Eu possuo o que chamam popularmente de "Memória Autobiográfica Altamente Superior", que me impede de esquecer qualquer memória que eu já tenha presenciado, o número em meu pescoço é 81194 e sou conhecido como Ray, uma das crianças que escapou do mun...
- Mas enfim, eu posso até visitar vocês mas não vou estudar aqui. É muito longe de onde eu moro e trabalho, já contei para vocês que eu virei modelo e tô ficando famosa? Bla bla bla... - Emma começa a contar sobre sua biografia de vida mas não consigo prestar atenção em nada do que ela falava, estava mais concentrado na bomba que ela tinha lançado em meu coração sem nem ao menos ter piedade. Não consigo mover um único músculo para dizer alguma coisa ou até mesmo ir embora e deixar ambos para trás, poderia se dizer que no momento eu estava em estado de transe, sem conseguir pensar ou fazer nada além de respirar.
Os sentimentos que eu tentei esquecer a tanto tempo atrás estavam brotando como um recém descoberto poço de petróleo, a pressão no meu coração era tamanha que lágrimas começam a escorrer pelas minhas bochechas. Emma consegue perceber meu choro por poder ver livremente meu rosto devido sua altura menor que a minha e entra em desespero, chamando a atenção de Norman que me olha com preocupação - E.eu também - foi tudo o que meu pequeno ser foi capaz de dizer antes de continuar colocando toda a frustração para fora. Eu jurei que Norman gostava da ruiva então jamais cogitei me confessar, apenas observava os dois se dando bem enquanto meu amor não correspondido apenas me sufocava.
- Emma, nós conversamos depois tá bom? Vou levá-lo para casa agora - o rapaz grisalho diz se dirigindo à garota enquanto segura cuidadosamente minha mão induzindo para que eu o acompanhasse. Emma só conseguiu acenar antes de ser bombardeada pelos fãs novamente que não a deixaram se despedir corretamente de seus amigos. Por fim deixamos a moça para trás e seguimos caminho até minha residência, sempre de mãos dadas e sem nenhum diálogo durante todo o extenso caminho até lá mesmo que ambos provavelmente tivessem muito o que discutir.
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Eu abro a porta e convido Norman para entrar apenas com um gesto sutil que o outro percebe e logo me acompanha vagarosamente para dentro do casarão depois de retirar seus sapatos. Assim que eu preparo um chá feito a base de camomila ambos nos sentamos no sofá da sala sem dizer uma única palavra, pude jurar que conseguia ouvir as batidas do coração do maior mesmo estando longe devido todo aquele silêncio constrangedor do local. Ainda existia a hipótese de Emma só ter mentido bem na minha cara para ver minha reação e zombar de mim depois, assim como pensei que faria com o albino, mas eu simplesmente não queria acreditar nessa teoria sádica. Algum tempo de silêncio depois Norman finalmente começa a se pronunciar, mas o que eu achei que seria um texto dissertativo foi apenas uma curta frase - Olhe para mim.
Eu obedientemente faço o que me foi ordenado e viro meu olhar para encarar o albino que estava com olhos sedentos e um tanto quanto receosos para fazer seja lá o que tivesse planejado. Acabamos nos encarando por um tempo então decidi voltar a olhar para o chão por estar desconfortável com aqueles olhos me analisando a todo instante, mas para minha surpresa o rapaz usa uma de suas mãos para segurar meu queixo e me beija suavemente nos lábios o que me tirou uma expressão de completa vergonha do meu rosto como se a máquina da minha cabeça tivesse deixado de funcionar. Aquele não tinha sido meu primeiro beijo, mas a sensação era completamente diferente.
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Depois daquele ato inesperado mas muito satisfatório conversamos a noite toda, respondendo todas as perguntas e dúvidas um do outro e decidindo fatores cruciais do nosso recente relacionamento, a partir desse início de noite estávamos oficialmente namorando. Como Isabella provavelmente acabaria dormindo por cima dos papéis no trabalho eu deixei Norman passar a noite lá para continuarmos nossa conversa, além de já estar muito tarde para se andar sozinho na rua, tanta coisa aconteceu em míseros três anos que apenas uma noite mal seria capaz para se falar nem metade dos ocorridos. Falamos dos mais diversos assuntos, desde nossos novos hobbies até às brigas que encaramos contra as pessoas que simplesmente não nos queriam por perto por nos acharem alguns níveis inferiores.
- O que vai querer para o jantar? - perguntei em um tom de voz alta para o albino que estava em meu quarto tomando banho enquanto abria a geladeira para ver as opções - Curry para mim está bom - o garoto no andar de cima exclama em resposta. Começo a pensar enquanto tiro os ingredientes para começar a confeccionar a comida que minhas roupas provavelmente não serviriam no Norman, ele tinha um torso bem avantajado. Depois de algum tempo o Curry já estava cozinhando no fogão e o rapaz grisalho já havia terminado de se banhar e, assim como o esperado, minha maior camiseta não serviu nele e a calça mostrava os tornozelos - Sorte sua que ainda está quente, caso o contrário te expulsaria daqui para não pegar um resfriado por minha culpa - divaguei enquanto terminava de mexer o molho que já estava no ponto.
- O cheiro está muito bom - Norman diz enquanto se aproxima pelas minhas costas e coloca seu queixo sob meu ombro, olhando o banquete. Ainda teríamos um longo caminho pela frente se queríamos que nosso relacionamento progredisse, mas para mim já está perfeito assim - Já está pronto, pegue um prato e venha se servir - digo enquanto viro meu rosto para encarar o sujeito que pousava sob meu ombro tão confortavelmente. O garoto me encara e dá um sorriso malicioso pouco antes de me agradecer pela comida com um selinho e então ajeita sua postura e vai comer o que tenho a oferecer com toda o amor do mundo. Meu rosto ruboriza um pouco devido o ato inesperado do outro mas logo faço os mesmos movimentos que ele e me sento na mesa de jantar ao seu lado.
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No dia seguinte tomamos um caprichado café da manhã que fiz para exibir meus dotes culinários e seguimos em direção a mais um dia de estudos, conversando durante todo o caminho até lá. Assim que chegamos em nossa respectiva classe tanto eu quanto Norman somos bombardeados por alunos que exigiam saber como conhecíamos a estrela em ascensão Emma e alguns até brigaram dizendo que havíamos a tratado com desdém. Durante toda aquela bagunça de pessoas curiosas e furiosas nos pressionando a dizer alguma coisa eu sinto minha bandagem sendo arrancada com toda a força que alguém conseguiu, revelando a todas as pessoas mais próximas meus números no pescoço. Em um ato de pânico usei uma das minhas mãos para tampar a tatuagem e a outra para empurrar aqueles que estavam muito perto para o mais longe que meu braço conseguia, mas parecia que quanto mais eu tentava fazer alguma coisa pior ficava, como uma piscina de bolinhas que você tenta cavar até o fundo mas em vão.
Merda, estava ficando com crise de ansiedade e mal podia me mexer devido os alunos que me empurravam para longe da porta e gritavam comigo a todo instante, alguns devido a modelo e outros por terem visto por um breve momento o motivo dos meus pesadelos. Estava quase caindo em lágrimas quando alguém me puxa para fora das correntes marítimas e me salva do afogamento, assim que olho a autor do ato que havia me confortado em seu peito me deparo com o representante da sala mandando todos darem espaço e pararem de agir como animais. Olho um pouco relutante ao redor e vejo uma multidão de pessoas de outros anos começando a se afastar de mim e de Norman que havia sido levado para o outro lado do cômodo indo embora murmurando ofensas de todo o tipo ao conselheiro estudantil.
Eu não desgostava do presidente, apenas achava que ele sabia demais sobre mim para alguém que eu mal conversava e tinha algumas atitudes estranhas, mas ele nunca me tratou com desrespeito ou desgosto, até nesse momento onde agora todos sabiam que eu vinha do mundo demoníaco e deveria ter virado comida para monstro. Por sorte minha orelha postiça não havia caído durante toda aquela confusão, senão os insultos seriam ainda piores falando alguma coisa do tipo "O cara tentou fugir da criação de gado, nem para aceitar seu destino e morrer miseravelmente você é capaz".
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Depois que o intervalo é anunciado eu peço para que o representante me seguisse para que pudesse agradecer formalmente e o levo até aquela mesma sala vazia que eu adorava ficar, deixando Norman para trás. Eu não ficava contente por deixá-lo sozinho na escola que ele tinha acabado de se matricular mas não via outra opção, a conversa que teria com o outro era deveras pessoal demais para que eu deixasse o albino se juntar a nós. Assim que chegamos no lugar determinado eu me viro para encarar seus olhos amarelos antes de perguntar - Por que você não me humilha como o resto das pessoas desse mundo fazem? - o homem pareceu ficar pasmo pela pergunta mas a respondeu logo depois de um longo suspiro - Pelo simples fato de eu também ter vindo do outro mundo, meu nome é Akira e eu vim da Fazenda De Carne Humana House.