PRÓLOGO | Dez anos atrás

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AVISO PADRÃO: CAPÍTULO POTENCIALMENTE SENSÍVEL

Ciel me abraça apertado mesmo enquanto dorme. Tenho a impressão de ser a única coisa sólida para ele, a única coisa real e que não vai machucá-lo... mal sabe que ele é quem é a minha âncora. Sem ele eu já teria desistido, talvez já estivesse até morta como as crianças ao lado da nossa cela.

Nós vamos sair daqui juntos. Relembro-me da mesma promessa que fiz minutos atrás, antes de convencê-lo a cair no sono.

De repente, ele estremece e murmura algo que eu não consigo entender. Aperto-o contra mim e me arrasto para o fundo da cela com ele. Ciel não merece tudo isso, tem só seis anos. Meu pequeno e doce primo... sou só quatro anos mais velha que ele. Porém, desde o momento que tia Angelina soube que estava grávida, fui incentivada a cuidar dele, e a protegê-lo e mimá-lo como a irmã mais velha que me sinto.

O choro de uma criança que ecoa ao longe e me assusta. As celas ao lado das nossas estão vazias. Vimos durante toda essa semana as crianças serem mortas uma por uma a sangue frio. Eu e meu primo somos os próximos, a julgar pela ordem lunática deles.

Dou um sorriso maldoso, pensando em como vou machucá-los antes que sequer toquem um dedo na gente. Em como vou cravar as minhas unhas na pele e nos olhos, não vão conseguir tirar meu primo de mim sem lutar.

Esse pensamento me mantém acordada por algumas horas, ou até minutos, não tenho muita noção do tempo aqui... mas, aos poucos, os dias que passei em claro e cheios de tensão pesam nos meus olhos, e os sinto ficarem cada vez mais pesados. A tentação do sono é tanta que em alguns momentos mordo a parte interna da bochecha para fazer a dor me manter acordada.

Não funciona. Em algum momento, acabo mergulhando em um sono pesado e sem sonhos.

Até acordar com algo sendo puxado de mim com força.

- Ane! - o grito do meu primo ecoa nos meus ouvidos e abro os olhos desorientada, Ciel está sendo puxado para fora da cela pela barriga como um filhote de cachorro, como se não pesasse nada.

- Ciel! - Grito em resposta e me lanço para cima do sujeito que o puxa para longe de mim, cravando com força meus dedos na pele do seu braço. Eu mordo, unho, puxo o cabelo. Mas sou lançada para o fundo da cela com um empurrão que me faz bater a cabeça com força nas barras de ferro.

- Ane! - a voz dele parece distorcida, vinda de longe, levo a mão a boca, tentando segurar o pouco de comida que eu tenho no estômago. Ergo os olhos e vejo com a minha visão turva Ciel agarrando as grades do lado de fora com toda a força.

- Não! - imploro, indo mais uma vez até ele, seus olhos estão tão arregalados que parecem que vão cair para fora das órbitas, lágrimas caem deles em um ritmo contínuo.

- Por favor não - choramingo, segurando com força as suas duas mãos que já se soltaram das grades - Com ele não, por favor!

- A-Ane! - ele berra, nós dois temos a consciência de que a sua mão suada vai escorregando cada vez mais da minha.

E, quando ela finalmente se solta, o momento parece acontecer em câmera lenta.

- Ane me salve! - Ciel soluça, e eu me lanço com força contra as barras de ferro.

- Me levem! Me castiguem! - imploro, sentindo a minha garganta doer em protesto.

- Ane!

- Ciel! - Berro, com a boca escancarada, urrando como um animal, talvez até com esperança de que eles me escutem dessa forma.

Encaro por alguns segundos eles o depositarem em uma mesa de mármore, Ciel se debate tanto que acaba chutando o rosto de um homem encapuzado que tenta prendê-lo.

O Filho de CaimOnde histórias criam vida. Descubra agora