Trinta e Sete

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Quarta-feira, 19 de outubro de 2013.

Manhã.


Meu nome é Ruby Rose Langenheim, nasci em 20 de março de 1986, tenho 27 anos. Minha mãe se chama Katia, não falo com ela há alguns meses e não tenho pai. Sou australiana de Melbourne. Tenho 1,70 de altura, peso em torno de 50 kg por conta da cocaína. Não me lembro o motivo de ter vindo ao hospital, só sei o que minha melhor amiga Tuty me contou. Sou vendedora, bartender, aspirante a DJ, já lutei por algum tempo e moro com minha melhor amiga faz bastante tempo. Escrever esse texto é inútil porque eu sei quem sou, só não sei o que aconteceu nos últimos dois meses. Lembro de agosto e me dizem que é outubro, dizem que terminei com a minha namorada, que estou com outra garota e que fiz 3 amigos. Como eu esqueci de terminar com Sophia? Como esqueci de uma garota com quem transei mais de uma vez?


-Olá senhorita Langenheim, como está se sentindo? - Uma nova enfermeira entrou no quarto.

-Pode me chamar de Ruby. - Os lábios carnudos dela me chamaram atenção. Que mulher linda era essa que viera cuidar de mim. Eu a deixaria cuidar de mim uma madrugada todinha.

-Certo. Ruby. - Ela sorriu.

-Respondendo a sua pergunta, estou melhor agora que você chegou. - Sorri e dei uma piscadela.

-Flertando comigo? - Ela não pareceu ofendida, mas sim entretida.

-Sim e da pior forma possível. - Admiti. - Pareço um homem velho.

-Você é muito mais bonita do que qualquer homem. - Ela piscou pra mim.

-Muito bom saber disso, enfermeira...?

-Tessa, pode me chamar de Tessa.

-Um nome lindo para uma mulher linda. Droga, continuo parecendo um homem de meia idade que recém separou e não sabe mais elogiar uma mulher.

-Não se preocupe, vindo de você, qualquer elogio serve. - Ela seguiu para a bolsa de soro e para a prancheta com anotações dos medicamentos.


Não conseguia tirar meus olhos dela, mesmo com jaleco e o cabelo preso, a gente sabe quando uma mulher é linda. Tessa me encarou de volta, pareceu gostar de olhar para meu corpo esquálido e minha cara acabada. A porta abriu de repente e Tuty entrou às pressas.


-Até que enfim deu o horário de visitas! - Minha amiga interrompeu meu momento com Tessa.

-Oi pra você Tuty. - Mesmo interrompendo, ela estava certa, até que enfim chegara o horário de visita.

-Vou deixar vocês a sós, me chame se precisar. - Tessa sorriu de forma sedutora antes de sair do quarto.

-Você está flertando com a enfermeira?! - Tuty mal esperou a porta bater para me censurar.

-Estou hospitalizada, mas não estou morta.

-Não está morta, mas está comprometida.

-Se eu não lembro, não posso estar.

-Coitada da Demi. - Tuty suspirou e se sentou na cama.

-Eu não posso fazer nada se não lembro.


Houve um curto momento de silêncio entre nós duas. Demetria deveria ser muito importante para Tuty ficar tão ofendida. Mas, eu não ia recuar, não vou ficar parada esperando minha memória voltar.


-O que é isso que estava escrevendo? - Tuty quis puxar a caderneta do meu colo, mas não deixei.

-O médico mandou que eu anotasse coisas de mim que me lembro. E é inútil. De que adianta escrever que gosto de vermelho, filmes de comédia, romance policial, não gosto de chocolate... Esse é o tipo de coisa que eu converso pra quebrar o gelo com garotas, não é isso que vai fazer minha memória voltar.

-Acho um bom exercício. É insano você só lembrar do começo de agosto. A gente conheceu a Demi e todo mundo, duas semanas depois da sua última lembrança.

-Você acha que está mais frustrada do que eu? Não está.

-Você está certa, me desculpa.

-Tudo bem. - suspirei. - Me conta da sua vida, chega de querer me fazer lembrar.

-Ainda trabalho no salão, estou ficando sério com a Selena que obviamente você não lembra, tenho dado teto à Demi, que você não lembra e vivo preocupada com você. – Tuty sempre estaria preocupada comigo, mesmo se eu não estivesse no hospital. Por isso sempre considerei Tuty como minha família.

-Não acredito que você está namorando.

-Eu te disse que a Demi está quase morando na nossa casa, mas o seu foco é em mim?

-Não é a primeira nem última pessoa LGBT que a gente dá teto. - Dou de ombros.

-Não te incomoda saber que você está flertando com pessoas, enquanto a garota que você namora está dormindo na sua cama? – Tuty quis pegar pesado. Namorando? Eu lembraria disso.

-Por que ela está na minha cama?

-Por que não estaria?

-Agora isso tá estranho. Ela não pode estar lá quando eu voltar. Não posso lidar com isso.

-Nós sabemos. Todos concordaram em ficar longe de você, não entrar em contato até que você comece a lembrar das coisas.

-Que péssimo, tem um grupo de pessoas falando sobre mim e sobre coisas que eu nem sei que aconteceram.

Cool For The SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora