08. Meu passado.

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-Eu era apenas um bebê, e fui abusado por anos. Anos e anos. Tudo só foi para quando eu completei 12 anos e fugi de casa.

Ainda não conseguia acreditar. Eu queria chorar. Eu queria muito chorar. Isso não devia ter acontecido com ele. Não com ele. Não com esse homem alegre que sempre tem a porra de um sorriso maldito e perfeito no rosto. Esse homem está sempre alegre e sempre transmitindo tanta paz.

Quão grande é o inferno dentro dele?

-Ele...ficou com minha guarda depois que minha mãe se matou. Ela pulou do vigésimo quinto andar, morreu na hora. -Hoseok parecia ter dificuldade em contar. Eu não queria força-lo. Contudo, estava em choque. Nenhuma palavra saia de minha boca. O que eu deveria dizer? O que tenho que fazer? Eu ainda não consigo acreditar em tudo que ele está me contando.

Abusado. Hoseok era abusado quando criança pelo próprio pai. Durante nove anos. Nove anos vivendo no inferno. O que eu passei não parece nada comparado ao dele. Me sinto tão hipócrita e egoísta por tê-lo julgado.

-Tenho as marcas de queimadura de cigarro nas costas, por toda ela. Tenho, marcas de cortes profundos nas pernas. Passei dez anos tendo crise de pânico e sete tentativas de suicidio falhas. Eu só consegui me recuperar depois que comecei a fazer terapia e entrei na faculdade. Me formei em três anos por ter me dedicado ao máximo a isso. Estudei dia após dia. Não parei pra nada. Avancei 4 anos e me formei.

Hoseok era inteligente. Nunca tive dúvidas. Desde que nos conhecemos eu soube que ele era muito mais esperto que os outros. Avançar 4 anos em uma faculdade como a dele é realmente impossível. Não para ele, eu quero dizer.

Me senti curiosa em ver suas marcas. Marcas de um sobrevivente. Sei que nunca as verei. Ele nunca me mostrará e eu entendo perfeitamente. Só gostaria que ele soubesse que isso o torna o homem mais forte do mundo pra mim.

-Tenho vinte e oito anos e nunca superei isso. As vezes, eu acordo de madrugada assustado achando que ele está em cima de mim mesmo o desgraçado estar a sete palmos de terra abaixo.


-Você o matou? -Nem sei como consegui perguntar algo. Tudo dentro de mim estava estranho.

Hoseok negou com a cabeça e isso pareceu ser a única coisa que ele diria sobre o assunto. Seus ombros estavam caídos e os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto seu olhar ainda estava fixo no chão de terra. Seu tom de voz, parecia controlado em excesso. COmo se precisasse só de um deslize para colocar tudo pra fora. Ele queria chorar e eu sabia bem disso. Ele pode chorar, ele não precisa ter vergonha disso.

Fico aliviada de que esse monstro esteja morto. Não sei do que seria capaz se o visse em minha frente. Sinto meu corpo aquecer. Ninguém pode machucar Hoseok. Ninguém!

-Nunca me envolvi com ninguém. Sei que sentiram nojo de mim. Nojo de me tocar, de me amar ou de sequer me olhar depois de escutarem tudo que tenho pra contar. Exatamente como você vai fazer depois...

-Não! Eu, eu nunca vou fazer isso! Você não precisa do meu julgamento por algo que não é culpa sua. E nojo? Por favor Hoseok, eu nunca sentirei nojo de você.

Mesmo assim, ele não conseguia me olhar. Se impedia de sequer virar a cabeça em minha direção. Quero abraçá-lo. Quero fazer Hoseok se sentir amado e ter um lugar para chorar. Tudo que esse homem deve querer na vida é carinho, muito carinho e segurança. Hoseok deve desejar se sentir seguro. Provavelmente ele virou Psicólogo depois de tudo que passou. Foi uma maneira de conseguir controlar sua própria mente. E ele fez um ótimo trabalho. Hoseok foi incrível em seu próprio tratamento.

Quando vou conseguir dizer tudo isso pra ele?

-Não sinta pena de mim. Estou apenas te contando isso, pois aquelas crises que você teve ontem, foram as que eu tive. E eu não tive nenhuma ajuda, foquei tudo em estudar e depois em ajudar outras pessoas que passaram pelas mesmas coisas que eu. Busque uma válvula de escape. Busque algo que te faça focar toda a sua atenção naquilo. Aprenda algo e invista nisso, e só assim, você vai conseguir sobreviver a tudo isso.

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