Capítulo IV - O natal de 1972

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- Desce daí. - Pediu; os olhinhos verdes mais incandescidos do que nunca pelo sol e pela imagem dela.

- Não posso. - Ela retrucou, dando de ombros, manhosa.

- Você não consegue? - Alfonso referia-se à Anahí na árvore.

- Consigo, claro que consigo. Mas é que é muito difícil para subir aqui de novo.

- Então não suba.

- Mas eu ainda não quero descer, Alfonso.

- Por que você complica tudo?

- Anahí!

Os dois tiveram suas atenções desviadas por uma voz feminina que chamava por Anahí. Deram conta de que Olívia procurava a filha.

- Por que você saiu correndo, Anahí? - Com as mãos na cintura, a expressão de Olívia revelava uma profunda repreensão.

- Não me sentia bem.

- Escute, precisamos buscar nossas coisas para trazê-las para um quarto aqui. - Determinou Olívia, coçando a têmpora.

- Como hóspedes? - Inqueriu a menina, desafiadora.

- Para, apenas para! Você não quer me tirar do sério, Anahí. Você não quer!

- Eu não vou buscar nada. Só buscarei alguma coisa se for para ir embora daqui.

- Chega! CHE-GA! Eu já tenho problemas demais para continuar lidando com uma garotinha impertinente e desaforada como você! Eu sou a sua mãe e acredite: estou fazendo o máximo que posso fazer agora por nós duas. Desça dessa árvore e venha aqui comigo! - Grasnou as últimas palavras, apontando o dedo à frente de seu corpo.

Vencida, Anahí desceu da árvore.

Alfonso observava, assustado, olhando para todos os lados como se precisasse entender o que lhe cercava. A menina teimosa, contrariada pela mãe, sorriu para ele, afetuosa. Abraçou-lhe o pescoço com seus longos braços, depositando um beijinho na maçã do rosto dele.

- Você é encantador. É a melhor coisa que o pa... - Anahí parou a fala abruptamente. - É a melhor coisa que o Alejandro já fez. - Separou o abraço, saindo com a mãe do local.

Alfonso, por seu turno, sorriu. Levou a mão aonde ela havia deixado um beijo. Acariciou, fechou os olhos.

"Por que ela parece uma descoberta?", questionou a si mesmo, correndo de volta para casa.

No quarto, Lola andava de um lado para o outro, intranquila. Não estaria satisfeita até cobrar explicações de Alejandro.

Afinal, que ideia era essa de ter uma governanta naquela casa? Ainda mais com uma filha!

O lema sempre foi conter despesas e fazer economias para aumentar o patrimônio. Todos que enriqueciam agiam assim.

Lola respirou fundo, acalmou-se e saiu em busca do marido. Ouviu ruídos no escritório, então parou, encostando a orelha na porta.

Patrick falava com alguém.

- Não vai me responder? Diga algo! - Lola franziu o cenho, espremeu mais a orelha na superfície de madeira. Patrick retomou a fala. - Por que está fazendo isso? Eu não mereço ao menos uma explicação?

O que ele dizia tornou-se inaudível. Lola percebeu que alguém se aproximava da porta dentro do escritório. Resolveu adiantar-se, batendo três vezes e pedindo entrada.

Primeiro Cálice: Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora