Capítulo III - Elephant Gun

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Deem play na música ao começar a leitura e depois, se quiserem, leiam o significado da letra na descrição desse vídeo no Youtube. É um tanto confuso, mas dá para depreender alguma coisa. Aproveitem a leitura!

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A assombração da noite anterior permeou todas as conversas e brincadeiras das crianças. Angelique era a única cética a respeito do assunto, enquanto os outros demonstravam-se empenhados em desvendar o mistério.

Ainda estava muito cedo. Todos trabalhavam, exceto as crianças que permaneceram dormindo.

            Certa hora, ainda ao alvorecer, Alfonso colocou-se para fora da cama. Tomou um pouco de leite e assim que os primeiros raios de sol apareceram, ele enfiou-se entre as videiras. Sentou debaixo de uma modesta sombra, recostado nas trepadeiras carregadas de frutos. Jogava as uvas caídas no chão de um lado para o outro, distraindo a si mesmo.

            Absorto, sequer percebeu que suas costas se encontravam muito confortáveis para estarem reclinadas apenas sobre o fino e retorcido tronco de uma videira. Alfonso, então, ouviu um ruído, sentindo algo mexendo, tocando-lhe o dorso.

            Um par de olhos azuis pousou sobre ele. Quando os viu, estremeceu imediatamente, à exceção de seu coração que resolvera apressar as batidas. Não via um rosto, apenas o olhar de alguém que se escondia entre as árvores.

            Alfonso recuou. Hesitou por segundos, mas resolveu tomar coragem. Levantou, passou entre as parreiras e encontrou-se, por fim, frente a frente com a dona dos olhos tão azuis.

            Seu coração, que já quase saíra pela boca antes, agora havia acelerado ainda mais.

            Ela ainda era uma criança. Nem mesmo um traço de mulher adulta possuía, exceto por aqueles olhos.

            Não lhe ocorreu nenhuma metáfora capaz de ilustrar o que eram os olhos dela, tampouco foi alcançado por algo digno de descrever o que experimentou ao vê-los. Mas o ar tornou-se rarefeito, a pressão atmosférica pareceu diminuir ainda mais e o horizonte, às costas dela, perdeu saturação e contraste.

            Para Alfonso, pelo menos.

            "Gostaria de ter o estilo poético de Diego", ele pensou, pouco antes de ser interrompido.

            Ora, a menina de olhos arrebatadores também falava.

- Você é o Alfonso? – A voz dela, apesar da tenra idade, ostentava tamanha intrepidez que fez o outro quase apavorar-se.

- E-eu? A-Alfon-fonso?

- Sim, foi exatamente isso que perguntei. Seu nome é Alfonso?

Ele permaneceu calado, completamente em desatino. Havia esquecido o próprio nome diante da única figura feminina capaz de lhe roubar o ar.

- Não vai me responder? – Ela insistiu mais uma vez.

            Inapto para falar, Alfonso escapou dali, correndo. Meteu-se na varanda de casa, buscando observar, entre o engradado de madeira que cercava o espaço, a garota com ares de superioridade com quem acabara de ter um breve contato.

            Sentia-se bobo, tomado por tamanha ansiedade para vê-la novamente.

            Em sentido contrário, Anahí caminhava de volta para a casa onde estava hospedada com a mãe. Esta, por sua vez, acordara sem encontrar a filha e colocou-se a procurá-la, alcançando sucesso apenas quando a menina decidiu retornar.

Primeiro Cálice: Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora