Capítulo Três

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As palavras duras de Odin reverberaram por toda Asgard. E, de fato, Loki permaneceria vulnerável. Temendo receber alguma punição, as curandeiras do palácio se recusaram a cuidar de seu príncipe - sendo que antes o tinham feito com certo receio e por ordens da deusa-mãe.

Eir não negou ajuda, porém também não se comprometeu. Frigga entendia que não era tempo e nem poderia cobrar lealdade de nenhuma delas, uma vez que a relação com Odin estava abalada. Este por sua vez relevou em partes a traição de sua esposa, contando que fosse se cansar de estar à cabeceira de um moribundo. Julgava ser a punição necessária, bem como o iminente luto. Ele a amava e, apesar de tudo, admirava sua determinação e compaixão em relação a Loki - embora que ele nunca fosse declarar isso em voz alta.

Loki havia sido realocado para seu antigo quarto, mas Odin ordenou que guardas fossem dispostos em pontos de fuga e preparados para quaisquer travessuras. Apesar de ter visto e sentido por si mesmo como o filho estava, não duvidava de suas habilidades, muito menos as subestimava.

Pelo corredor, a figura feminina de Liv caminhava em passos rápidos, mas firmes, com uma caixa de insumos.

- A rainha me aguarda. - disse parando diante dos guardas que a olharam e sem dizerem uma palavra, abriram as folhas da porta.
- Minha rainha, com licença. Eir pediu que eu trouxesse o material solicitado.
- Coloque em cima desta mesa ao meu lado. Obrigada, Liv. - respondeu apática.

Tendo disposto a caixa sobre a mesa, a jovem mulher hesitou e antes que pudesse controlar sua boca, pediu:

- Se me permite, eu posso fazer isso - pigarreou duas vezes para limpar sua garganta antes de continuar - Como eu havia dito antes, uma mãe não deve ver um filho dessa forma.
- Você é corajosa, criança. - disse olhando em seus olhos escuros como a noite, brilhantes como estrelas.
- O pai de todos não o proibiu de receber cuidados. As outras estão com medo de serem punidas, dizem que ficou implícito e talvez até tenha ficado, mas a senhora não pode ficar desamparada. Eu me responsabilizo por qualquer coisa que venha a acontecer comigo - sua voz saiu firme, com determinação - É por minha conta.

Frigga não se permitiu recusar aquela ajuda, estava abatida com tudo o que estava acontecendo e se continuasse sozinha, Loki provavelmente não resistiria. Independente das palavras de Odin.

E assim os dias se passaram. Liv se tornou o braço direito de Frigga, que havia lhe confiado a vida do filho. Esgueirava-se da sala de cura para o quarto onde o deus da trapaça, agora mais próximo de um simples mortal, estava para limpar e refazer curativos. Sempre pedia para ficar sozinha quando fosse realizar os procedimentos, afinal era de fato grosseiro para uma mãe ver um corpo tão mutilado como aquele estava.

O silêncio que reinava soberano naquele quarto aos poucos foi dando lugar aos gemidos e ranger de dentes assim que as feridas superficiais começaram a cicatrizar. Seu corpo sofria com violentas crises de febre devido a infecção dos ferimentos mais profundos, o que o fazia delirar. Loki falava coisas como "ele me enganou" ou "ele me obrigou", pedia perdão e vez ou outra murmurava os nomes de Frigga e Thor.

Liv começava achar inútil todo esforço que vinha fazendo. Por algumas vezes pensou em dar fim no sofrimento do infeliz, mas temia ser descoberta e banida para o submundo ou Midgard. Só de pensar nisso seu estômago doía. A relação entre Odin e Loki não era das melhores, mas assassinar seu filho adotivo, por pior que fosse, não poderia ser visto com bons olhos.

Entre pensamentos, em uma manobra mais invasiva, Liv mergulhou dois dedos abaixo das costelas. Pegou um pouco mais de unguento e pressionou para dentro do ferimento. Loki se contorceu e em um reflexo pegou no pulso da jovem na tentativa falha de afastá-la.

- Para! - disse entre gemidos, abrindo os olhos pela primeira vez desde que fora resgatado das masmorras.
- Acalme-se, eu preciso fazer isso.
- Eu não preciso disso, criatura. Eu sou um de... - antes de concluir a fala, desmaiou.
- Parece que não é mais - ela sussurrou entre um leve sorriso.

Finalmente. Pensou aliviada terminando de enfaixar os ferimentos. Não iria mais cogitar matá-lo.

Pelo menos por enquanto.




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Até o próximo capítulo! x

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