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RAFE CAMERON

             Meu corpo inteiro estava cansado quando eu amanheci na quarta-feira. Apesar de estar exausto, minha preocupação permaneceu pois havia enviado mensagem na noite passada para Ivy perguntando se ela tinha chegado bem e desde então não havia tido retorno.

Pela manhã, não vi Ward e nem Sarah, somente Wheezie que estava concentrada em algo no celular, seus dedos digitavam de forma rápida e ela parecia empolgada com o que estava no visor do aparelho.

— Onde está Ward? — Questiono não o vendo na mesa e aproveito para esticar a mão e pegar uma maçã na fruteira.

Meu estômago doía de fome.

— Saiu cedo, ele disse que iria resolver algumas coisas.

Estranho.

Dei de ombros estranhando o sumiço de Ward e resolvi ocupar minha cabeça com alguma coisa. Apesar de estar preocupado com Ivy e querer ir atrás dela, optei por passar uma boa parte do meu tempo ocupado.

Ocupado em procurar um psicólogo e um grupo de apoio.

Depois de diversas ligações, acabei encontrando uma psicóloga que é de Outer Banks mesmo e lhe enviei mensagem, perguntando como funciona e ela me enviou algumas informações, como o valor e de quantas vezes funcionam as consultas.

O meu Rafe de agora sentia-se orgulhoso de procurar ajuda e de encontrar, diferente de muitos que não possuem e não possuíram a oportunidade que eu tive.

Boa parte desse incentivo vem de Howe e um sensação quente preenche o meu peito ao me lembrar dela.

Durante a conversa com a psicóloga, ela questionou se eu estava interessado em ter uma consulta de graça somente para conhecê-la e nós trocarmos um papo.

Aceitei na hora e marquei de ir até a sua clínica ainda hoje.

Eu sei que essa é uma decisão que irá mudar minha vida.

E eu estou pronto pra isso.

...

A clínica da doutora Fischer não é tão longe de casa, é cerca de uns dez minutos andando. O local é muito bem organizado e quando chego, uma moça simpática logo me atende e pergunta qual o horário da minha consulta.

Informo todos os dados para que ela possa realizar meu cadastro e depois de cinco minutos, a doutora Fischer aparece na porta com um sorriso simpático nos lábios e noto quando ela me reconhece, em seguida, me chamando para entrar na sala.

Minhas mãos tremem e meu coração acelera quando levanto e sigo para sua sala.

É como se eu estivesse na quinta série e indo para o médico, ou algo do tipo.

Meu coração bate tão forte que por um mero segundo, penso que ele vai pular da caixa torácica.

— Rafe Cameron, certo? — Questiona com os olhos fixos em uma prancheta e parece ler rapidamente minha ficha. Ela ergue o rosto e indica a poltrona para que eu sente. — Não precisa se preocupar, só é uma conversa.

Sua voz é tão calma que faz com que eu sente na poltrona e relaxe, Amanda Fischer é uma psicóloga com um sorriso empático no rosto, acredito que ela deixe seus pacientes confortáveis e a vontade.

É isso que sinto no momento.

— Então Rafe, vamos começar? — Aceno com a cabeça, sentindo meus músculos se contraírem e ela parece notar. — Antes de iniciarmos, o que acha de fazer um exercício de respiração?

Eu aceito e sigo suas instruções.

A doutora Fischer soube conduzir muito bem a nossa "conversa" que durou ao menos uma hora e meia. E apesar de ter sido um "test drive" somente para conhecer, resolvi fechar um pacote para me consultar com ela.

Todo o estereótipo que eu tinha formado na cabeça se foi, a nossa conversa me rendeu boas reflexões e de início, minha garganta estava entalada e tentei segurar o choro muitas vezes, no entanto, em um determinado momento, deixei minhas dores expostas.

E apesar de ter sido o nosso primeiro encontro, a doutora Fischer me deixou muito confortável e fez perguntas de minha vida, minhas relações interpessoais e de como são meus pais, como eu os trato e como sou tratado.

Quando saí da consulta, meus olhos estavam inchados e pela primeira vez, não era de cocaína.

Eram lágrimas que há muito tempo queriam sair, estavam quase me afogando.

Parecia que um enorme peso havia saído de minhas costas e lá no fundo, sabia que estava ansioso para próxima consulta. E mesmo com esse primeiro passo, sabia que o caminho era longo para superar tudo o que passei e que seria um processo, um pouco lento, mas aos poucos estaria se resolvendo.

Encosto no balcão da clínica e aguardo a moça — que nesse momento está atendendo outra pessoa no telefone — e aproveito o momento para checar meu celular, verificar se há algum sinal de Ivy e meu peito se aperta quando noto que nem minhas mensagens de ontem foram visualizadas.

Muito menos qualquer retorno de ligação.

Estava pronto para apertar o botaão de "ligar" quando uma voz me chama:

— Rafe? O que faz aqui? — Reconheço a voz feminina na hora e ergo os olhos a ponto de enxergar uma Charly com um sorriso nos lábios.

— Ah, vim para minha primeira consulta com a doutora Fischer. 

— Sério? — Entona com a voz cheia de empolgação e ela se aproxima de mim, encostando o braço ao lado do meu. — Eu comecei me consultando com ela faz pouco tempo, a Amanda é uma ótima ouvinte.

Seus lábios se curvam em um sorriso e ele não atinge seus olhos, como se fosse um sorriso triste.

Algo que ela esconde.

— Charly Heymann. — A voz da doutora Fischer chama pela garota ao meu lado e antes que ela vá, Charly se curva para dizer algo para mim.

— Depois podemos nos falar? Sei que nesses dias você voltou de Charleston, qualquer coisa podemos marcar de nos encontrar. — Dá de ombros e assim segue pelo corredor, indo em direção à sala da doutora Fischer.

Por mais que uma parte de minha vida esteja se resolvendo, minha mente insiste em me questionar e só uma pergunta ronda minha cabeça:

Onde caralhos Ivanna Howe se meteu?

𝐒𝐔𝐌𝐌𝐄𝐑; RAFE CAMERON ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora