquanto as garotas se dirigem a arquibancada e esperam sua vez de jogar já que fazer basquete misto não era muito justo.
Eu e Norman acabamos ficando em times diferentes, mas ao contrário dos demais alunos eu sabia que o albino era desengonçado e péssimo nos esportes o que me traria uma vitória relativamente fácil visto que eu era ágil e um pouco forte, até. Minha única e maior preocupação era tomar o máximo de cuidado para que a minha prótese de orelha não caísse durante a partida, então infelizmente não poderia dar o meu máximo e colocar aqueles exibidos no chinelo.
Assim que o jogo começou pude ouvir as garotas conversando enquanto olhavam atentamente os jogadores, pareciam estar classificando cada um de nós de acordo com suas doutrinas padronizadas, mas me surpreendo ao ouvir que uma delas preferia sair com garotos não tão altos e sem muitos músculos por acha-los esquisitos ao toque - Não sei como vocês preferem caras musculosos, eles me são até calafrios - a garota diz enquanto aponta o dedo para um dos garotos que estava na quadra se concentrando no jogo - Eu acho que meu tipo ideal seria alguma coisa perto do porte físico do... - a frase da garota é cortada quando um cara do meu time grita após acertar uma cesta, como se ele fosse um gorila que tinha acabado de ganhar a luta pelo seu território.
Merda, queria ouvir o que elas tinham a dizer já que esse jogo estava fácil de mais para me concentrar nele, como eu havia imaginado Norman ainda era péssimo nos esportes e não conseguia pegar a bola nem quando as chances estavam ao seu favor. Ele era até que fofo tentando miseravelmente concertar as coisas e não atrapalhar o time me fazendo soltar uma risada nasal ao vê-lo trombando em alguém. Eu já havia quase me esquecido do que as meninas tanto conversavam até ouvir meu nome em meio às feições surpresas de algumas moças - Meu tipo ideal seria o Ray - uma garota de cabelos longos e castanhos claros, sardas e olhos verdes me encara enquanto aponta o dedo em minha direção - Ele não é chato, não fala de mais ou tenta ser exibido, não é tão alto e tem um corpo sadio sem esbanjar uma masculinidade frágil.
Sem nem ao menos pensar em minhas ações eu olho para trás e nossos olhos se encontram, mostrando que eu tinha ouvido tudo aquilo que a garota havia falado. A mesma rapidamente desce sua mão que apontava para mim e vira seu olhar com o rosto ruborizado enquanto as amigas riam da situação constrangedora. Acho que Norman ouviu as risadas, porque pouco tempo depois ele se aproximou de mim deixando o jogo em segundo plano assim como eu tinha feito e perguntou o que havia acontecido para eu estar tão estático assim. Eu tirei meu olhar do grupo de garotas antes de ser capaz de responder o albino que parecia preocupado - Não é nada de mais, vamos voltar pro jogo... - eu digo murmurando e voltando para o centro da quadra.
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A partida de basquete masculino finalmente tinha acabado e poderíamos enfim ir tomar banho para tirar todo aquele suor que conseguimos enquanto jogávamos. Eu fui direto para o chuveiro tomar uma ducha de água fria ignorando os comentários de preocupação de Norman que insistia em saber o que aconteceu mesmo que não fosse da sua conta, mas fui obrigado a chamá-lo quando esqueci de trazer a caixa de bandagens comigo para o banho. Chamei por seu nome algumas vezes mas sem resposta, não poderia arriscar sair de lá com o meu pescoço à mostra desse jeito então apenas esperei debaixo da água fria por algum tempo até ouvir alguém bater na porta do meu box.- Trouxe minhas ataduras? - perguntei inocentemente enquanto desligava o chuveiro e pegava minha toalha para me cobrir com ela e destrancar a porta - Sim, mas não acho que eu seja a pessoa que você está esperando - escuto uma voz familiar mas diferente da do albino no outro lado da abertura. Me enrolei na toalha branca padrão e escondi meus números com as mãos antes de abri-la e ver quem diabos mexeu nas minhas coisas sem permissão. Assim que sou capaz de observar o corredor do banheiro me deparo com o representante da sala segurando minha caixa de curativos em uma das mãos e olhando para mim, sorrindo.
- Eu te ouvi chamando seu amigo mas ele já foi embora, eu as trouxe para você no lugar dele - o conselheiro estudantil estende sua mão para ser capaz de me entregar as bandagens enquanto observava cuidadosamente as gotas de água que caiam dos meus cabelos molhados e seguiam trilha até o pescoço tampado - Eu me pergunto por que você esconde essa "cicatriz", ela é a prova de que você sobreviveu ao pior - o rapaz de olhos brilhantes e amarelos diz enquanto eu retiro um dos curativos e o coloco sem deixar que o homem visse alguma coisa. Eu o observo com cautela assim que abro a porta novamente agradecendo pela ajuda, as vezes ele me passava uma sensação estranha, como se pudesse ver atravéz da minha alma com aqueles olhos cintilantes e de cores raras.
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Finalmente as aulas daquele dia tinham acabado, aconteceu tanta coisa que mal fui capaz de processar - Vamos para casa juntos! - exclama o albino enquanto acompanhava meu passos lentos e preguiçosos em direção ao portão de saída da escola, me tirando dos meus pensamentos e linha de raciocínio. Eu geralmente andava olhando para o chão mas o tumulto que acontecia na porta do colégio me deixou curioso, era raro ver tantas pessoas aglomeradas sem ser em brigas, o que claramente não parecia ser já que o porteiro não tinha interferido. Norman e eu nos aproximamos para ver o que estava acontecendo quando nos deparamos com um carro um tanto quanto caro estacionado bem em frente a escola juntamente com uma garota tagarela e ruiva.
Eu quase mordi minha língua quando vi Emma procurando alguém em meio a multidão de pessoas que não paravam de tirar fotos e pedir seu autógrafo. Esperava poder sair de fininho e impedir que aquela mocinha de personalidade forte me encontrasse mas assim que tentei continuar andando o garoto grisalho me puxa pelo braço, me arrastando até a frente da multidão. Tudo o que conseguia pensar no momento era em como eu queria morrer naquele mesmo instante, ou pelo menos fingir um desmaio, mas sei que se eu tentasse realizar esse plano desesperado a ruiva me chacoalharia até que eu vomitasse. Em poucos instantes Emma consegue avistar Norman que era maior que a maioria e tinha um cabelo bem peculiar, gritando em nossa direção.
Assim que a moça olha para o que o amigo arrastava com tanto esforço grita mais uma vez correndo em nossa direção dessa vez. A ruiva pula em nós de tanta alegria ignorando completamente seu arredor - Ray seu filho da puta, quem deixou você parar de falar com a gente? - exclama a garota enquanto aperta minhas bochechas tão forte que me faz lacrimejar. Enfim o trio estava unido novamente para a felicidade dos outros dois que comemoram pois eu "não ficaria sozinho" de novo - Ah é mesmo, Ray eu tenho uma coisa importantíssima para te contar, mas não tive a oportunidade antes devido toda aquela correria de escapar e tals - a garota estufa o peito como se fosse falar algo realmente relevante e olha nos meus olhos com uma determinação fora do comum antes de se pronunciar - O Norman tinha me pedido para te contar uma coisa assim que ele fosse embora de vez sabe, já que você se recusava a vê-lo durante aquele meio tempo e parece que ele não te contou até hoje não é mesmo, Norman? - a moça de olhos verdes começa a olhar para o albino assim que termina de falar, esperando alguma reação do rapaz.
Eu acompanho o olhar de Emma e consigo ver o rapaz com uma das mais no rosto tentando tampar seu rosto ruborizado, como se ela fosse contar algo muito pessoal ou constrangedor para se dizer em voz alta. Querendo saber do que se trata falo para a menina continuar sua frase, esperando ansiosamente para, com toda a certeza do mundo, zombar de Norman depois - Bem, se Norman não se pronunciou então não há nada o que se fazer além de contar tudinho, né - a garota olha para o maior mais uma vez só para deixá-lo mais desconfortável antes de continuar sua fala - Norman confessou que te ama no seu último dia no orfanato, ele usou seus últimos minutos para me dizer isso, Ray.
(1620 palavras)
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"Me deparei com você novamente" - Norray
Fiksi PenggemarEu possuo o que chamam popularmente de "Memória Autobiográfica Altamente Superior", que me impede de esquecer qualquer memória que eu já tenha presenciado, o número em meu pescoço é 81194 e sou conhecido como Ray, uma das crianças que escapou do mun...