O consciente de Chihiro associava-se a uma briga interna entre si e as trevas, literalmente. Algo em seu físico parecia querer relutar e bater, gritar, se espernear e fazer a maior algazarra possível, apenas para pedir socorro.
Parecia ser inexplicável dizer como Chihiro estaria se sentindo, a não ser o tormento, o formigamento em todo o seu corpo e o trauma de se ver num breu sem saída, com apenas alguns flashes em sua visão, quase embaçada.
O seu corpo fazia movimentos involuntários, que somente a treva poderia controlá-la.
Era agonizante.
— Haku me disse que logo logo vocês irão aprender a controlar o chakra de vocês, legal não? — Kaonashi, por instinto, cortou o silêncio constrangedor que habitava naquele cômodo aconchegante, da casa de Zeniba.
— E isso é possível? Digo... Sen é mortal, e eu... Bom, eu sou eu — Lin se embolou em seu próprio raciocínio —, e se for possível, Haku perderá o único neurônio dele para nos ensinar. Deixará de ser possível...
— Lin, pare de ser pessimista! — retrucou Kaonashi, que logo em seguida percebeu que Chihiro ainda permanecia no silêncio. Não abrira a boca desde que foi encontrada na floresta, por seus amigos. Mais especificamente, depois de dizer que estava tudo bem e chamá-los de lunáticos.
Mal sabia Kaonashi, que Chihiro se debatia em seu consciente, a única chama com lucidez naquele momento.
— O que houve, Sen? — perguntou o amigo, vindo dele, nunca que as perguntas seriam feitas por educação. Ele realmente absorvia a empatia para o seu coração, e isso era de se admirar. Até Haku admirava isso, principalmente quando o dragão agia de uma forma contrária da empatia algumas das vezes.
— Sen? — perguntou mais uma vez, dessa vez se aproximando da garota, que parecia totalmente absorta de seus pensamentos, e suas orbes, agora caracterizadas como cor caramelo, estavam num olhar tão morto quanto a de um peixe.
— Sim? — respondeu enfim, apesar de finalmente ter respondido ao Kaonashi, isso de certa forma aumentava a preocupação do espírito.
— Você está bem? Está tão... Desligada — realmente, ela estava desligada. E ela de forma alguma poderia explicá-lo o quê está acontecendo consigo mesma. Já que não tem literalmente nenhum controle de seu corpo, de suas ações...
— Eu estou ótima — sorriu, um sorriso que poderia atrair a qualquer um a pensar que realmente estava tudo bem. Seu sorriso era radiante, ainda sim, Lin não se convenceu.
A morena observava Chihiro atentamente, não conseguia imaginar algo fora do comum, portanto algo em seu coração dizia "fique de olho nela" ou "fale com Haku".
Portanto... É, ela decidiu apenas ignorar.
Num pulo, Chihiro se levantou do seu acento e se trancou no cômodo onde ambas as duas dormiam. Era notório o fato de que isso chamava a atenção de Kaonashi e Lin.
— Ela não está normal, estou falando — indagou Kaonashi, apontando para a direção onde Chihiro passou.
— Sen está bem, deve estar cansada. Sabe como essas coisas ridículas nos cansam? — Lin apontou para o colar que estava em seu peito. Não mentiu. O poder que a Amazonita e a Obsidiana Negra causavam era deveras forte e para uma mortal e um espírito que sequer sabe controlar seus poderes, é extremamente desgastante.
— Tá legal, tá legal — se rendeu — você tem razão, aliás, você deveria descansar também, não acha? — Kaonashi mais uma vez se preocupou. Ele era um bom amigo.
— Não, eu gostaria que você me ajudasse nesse lance de concentração de chakras. Sabe, eu não quero ouvir reclamações fora do normal naquele estrupício — se referia a Haku, é claro.
— Você não tem amor à sua vida, né? — de uma pequena risada, se transformou numa alta gargalhada. Kaonashi adorava o jeito de Lin, e nada iria mudar a sua opinião.
— Às vezes eu me pergunto isso... — sorriu, sendo contagiada pela risada de Kaonashi.
— Mas falando sério, Haku tem mais experiências do que eu, referente à concentração de chakras — disse ironicamente após uma concentração de obter fôlego mais uma vez.
— Cara, você foi treinado pela Zeniba! Deve estar literalmente no mesmo patamar que Haku — apostou Lin, com os braços cruzados.
Kaonashi balançou a cabeça
— Não, querida. Eu e ele somos bem diferentes, sério — riu bobo.
— Tá, não vou ficar tentando aumentar a sua autoestima. Me ajude, por favor, Kao! — implorou, só faltava-lhe juntar suas duas mãos num sinal de reza; ela realmente não queria ouvir reclamações vindo do garoto-dragão.
— Eu deveria lhe ensinar a ter um pingo de empatia, lindona — deu um leve puxão na bochecha de pele macia de Lin. Ouvindo logo em seguida um murmúrio alto da mulher.
— Tá legal! Vai me ajudar, ou não? — Kaonashi se via numa situação de auto-rejeição ao extremo. Ele realmente não se via capaz de poder ajudar em algo tão simples, como a concentração de chakras.
Mas Lin lançava um olhar tão dócil e fofo... Parecia impossível dizer não em voz alta.
— Tá legal!
[...]
Solitária naquele quarto, podia se ouvir gemidos de dor e tremenda tortura. O seu corpo tremia freneticamente, enquanto as batidas de seu coração pareciam fazer um intervalo mínimo de 0,5 segundos. Ela pensava que iria morrer, se não por fora, por dentro.
— Pare! — gritou, pela primeira vez chihiro falou por si própria, pela primeira vez nessa imensa tortura, ela conseguia dizer algo com sua sã consciência, porém perdia as forças de seu ser. Esse algo a mantinha em pé, e pressionava a sua mão em seu peito com uma força fora do comum, que nem mesmo a garota conhecia. Ela não entendia aonde o algo iria chegar, mas sentia medo, muito medo. E gostaria de morrer ali mesmo, de forma silenciosa, largando de vez essa tortura psicológica e agora física.
Da sua boca transmitia palavras que ela sinceramente, não entendia. Palavras fora do comum, mas que pareciam ter o mesmo sotaque ou tom de quando ela ouviu em seu pesadelo. O espírito das trevas que habitava em seu corpo, tinha uma língua totalmente diferente como fixa.
Ela apertava a sua mão contra o seu peito cada vez mais forte, e no fundo se perguntava se isso perfuraria a sua pele. Ela só conseguia pensar e pensar, mas nunca agia. Tudo o que podia fazer era gritar e sofrer, enquanto o espírito das trevas agia totalmente no controle.
O corpo dela começou a queimar, queimava tanto... Tanto... Chamas escuras saiam de todo o seu corpo, e suas veias ganham um destaque tremendamente bizarro. A todo esse tempo, ele estava dando forças ao colar, beneficiando o físico de Chihiro.
Ela não queria deixá-lo controlá-la, ou fazer qualquer coisa que fosse péssima para si ou para todos ao seu redor.
O seu consciente gritava por Haku, por Zeniba, por Kaonashi ou Lin. Mas ninguém respondia, somente ela ouvia a própria voz.
Percebendo logo em seguida que é ela por ela. Mesmo que estivesse num mundo, digamos que... Mágico - aos seus olhos -, não poderia ficar clamando por ajuda a todo o momento. Podia?
Ela estava se sentindo incapaz de continuar lutando contra as trevas, e era estranho lutar contra o próprio corpo, que agia de forma "involuntária" .
Mesmo cansada, realmente achava que precisaria lutar. Se conseguiu enfim soltar nem que fosse uma única palavra em voz alta, quem sabe poderia deter a si mesma de fazer qualquer merda possível?
"Eu consigo" pensou consigo mesma. Nunca se tornará tão positiva como naquele momento. E pôde ter certeza de um dia falar enfim na cara de sua mãe, que ela não era tão negativa quanto a mais velha pensava.
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I Want You (A Viagem de Chihiro).
FanfictionApós nove anos, Chihiro Ogino decide retornar ao mundo dos Deuses. Certas coisas em seu mundo a deixaram confusa e desanimada. O passado a persegue, e a saudade de seu amado Haku ainda está intacta. Atenção: as imagens da capa não são de minha autor...