Capitulo Três

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Eles atravessavam nas passagens do mundo, naquela escuridão envolta de uma dimensão desconhecida, mas que os faziam chegar onde queriam.

Rhaella ficou em silencio, pensativa sobre seu plano. Contar a Rhysand sobre o aconteceu no tempo, sobre Padma... Acreditou que não fosse a melhor hora pra isso, ou a melhor pessoa. A vergonha de seu ato era corrosiva, entretanto nada a amedrontava mais que a punição. E se ele não lhe desse a morte? E se contasse ao seu pai...

O que Keir faria se Rhaella fosse sua segunda decepção?

Uma imagem de si mesma na sala de tortura assombrou sua mente.

Não, ela não contaria.

Antes que percebesse a escuridão ao seu redor se dissipou e um vento de verão atingiu seu rosto. Mas ao contrário que esperava a deslumbrante montanha de Prythian não estava logo a frente e sim há quilômetros de distância.

–Por que parou aqui? –Rhaella observou que estavam em uma campina distante de Sob a Montanha.

–Sinto que precisamos conversar –Rhys se encostou em uma pedra, parecendo estranhamente confortável.

Enquanto Rhaella se esforçava para que o nervosismo não a fizesse suar. Será que ele tinha lido sua mente? Que estava agindo de forma tão tranquila apenas para desarma-la enquanto se prepara pra matá–la...

–Daqui a pouco saíra fumaça da suas orelhas de tanto pensar –Rhys bateu no espaço vago ao seu lado. –Não seja tão desconfiada, será uma conversa de primos.

Rhaella foi, mesmo que desconfiada, e fez o máximo para o vestido não enrugar naquela pedra lisa.

–Você nunca quis ser meu primo antes – notou a menina.

–Isso é uma mentira que a serpente do seu pai inventou –Rhys cruzou as pernas. –Eu sequer a via, como poderíamos conversar?

–E por que perderia tempo conversando comigo? É ocupado demais até pra passar um tempo na sua corte.

–Sou desinteressado, o que é diferente – pontuou o macho. –A Cidade Escavada gosta mais da minha ausência. E parecem caminhar a sua maneira sem a minha intromissão.

–Nem tudo –resmungou cruzando os braços.

–Há algo que devo saber? –Rhys ergueu uma sobrancelha.

–Primeiro me diga do que se trata essa nossa "conversa" –Rhaella não queria entregar nada até que soubesse qual assunto o macho queria tratar com ela.

–É sobre Mor e o modo como a tratou –Rhys ficou sério. –Entendo que há diferenças entre vocês e uma história mal contada pelos seus pais. Mas isso não lhe dá direito de ser tão petulante e grosseira com ela.

–Não há problemas de verdade que um Grão-Senhor deva se preocupar? –Rhaella saiu do seu lado, com a vista vermelha de raiva. Ele tinha que defende-la!

–Sou multitarefas –um sorriso arrogante surgiu em seus lábios. –E já que não me diz o que te incomoda em meu modo de lidar com a Corte Noturna, então não há o que me preocupar.

–A razão pelo qual estou aqui é o que deve se preocupar! A razão por qual Mor foi torturada! A razão do porque eu a odeio e porque não posso sequer pensar em ser como ela!

Rhaella decidiu que era hora de parar, de se conter. Uma Lady não se exalta, a mãe lhe disse isso inúmeras vezes. Não questionava, desagradava, muito menos gritava com um macho. Ainda mais sendo um Grão–Senhor. A última infração era punível com pena de morte.

Ela estava quebrando algumas regras aquela noite.

–Continue –Rhys sinalizou com a mão.

Rhaella não iria dizer nada. Até olhar pra si mesma, "embrulho de presente" como Cassian chamou. E viu ali uma oportunidade de mudar as coisas. Talvez não pra ela, mas pra outras fêmeas que viriam depois. Que buscavam uma solução como ela no presente.

–A sua corte tem um sério problema com o modo que trata suas fêmeas –Rhaella explicou entre dentes. Sua raiva ainda não tinha dissipado. –Não somos mais que peões nas mãos dos nossos pais. Uma moeda de troca por aliança, mantimento, exércitos – O desespero crescia em seu peito e era enfatizado em cada palavra. –E não há qualquer escolha nisso. Simplesmente não temos proteção de lei, ou um lugar para refugiar. Sequer posso conversar com outra fêmea!

–E como sabe que o tormento que vive é o mesmo que os delas? –O tom de Rhys não era arrogante, ou tedioso. Ele estava interessado, e até surpreso, em ver Rhaella ser tão enfática.

–Há um tipo de olhar entre nós, antes de nos casarem a força –Rhaella lembrou do olhar de Sephora meses atrás. Totalmente desolada e impotente. Seu casamento foi com um Grão–feérico de aparência idosa, ranzinza e fedia. Rhaella ficou assombrada depois da noite de sua cerimônia de casamento. –Sabemos o quanto a outra sofre. E agora, elas me olham assim porque sabem que meu pai será o mais ambicioso de todos os pais da Cidade Escavada.

–Ele a quer com um Grão-Senhor –Rhys presumiu. –Por que ele lhe deu o direito de escolher quem?

–Porque eu finjo que essa é minha ambição também –Rhaella olhou pra baixo, a humilhação que sentia por deixar os pais pensarem que ela uma menina deslumbrada com a honra de ser esposa. –Eu cresci com a história de Mor. Pra me lembrar o que acontecerá comigo se falhar, se arriscar seguir os caminhos dela. Fui afastada de todas as festas que vocês estavam, trancada no quarto por semanas quando sua estadia pendia. Odeio Mor porque a punição pelo que ela fez foi executada em mim. Sei que ela não tem culpa, mas não melhora vê-la tão feliz e livre enquanto eu nunca poderei ser assim.

Rhys ficou quieto ao termino do relato de Rhaella. A descontração tinha ido embora, e agora o primo estava completamente pensativo.

–Não sei por onde começar a mudar –Aquela frase apagou a esperança de Rhaella. Ele não faria nada. –Mas certamente você me ajudará.

–O que? –Deixou a surpresa estampada em seu rosto.

–Não posso dizer que tenho familiaridade com tal assunto. Apesar de ter completa empatia e atenção, o assunto é mais valido vindo de alguém com vivencia –Rhys deixou claro.

–Mas meus pais... –balbuciou. –O que fariam comigo...

–Ouça –Rhys foi até ela segurando sua cabeça com as duas mãos. Os olhos violetas focados no dela como se lesse sua alma. –A escolha é sua: de quem eles querem que seja e quem você quer ser. Essa noite tome exemplos dos caminhos que pode trilhar, conheça seus pretendentes e se imagine vivendo uma vida ao lado deles. Se casar for o que deseja, terá meu apoio. E se dar as costas a tudo, inclusive aos seus pais, for sua escolha terá minha proteção. É uma promessa.

Ponderou sobre os poderes, sobre o que fez a Padma...

–Quer me dizer mais alguma coisa? –Rhys leu a expressão receosa de Rhaella.

–Não agora–Rhaella respondeu rapidamente. –Depois do baile.

Ele estava dando uma chance de uma vida diferente.

Era uma chance que nunca mais teria. A noite de sua vida.

Onde ela, e somente ela, decidiria qual seria seu destino.

Uma noite para nunca mais esquecer. 

Corte de Estrelas e Tormento -HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora