Eu & Eles

III. Eu

ATENÇÃO
Essa história contém gatilhos de transtornos alimentares, depressão, ansiedade, problemas familiares e tentativa de suicídio. Caso se identifique com algum dos sintomas apresentados, por favor, procure ajuda profissional! E lembre-se: você não está sozinho nessa luta.

Por favor, se você não estiver em um bom dia, não leia esse capítulo! 

1979 - Novembro

James abraçava Lilly e fazia um carinho singelo em seu ombro.

Os dois estavam nus, deitados na cama em um silêncio pós-sexo quase tranquilo. Pelo menos parecia. 

Mas nunca estava.

Pela janela do quarto, o sol daquele fim de domingo fazia uma cortina dourada, mostrando a poeira suspensa no quarto. Pequenos diamantes criados pela luz.

Aquilo também contribuia para o ar tranquilo do local, onde o casal sempre tentava se refugiar do mundo, dos seus problemas.

Veja bem, vamos entender. James e Lilly não eram exatamente um casal cheio de fogo e libido e tudo mais. A depressão, a ansiedade, a bulimia, ela faz isso com você: te tira tudo aos poucos, pedaço por pedaço.

O que queria dizer que sexo era uma forma mais de fuga, de compensação do que um momento de prazer, de confiança, de carinho.

E quem precisava da fuga naquele dia era Lils, depois de uma visita horrível que tinha feito à irmã e ao seu marido detestável. Só tinha ido por insistência dos pais e foi péssimo.

Petúnia não parava de falar merda atrás de merda. Sobre ela ser uma bruxa, sobre ser gorda, sobre seu cabelo ser laranja demais, sobre ela morar com um cara com quem nem era casada.

E o pior — aquilo que doía mais fundo — era ver o silêncio dos seus pais, em um concordar mudo. Eles não ousavam criticar a incrível filha bruxa, ao menos isso eles discordavam de Petúnia.

Porém o resto…

E James sabia de tudo isso. Estava ali por ela.

Não de uma forma exatamente saudável, mas estava. Ele fazia o melhor que podia com as ferramentas que tinha no momento.

Eram poucas, sim, mas mostravam o quanto ele amava a ruiva, no fim.

Ele beija o topo da cabeça dela, como sempre fazia, um toque só deles. Um que queria dizer “te amo e estou aqui por você”.

— Devíamos levantar, lírio. Sirius e Remus devem chegar daqui a pouco. — ele sussurra contra o cabelo cor de fogo.

— Só mais dois minutos. — ela resmunga, afundando o rosto contra o pescoço do namorado.

O moreno sorri, apertando-a mais contra si, antes de se sentar na cama, ouvindo-a resmungar. Lilly sempre ficava meio letárgica depois de transarem, como se demorasse para voltar à realidade.

— Vamos, Remus prometeu trazer a torta de carne especial dele. — ele vira pra ela, cutucando-a na coxa, tentando fazer graça.

— Droga, eu amo a torta do Remmy. — a ruiva suspira, se dando por vencida e levantando também. — Vou escolher um vinho decente dessa vez, pois você escolheu um péssimo no último jantar. Você definitivamente não sabe combinar bebida e comida. 

— Ei! Não é culpa minha se você e Sirius são sommeliers, ou sei lá o nome para especialistas em vinhos. Moony concorda comigo, vinho é vinho. Existe o docinho, o mais amargo e o branco. Simples assim!

— Por isso mesmo deveriam se calar e deixar eu e Six escolhermos em paz, não vai fazer diferença mesmo para o paladar pobre que vocês tem. — ela zomba, e ganha uma careta indignada do namorado.