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O choro de Cassian e Dayliz começou baixo, baixo como o uivar do vento noturno.

Nenhum dos dois se deu conta quando as lágrimas começaram a rolar, molhando o papel. Na verdade, os dois só se deram conta de que o choro ficou mais alto e dolorido quando a carta chegou ao fim, e os dois foram levados para dentro, e enquanto Crysthal abraçada a irmã, Rhysand e Azriel davam apoio a Cassian, entretanto, Cassian e Dayliz estavam abraçados, e não pareciam interessados em se largarem.

Cassian soluçava a ponto de fazer todo o sofá tremer e Dayliz, chorava tanto a ponto de fazer a parte da frente de seu pescoço em menos de minutos, ficar completamente molhado.

- Está tudo bem...-Murmurou Crysthal.

Dayliz negou, e Cassian afundou o rosto nas próprias mãos, chorando.

- Minha mãe se orgulhava de mim...

Dayliz chorou mais forte. Seu coração afundado em desgosto, tristeza e receio. Sentia como se todas as suas dores estivessem reunidas em um único sentimento. Como se todas os males de sua vida, estivessem se passando no mesmo momento: A fome, o abandono no altar, a morte de Aramintha, a despedida de suas irmãs, e o sentimento de vazio, mas até o vazio doía.

Afinal, Vazio, era Vuoto e... Não.

Dayliz se recusava a pensar em sua mãe como sendo vazia. Não quando nunca havia chamado Aramintha de mãe, e não quando sua mãe havia morrido se lamentando.

Esse pensamento era o que mais doía, o que mais cortava e o que mais incomodava; o pensamento de que ela morreu com dor, se sentindo mal, culpada e insuficiente. Ela morreu temendo que seus filhos tivessem vergonha dela. Mas como poderiam?

Como poderiam sentir vergonha, quando Cassian era quase idêntico a ela e quando toda a força de Dayliz havia saído dela?

Dayliz então pegou o papel por inteiro as mãos de Cassian, que assim como o demais, a olhou e fazer algo que nenhum deles estavam esperando.

Ela cheirou a carta, absorvendo o máximo de perfume que conseguiu, e ficou satisfeita ao sentir ali, o cheiro que esperava; o cheiro de sua mãe. Era algo que ia entre amaciante para roupas, carne assada, tecido e...

Antes que pudesse absorver mais, Cassian roubou e foi sua vez de cheirar, enquanto ainda chorava. Ao contrário de Dayliz, ele falou em voz alta:

- Amaciante, carne, tecido e margaridas

Dayliz sentiu as lágrimas ainda rolarem.

- Minha mãe tinha esse cheiro... -Disse mais para ela mesma do que para qualquer um.

De repente, o mundo de Dayliz parou, ela se levantou e sentiu como se fosse cair, mas foi apoiada por Cassian.

- Onde está o macho responsável por isso?

Todo o chão começou a tremer, e por isso, Crysthal se levantou se pondo ao lado da irmã, tentando acalmar a mesma.

- Ele já está morto. Agora, podemos ir em um lugar?

Dayliz parou por um momento e seguiu ao lado do irmão, para o lugar que ele mantinha em segredo.

O lugar era escuro, sujo e velho.
Tão feio que parecia um lugar a parte da Corte Noturna. Haviam grandes pedregulhos, prédios abandonados e objetos como garrafas de vidro e papéis de comida no chão.

- Que lugar a esse?

A pergunta de Dayliz foi feita enquanto ela olhava tudo e Cassian acendia uma fogueira em um lugar próximo, onde aparentemente, outras já havia sido acesas antes.

- É um dos meus lugares favoritos para ficar sozinho. Eu gosto de... -Se levantou.- Relaxar aqui.

Ao olhar a maioria dos objetos destruídos, Dayliz olhou o porte de seu irmão e sentiu pena das pedras.

- E me trouxe aqui para isso?

Cassian assentiu, escondendo o nervosismo.

- Achei que pudesse te acalmar, já que isso geralmente me acalma.

Dayliz apenas olhou para ele, e de repente, o nervosismo de Cassian se agitou.

- Se você não quiser, ou não gostou...-Cassian se interrompeu.- Talvez você nem goste de treinar, e... Quer saber, nós podemos...

Porém, Cassian não chegou a terminar, pois Dayliz o cercou com um abraço. Um abraço bom, forte e acolhedor, como quem abraça um amigo a muito tempo perdido.
Quando Cassian achou que não podia melhorar, ela sussurrou em seu ouvido:

- Nossa mãe estaria certa em se orgulhar de você, você é digno de todo o orgulho do mundo, irmão.

O coração de Cassian se encheu de alegria, e os olhos dele se afundaram em lágrimas, assim como os dela.

- Enfim...-Dayliz enxugou as lágrimas, saindo de abraço.- Por onde começamos?

Cassian se afastou, ficando em posição.

- Aquecendo.

Havia se passado algum tempo; mas nem Cassian, nem Dayliz souberam dizer quanto ao certo, só souberam que o sol tinha nascido quando ambos haviam destruído quase todo o lugar

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Havia se passado algum tempo; mas nem Cassian, nem Dayliz souberam dizer quanto ao certo, só souberam que o sol tinha nascido quando ambos haviam destruído quase todo o lugar.

Os dois voltaram para casa suados, cansados e se sentindo excelentes. Era como se todos os pesos tivessem sido tirados, e substituído por algo alegre que corria pelo corpo dos dois.

Assim que Dayliz chegou em casa, Crysthal ajudou a ir para o quarto de hóspedes, e apesar de estar quase inconsciente de sono, conseguiu contar para a irmã tudo o que aconteceu com ela, e conseguiu ouvir sua irmã explicar que teria que ir embora, pois seu trabalho estaria começando, mas, jurou que iria voltar a vê-la, e como garantia, deixou anotado no pulso dela, seu novo endereço.

Após se levantar e cobrir a irmã, foi até o quarto de Mor.

Horas se passaram com carícias e mimos de Mor, mas, por fim, Crysthal teve de arrumar suas coisas, após explicar para sua amada que seu trabalho começaria no dia seguinte.

- Duas semanas...-Murmurou Mor.

- Eu sei que é muito tempo...-Ronronou Crysthal, aconchegada no colo dela.- Eu prometo que vou te escrever todos os dias, prometo.

Mor sorriu para ela, e a beijou, prometendo em seguida responder todas as cartas com a melhor caligrafia que tivesse.

O problema, é que Crysthal não contou duas coisas: A primeira, é que seu novo trabalho se encontrava na Corte Outonal, a segunda, é que o dia de seu aniversário se aproximava.

Corte de Luz e BençãosOnde histórias criam vida. Descubra agora