capítulo 6

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Sem aviso prévio, após minha irmã se levantar para ir à cozinha, pego um maço de cigarro em minha bolsa, isqueiro, viro um gole da bebida que havia no copo, balanço a cabeça e sem olhar para ninguém vou em direção à porta.

— onde você vai? - pergunta meu pai, percebo frustração em sua voz.

Não me dou o trabalho de responder e logo saio batendo porta. Tudo o que eu queria era ir para a casa da Lauana e fuder até esquecer de tudo o que passei só nesta última hora, em que estou aqui.

Hoje em dia, olhar para meus pais e não relembrar de todo trauma, me machuca profundamente, fisicamente e emocionalmente só consigo sentir dor... dor por tudo o que me fizeram passar. É sem dúvidas humilhante, precisar conviver, principalmente com a minha mãe... por conta de uma família que foi destruída.

Me sinto suja, rejeitada, sei lá, pareço a verdadeira ovelha negra... chega até ser cômico toda essa forçação de barra.

Acendo o cigarro, boto entre os lábios e quando dou a primeira tragada, tento controlar um pouco, estar aqui é o misto de emoções.

Ali fico vendo as estrelas por mais alguns minutos, tentando encontrar a paz que a terapeuta recomendou em meio a elas.

Me viro olhando para a casa atrás de mim, no qual havia uma enorme janela que me mostrava minha família reunida em volta da mesa, parecendo aqueles comerciais de margarina patéticos, até rindo estavam, com certeza é nítido o quanto eles estão bem sem mim.

Volto o foco no cigarro e quando o mesmo acaba, me sinto um pouco mais calma, a nicotina está acabando com a minha saúde... mas não posso negar, em meio a fumaça, ainda consigo encontrar um pouco de forças, para não vomitar tudo o que está preso em mim a anos.

Em meio aos meus devaneios, sinto uma mão percorrer meu braço subindo em direção ao ombro.

— mana, você não deveria se culpar tanto. - meu irmão diz e eu sinto um leve susto acelerar meu coração.

— César Filho... - aconchego minha cabeça em seu ombro.

— Maiarinha... - diz retribuindo o abraço.

— não sei se seria culpa o que sinto a mais de dez anos... no fundo eu sei muito bem quem carrega a culpa de tudo, principalmente por criar um clima de merda desses. - meu olhar fuzila aquela sala.

— você está certa e eu entendo, não sei como seria comigo no seu lugar. - Me lança um olhar compreensivo.

— que bom que entende. - sorrio de canto.

— agora, bem... Vamos voltar para terminar a farsa, eu estou louco para voltar ao hotel e descansar.

— sim claro, mas esperar... Porque está em hotel? Almira e o papai também estão? - digo confusa.

— não, eles estão aqui na casa da Maraisa! Já eu, preferi ficar em hotel, não consigo aguentar a energia que é acordar e não ser 10% da Maraisa. - ele diz e logo gargalha, por conta da piada.

— ai como você é engraçado. - rio junto. — você sabe que essa música é minha né? - dou um leve soquinho em seu direito. - mas hei, vamos buscar suas coisas e você pode ficar o quanto quiser lá em casa. - dou a ideia.

— eu acho melhor não, imagina, não quero acordar com barulhos estranhos durante a noite. - diz em deboche.

— irmão! - lhe dou uma cotovelada e rio indo em direção a sala de jantar.

— ok ok, podemos sim. Se não for muito incômodo, claro. - faz gestos com as mãos de cima para baixo.

— mi casa, su casa mano. - eu falo.

Por incrível que pareça, disfarço bem o quão odiei a presença no jantar e assim que a sobremesa é servida.

— Adeus.

Chamo meu irmão, abraço forte a Maraisa e vamos em direção a minha Porsche, estacionada na garagem luxuosa, da minha irmã e seu noivo. Minha mãe como sempre com cara de quem comeu e não gostou, força um sorriso e claramente desaprova o Cézar Filho ir dormir lá em casa.

— bem, eu não queria ter que pagar hotel mesmo... - disse aliviado quando adentramos o carro.

— eu nem deixaria, rapinha do tacho. - sorrio com ternura enquanto e o mesmo retribui. — sabe irmão, vai ser bom ter sua companhia, ultimamente tenho me sentido sozinha...

— eu sempre gostei de passar tempo com você, quando morávamos juntos na infância...

— aquela época não me traz boas memórias, mas ao mesmo tempo sinto falta. Vai ser bom estarmos juntos, quem sabe não fazemos uma resenha com os amigos, aquela farra boa. - digo enquanto dirijo em direção ao hotel, no qual estava marcando em torno de dez minutos para chegarmos.

— será que temos coluna ainda? - ele ri de mim.

— ih rapaz, só se você não tiver, porque eu, estou na flor da idade ainda. - mostro a língua.

Em tom descontraído, chegamos no hotel, logo meu irmão pega suas malas, coloca no banco de trás da porshe e seguimos para o meu condomínio.

Meu irmão mais novo, Cézar filho Henrique Pereira, nasceu em meio ao caos lá na Flórida, enquanto eu vivia o inferno dentro de casa. Minha mãe descobriu a gravidez logo que nós mudamos para Orlando e quando nasceu, me blindei contra tudo, pois tinha a plena consciência que ele não merecia crescer com o meu trauma, ele precisava ter uma vida boa, cortar os laços e escrever uma história bonita, cheia de sonhos, ver a beleza que a vida oferece e além da minha irmã, ele foi a força que encontrei em viver e ser melhor.

— só não repara a bagunça. - falo, ajudando-o a subir suas malas para dentro de casa. — não poderia deixar de dizer essa frase clichê.

— queria eu ter uma casa dessas... - diz Cézar Filho com os olhos focados.

— trabalha irmão, trabalha. - bato em seu ombro como uma espécie de conselho.

— enfim casa. - digo me jogando no sofá espaçoso e ligo a tv enorme em frente.

Ajudei ele a se localizar na casa, apresentei os cômodos e deixei escolher o melhor quarto para que ficasse bem alojado.

— Aiai enfim cama... - relaxo meu corpo na cama e já ligo o ar, pegando meu celular.

Rodo as redes sociais, respondo a Maraisa, organizo o evento de fim de ano, falo com meus sócios da empresa e minha cabeça trás de volta aquela moça loira, de olhos azuis, eu sei quem é ela, é claro só pode ser mas, porque ela está no Brasil, como ela me achou aqui?

Eu procurei por ela, gostaria de ver como estava mas porque só agora e assim...

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⏰ Última atualização: Jan 17 ⏰

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