Capítulo Quatro

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Os ferimentos mais profundos no corpo de Loki haviam cicatrizado. As crises de febre cederam e apenas ocasionalmente ficava febril. Contudo, ele não despertava. A frase incompleta, "Eu não preciso disso, criatura. Eu eu sou um deus" continha suas últimas palavras e desde então, nem um sussurro, nem um gemido ou delírio; nada saíra de sua boca.

- Loki, o que está acontecendo? - Frigga colocou a mão sobre a testa dele, tentando captar algum pensamento - Nada. Eu sequer sinto você.
- Sinto muito que na ocasião em que ele despertou a senhora não estivesse presente.
- Não sinta, criança. O destino quis assim.
- Hoje terei que ir com as outras aos montes para colher algumas ervas para Eir. Mas assim que voltarmos, passarei aqui para vê-los.
- Faça isso. - Frigga se levantou e lhe deu um abraço desajeitado. Ela nunca tivera manifestado tal ato de carinho para com Liv, que foi pega de surpresa, porém retribuiu.

As folhas da porta do quarto se abriram, dando espaço para o filho mais velho, Thor, entrar e contemplar a cena.

- Com licença. - a garota fez reverência para os dois, permitindo-se olhar nos olhos de Thor antes que deixasse o quarto.
- Minha mãe, - o deus falou acolhendo a mãe nos braços - não deveria ter confrontado o pai de todos dessa forma. - pressionou os lábios sobre os cabelos dourados da mãe - Mas estou grato que o tenha feito.
- Você compreende! - Frigga se afastou para ver seu rosto.
- Eu acredito que Loki não seja de todo mau. Enquanto estávamos lutando na terra, eu vi lágrimas em seus olhos. Ele parecia hipnotizado. Ele me esfaqueou em seguida, mas o fato é que Loki controlou uma porção de pessoas com o poder daquele cetro. Não há garantias de quem quer que lhe tenha entregado esse poder não tenha feito a mesma coisa com ele.
- Sem contar tudo que aconteceu antes...
- Esse é o meu ponto. Loki estava cego de ódio e perdido em seu ego. Qualquer oportunidade de vingança ou a promessa de um lugar onde governar seria bem vista por ele. Não estou tentando retirar a responsabilidade dos seus atos, mas demonizá-lo também não parece justo.
- E foi justo facilitar a entrada de gigantes de gelo no cofre de armas?
- Meu pai... - Odin o interrompeu chocando Gungnir contra o chão.
- Foi justo tramar contra o herdeiro legítimo do reino e tomar o trono de Asgard? Ele foi justo ao enviar Laufey para me matar? Loki não fez nada além do que pedia a sua ambição.
- O senhor também foi justo quando escondeu dele sua verdadeira origem? Ou ao me favorecer por todos esses anos?
- Você questiona o seu rei?! - Odin elevou sua voz, furioso.
- Eu questino o meu pai! - Thor respondeu na mesma tonalidade.
- Por favor, essa discussão não os levará a nada! - a rainha se colocou entre os dois.

O silêncio desconfortável preencheu o quarto. Os três se pegaram presos em seus pensamentos, sem saberem o que dizer ou como corrigir aquela situação da melhor forma possível. Naquele momento tudo parecia coberto por uma névoa densa e sem saída.

- Loki é um prisioneiro de Asgard, - Odin começou - e deve ser tratado como tal. Libertá-lo é o mesmo que liberar energia do caos deliberadamente pelos nove reinos. Essa é a decisão que o futuro rei de Asgard tomaria?
- Meu pai, eu não estou falando sobre libertá-lo sem mais nem menos. Loki precisa de ajuda. Veja o que ele fez a si mesmo. Conheço o meu irmão e ele é egoísta demais para tentar tirar a própria vida - Odin fez uma expressão como quem concordasse.
- Eu permiti que recebesse os cuidados necessários em consideração a minha adorada rainha, mesmo após desobedecer minhas ordens. - ele virou seu olhar para ela - A vida de Loki está nas mãos do destino. Se for merecedor, então viverá.

Após Odin proferir essas palavras, Loki despertou. Como se estivesse sendo resgatado de um afogamento, aspirou uma grande quantidade de ar, sentando-se no seu leito, exausto.

- Mãe? - desnorteado, ele chamou por Frigga antes de erguer a cabeça e observar as três figuras divinas em pé e surpresas diante dele.
- Thor, procure por Liv, a garota que estava aqui. Ela foi aos montes colher ervas para Eir. Vá! - Thor girou o Mjölnir em seu punho e alçou voo através das folhas da janela do quarto.

Momentos antes, nos campos, Liv iniciava a tarefa de seleção e colheita das plantas. Conseguia enxergar além dos olhos, podia ver a energia que emanava das folhas, - e o pólen, que para os outros não passava de um pó, aos seus olhos saltava como pequenas faíscas de fogos de artifício ou então as estrelas do céu de Asgard. A aparência variava de espécie para espécie. O contato com aquelas plantas era de longe um dos seus momentos favoritos, sentia-se energizada, renovada.

- Pensei que Eir fosse mais rígida quanto a quem designava para colher suas ervas... - Zemina, uma das aprendizes que estava mais distante, elevou a voz para que todas, inclusive Liv, conseguissem ouvir - Nunca imaginei que enviaria uma serva, muito menos a serva de um prisioneiro - o comentário ácido fez as demais sorriram.
- Da mesma forma que permitiu guerreiras fracassadas. - Liv revidou a provocação, sem ao menos erguer os olhos para ela.

De fato, Zemina era uma aspirante a Valquíria que fracassou nas etapas iniciais de sua preparação. Tinha o porte de uma físico de uma guerreira, mas pouca habilidade em montaria e na arte da guerra.

- Ora sua insolente, eu vou... - antes de terminar a frase, o deus do trovão desceu dos céus, chamando por Liv.
- O que houve?
- Apenas venha comigo agora!

Thor a segurou pela cintura e tão rápido quanto pousou, subiu aos céus com a jovem mulher, deixando Zemina e as outras aprendizes incrédulas.

Ao chegarem ao palácio, Liv observou descrente Loki sentado em seu leito, finalmente desperto. Como?, pensou. Frigga usou sua magia para dar à Liv roupas limpas, bem como retirar qualquer vestígio de impureza do seu corpo.

- E o que esta criança pode fazer a respeito? Guardas! Chamem Eir imediatamente!

Enquanto Frigga explicava a Odin quem era e o que a jovem vinha fazendo, Liv fez com que Loki repousasse de volta para que pudesse vê-lo através da forja de almas. As vozes encheram o quarto, provocando estresse no corpo do deus, que foi perceptível tanto na projeção como nele mesmo.

- Por favor, vou ter que pedir que saiam ou que façam silêncio. - Liv falou antes que pudesse controlar sua boca, fazendo Odin lhe jogar um olhar mortificante, embora surpreso com seu modo firme de se expressar, mas ela não se abalou ou pelo menos não demonstrou - Temo que essa agitação possa fazê-lo cair em sono profundo novamente.

Thor e Frigga se entreolharam, seus rostos ainda inexpressivos com a fala da jovem. Até Loki levantou a cabeça para ver o rosto dos demais.

- Vamos - a rainha convidou abrindo os braços indicando o caminho em direção à porta. Assim que todos haviam saído, a jovem tomou uma respiração e começou:
- Você deve estar se sentindo desorientado. Por favor, fique deitado e não se mova - disse voltando a manipular a forja - Você sabe me dizer a última coisa de que se lembra?
- Eu me lembro... - ponderou por uns instantes - de você pensando em me matar.

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⏰ Última atualização: Sep 09, 2021 ⏰

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