3.0 - Minha versão de nós

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 Tudo o que eu tinha planejado e todo o discurso que já estava pronto na minha cabeça foi por água a baixo quando, ao chegar na tão esperada praça de alimentação, Rebeca estava sentada bem próxima ao começo da área segurando dois milk-shakes em mãos: um de morango com chocolate, o preferido dela, e um de chocolate, o meu preferido.

Eu devia estar com cara de besta porque logo ela levantou e estendeu o braço que segurava o milk-shake de chocolate, como uma criança que produz um presente para a mãe com as próprias mãos e ao entregar, se sente envergonhado por tal ato enquanto a mãe o olha como se aquilo fosse a coisa mais preciosa em que ela já pôs seus olhos. 

Talvez Rebeca fosse a coisa mais preciosa em que eu já tinha pousado meus olhos.

– Eu não sei se ainda continua sendo seu preferido, mas estava entediada e... Ah, resolvi passar tempo comprando sorvete na nossa sorveteria preferida. – confessa baixinho e tenho quase certeza que vejo suas bochechas adquirirem um tom avermelhado. 

Rebeca envergonhada era uma novidade para mim, tenho que confessar. E nada era mais adorável do que suas bochechas vermelhas e o olhar tímido.

– Ainda é o meu preferido. – digo sem saber bem como iniciar a conversa e deixando de fora o fato de achar incrível ela ainda lembrar que tínhamos uma sorveteria preferida.

Era ridículo, nenhuma das duas parecia saber como realmente e agir, e antes de qualquer coisa nós éramos amigas, deveríamos levar aquela conversa com naturalidade, não? 

Conversando uma conversa que apenas nossos olhos compreendiam, entramos em um consenso que aquele era um grande passo para os corações que habitavam nosso peito, que batiam unidos em uma única melodia, que se conheciam melhor do que qualquer outra coisa. Não adiantava o quanto nós ignorássemos o sentimento, ele continuava ali, queimando nossos neurônios, clamando por ser sentido, vibrando nossos ossos com a força de quem ama.

Por isso, ambas sabíamos que aquela conversa em específico poderia levar a um tópico que vínhamos ignorando até onde conseguíamos: o acontecimento das férias.

Ou então, o momento em que paramos de ser apenas melhores amigas, o momento em que a coisa parecia ter ido para um lado que não deveria ter caminhado inicialmente, um plot twist não planejado, um futuro incerto e duas pessoas confusas com a intensidade do que habitava seus corações. Mas era tão bom andar de mãos dadas com Beca enquanto andávamos a toa no shopping, tantos dias desejando estar lado a lado aproveitando o verão para finalmente acontecer, que nenhuma das duas tomou a iniciativa de conversar sobre o que estava rolando - seja lá o que fosse - esperando que quando as férias acabassem, voltássemos para a rotina normal.

Quando cachos voltou para a casa da tia depois de semanas dormindo na minha casa, nos vendo todos os dias sem qualquer exceção e duas semanas depois as aulas voltaram,  passei a evitá-la temendo que tudo não passasse de um pequeno romance de verão, de que ela não sentisse o mesmo e meu primeiro amor fosse agora um amor unilateral, platônico.

Quero dizer, Beca é uma das pessoas mais lindas que já conheci, sua beleza é de tirar o fôlego, sua pele amendoada, os cachos tão sedosos e brilhantes, seus olhos de primavera, tudo nela beirava a perfeição. O seu jeito confiante de quem sabe a beleza que possui, a postura relaxada diante da atenção que recebe e o sorriso, ah.... o sorriso. Aquele maldito sorriso com covinhas que fazia o ar deixar meus pulmões de forma abrupta, o sorriso de luar que iluminava toda a minha alma enquanto estivesse ao seu lado. 

Eu entenderia se não fosse recíproco. Rebeca era bela demais, boa demais para mim e eu sempre soube disso, mas a cada dia que se contava no calendário a vontade de correr até ela e mostrar que ela era minha todas as vezes que a via na escola apenas aumentava. Até o momento que parei de dar atenção ao sentimento de querer estar com ela, e a própria pareceu fazer o mesmo,  porque a partir daquele momento, nossa amizade voltou aos conformes e o assunto nunca voltou a tona. 

My version of us (romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora