Capítulo 45

36 3 2
                                    


Morris não as impediu de partir. Sua postura fora deveras condescendente com a partida dos desgarrados, acompanhada de um sorriso deleitoso e um convite não sincero sobre um possível retorno. Astrid o imitou, assumindo uma postura cortês, porém, distante. Sustentando o olhar de Elin em silêcio significativo.

Heron foi o único que não compareceu, observando sua antiga família humana do alto das muralhas. A pose leonina demonstrava indiferença, assim como os olhos perdidos nas montanhas no horizonte.

Gwen tentou disfarçar a dor em seus olhos. Aquela era possivelmente a última vez que o veria.

O Ranger Rover se afastou dos portões do castelo, deixando para trás as sombras gélidas de Brasov e abraçando a incerteza do futuro. O entardecer toldava o azul do céu com suas cores alaranjadas, anunciando a chegada da noite eterna. A qualquer momento o ébano começaria a tingir a imensidão do céu, trazendo consigo suas criaturas mais sombrias.

Sam dirigia com cautela, atento a estrada invernal à sua frente e as sombras que se escondiam por trás da floresta ao longe. Elin e Erika olhavam atentas pela janela, fortificando a segurança enquanto Gwen mentalizava algum feitiço de proteção. Embora seu coração estivesse apertado e uma parte dela quisesse se prender às lembranças daquele castelo sombrio, sua parte mais humana estava ansiosa para abraçar sua nova vida. Tantas possibilidades...

Veio do nada.

Ninguém o viu surgir, estreitando-se pelas brumas da floresta ao longe.

O carro foi atingido com brutalidade, rodopiando pela neve úmida antes de parar no meio fio da campina. Sam praguejou uma vez, conseguindo assumir o controle do freio. Elin farejou algo no ar, vindo em sua direção. Erika juntou as mãos, preparada. Mas o segundo baque veio acompanhado do ruído ensurdecedor da lataria do carro sendo triturada sob garras selvagens. Os vidros traseiros explodiram numa chuva de estilhaços, cuspidos para dentro como lanças ásperas. Alguém gritou.

- Gwen... – Sam gritou num alerta, mas foi silenciado quando a boca da criatura se fechou sobre a carne de seu ombro, puxando-o pela janela do carro.

O corpo do vampiro foi arremessado com selvageria, chocando-se contra uma árvore qualquer no limiar da floresta.

Elin saiu do automóvel em sua velocidade imortal, impondo-se entre Sam e o que quer que estivesse lá fora. Mas a criatura ignorou completamente sua ameaça sutil. Voltou-se para o Ranger Rover e num rugido ameaçador investiu contra a lataria dilacerada.

O carro capotou duas vezes antes de deslizar inerte pela neve tingida de sangue.

A noite se estendeu pelo céu esplendoroso, dando as boas vindas à lua cheia saudada pelo uivo cortante que reverberou por toda Brasov.



Do alto das muralhas ele já sabia que havia algo de errado. Podia sentir o cheiro de podridão emanando da floresta. A princípio achou que poderia ser algum animal semidevorado, vagando pela relva enquanto seu corpo perecia lentamente. Mas então viu ao longe algo se mover pelas árvores.

Seu corpo se curvou numa postura ofensiva, agigantando-se sobre o muro do castelo.

- Exilados!

Os guardas se moveram diante do alerta, imitando a postura de ataque.

- Não! – a voz de Morris quebrou o silêncio ofensivo.

Dimitri voltou seus olhos para ele, furisoso.

- Eu não quero que interfiram. – Morris disse calmamente.

Imediatamente seus guardas abrandaram.

A sedução da Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora