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"Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças."

Sêneca

ANTES

Sinto meu peito apertar.

Não... isso não pode estar acontecendo de novo.

O ar parece começar a desaparecer.

Saio correndo da aula de literatura, minha favorita, e escuto minha professora me gritar ao longe, mas não tenho fôlego para responder e continuo correndo pelos corredores da escola.

Conforme sinto meu corpo esquentar, vou cessando meus passos amenizando o calor e procurando o fôlego que perdi nessa pequena corrida. Olho de um lado para outro procurando alguma coisa que possa fazer parar essa sensação de merda, ainda mais num lugar público.

Porquê não tenho controle sobre mim?

Meu coração está acelerado, não tenho certeza se é da corrida ou pelo que estou sentindo. Minhas pernas mal me respondem, mas continuo caminhando pelos corredores da escola. Vejo as paredes com posters, alguns alunos passando e me olhando e só consigo enxergar nos seus olhos o pensamento: ela está louca. E isso só piora meu estado, ainda preciso recuperar o fôlego. Mas é loucura, não? Pensar que pode enxergar algo nos olhos de alguém e isso te afetar tanto a ponto de só piorar o quer que esteja sentindo. Preciso respirar.

Começo a contagem.

Um.
Dois.
Três.

Meu coração está ainda mais a elerado se é que isso é possível.

Então ainda não consigo respirar.

Um.
Dois.
Três.

Minha cabeça está doendo.

Já é a terceira vez essa semana, por quê?

Um.
Dois.
Três.

Mais posters. Mais pessoas. Ninguém para, apenas me observam.

Um
Dois.
Três.

Prendo a respiração. Como é que me acalmava mesmo?

Expiro.

Ar.

Sinto o ar se esvair quase completamente e inspiro novamente com força tentando recuperar um ar que nem sabia que tinha. Mais pessoas. Corredores.

Preciso ir lá para fora. Ar puro vai ajudar. Lá fora tem ar, não?

Um.
Dois.
Três.

Prendo a respiração. Onde fica o portão?

Expiro devagar. Mas ainda sim, o ar parece ir quase por completo.

Estou com medo. Eu vou morrer?

Inspiro novamente e minha cabeça dói mais. Não sinto o ar. inspiro. Inspiro. INSPIRO.

Ar.

Eu preciso de ar! Merda! Eu vou morrer! Não tenho ar!

E com esse pensamento minhas pernas cedem. Tento me apoiar na parede e percebo o quanto minhas mãos tremem. Coloco minhas mãos em meu rosto e vejo o quanto estou suada.

Odeio essa sensação.

Viro de costas para a parede e apoio metade do meu corpo. Fecho os olhos.

Um.
Dois.
Três.

A sensação de ausência me preeenche.

Um.
Dois.
Três.

Não sinto o ar chegar. Minhas mãos tremem e acho que ainda suo frio.

Isso está me matando. Eu vou morrer.

Parece que tem uma guerra dentro de mim. Uma luta de Eu contra Mim.

Um.
Dois.
Três.

É possível seu corpo estar batalhando para morrer enquanto você busca por um elemento essencial para sobreviver?

O pânico se instala em mim.

Eu me sinto morrer.

Um.
Dois.
Três.

Um calafrio sob por meu corpo.

Ainda apoiada na parede, olho ao redor. Algumas pessoas param para me observar e ninguém faz nada. Tento falar algo e nada sai. Ninguém da vai vir atrás de mim.

Eu estou sozinha.

Um.
Dois
Três.

Eu vou cair. Preciso de apoio. Ajuda.

Minha cabeça pende para trás. Inspiro e meus olhos embaçam.

Droga!

Expiro e o ar parece de dissipar, inspiro novamente para ver se sinto o ar entrar.

Nada! Não sinto nada.

Meu corpo cede e vou parar no chão. Tenho certeza que há pessoas me olhando.

Um.
Dois.
Três.

Olho para minhas mãos tremendo. Tento força-las a parar e não funciona. Eu me odeio.

Não consigo fazer nada. Eu não consigo parar.

Eu grito.

Sinto mais se aproximar, isso apenas por me sentir mais sufocada, mais desesperada, mais quebrada.

Inspira. Expira.

Ar.

Inspira. Expira.

Ar.

Um.
Dois.
Três.

Elas devem ver o medo exalar de mim. E minha visão embaçada, as pessoas girando e com o pouco de percepção que ainda tenho, meu corpo só tem forças para chorar e gritar.

Mas não faço isso.

Os olhares que sinto...

Inspiro.

O olhar delas parecem me queimar.

Expiro.

Meu peito dói, e passo a mão pelo local tentando aliviar. Puxo o ar e sigo sem sentir nada.

Tem muita gente aqui, preciso de espaço mas minha voz parece não ter condições de sair. Então, grito.

Com minha garganta dolorida e falta de ar não consigo por muito tempo e minha voz sai ofegante e angustiada.

Um.
Dois.
Três.

Puxo o ar.

Eles não saem. Acho que estou dando um show e tanto.

Eu vou morrer.

Porquê continuam aqui? Porquê não chama alguém?

Desesperada.

Me sinto presa. Claustrofóbica.

Um.
Dois.
Três.

Olho ao redor tentando focar meus olhos em algo ou alguém. Vejo meros borrões e brilhos passam pela minha visãoe não tenho forças para tentar mais.

Me sinto anestesiada. Parece que cada passo que dei até aqui deixou uma parte minha pelo caminho.

Quando caí, não parecia que era para não voltar mais.

Como se sai de sua própria prisão?

Como se luta contra si mesma?

Um.
Dois.
Três.

Sinto a última sensação de ar se escoar de dentro de mim. Sinto que os calafrios continuam perpassando pelo meu corpo. Minha visão ainda está turva.

Meu peito aperta.

Minha visão escurece.

Eu vou desmaiar.

Eu vou morrer!

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⏰ Última atualização: Aug 22, 2021 ⏰

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