• just go with it •

• all I know since yesterday is everything has changed •

As coisas tinham saído um pouquinho do controle de Rafael. Mas não necessariamente de uma maneira ruim.

Ele havia pensado muito sobre as palavras de Renzo e como deveria agir. Havia tentado uma aproximação puxando papo ainda no aeroporto, mas não havia dado certo, e realmente havia sido um pouco forçado. Rafael já estava praticamente desistindo - e honestamente sem paciência - quando a passagem e o passaporte de Júlia haviam caído e ele se deparou com a bizarra coincidência de estarem no mesmo voo.

A ideia de mudar o assento da advogada não havia demorado a aparecer, tanto que ele logo anotou o numero do assento nas notas do celular. Mas Rafael hesitou bastante, ponderando mil vezes se deveria ou não fazer aquilo. Ele sabia que podia dar errado e que possivelmente estaria transformando sua viagem num inferno, além de talvez ser um pouco invasivo, mas depois de muito pensar, resolveu seguir sua intuição e rezar para que funcionasse. Não havia sido uma tarefa fácil, mas após várias ligações e uma boa quantia desembolsada, ele havia conseguido.

O empresário sabia que Júlia ia chiar, mas não imaginava que ela ligaria os pontos tão rápido. Ela era mais inteligente do que ele pensava, e apesar de ter feito aquilo por orientação de Renzo e pela Labrador, ele começou a se incomodar e querer verdadeiramente mudar a visão que a advogada tinha dele.

Ainda assim, não estava nos seus planos se envolver tanto.

Quando Júlia o perguntou sobre o problema dele com advogados, ele nem sabia direito explicar o que havia acontecido. Normalmente ele desconversaria, desistiria ou simplesmente daria uma resposta genérica mas, quando deu por si, ele simplesmente estava... Falando. Sendo sincero. E contando pra Júlia uma história que ele nunca tinha dito a ninguém.

Bom, ninguém além de sua terapeuta.

E ele não sabia nem porque. Talvez fosse culpa do champanhe. Mas nem fazia sentido, quer dizer, ele nem gostava de Júlia, e do nada lá estava ele. E o pior é que ela havia sido... Compreensiva. Até... Doce, de certa forma. Pedindo desculpas e tudo. Rafa não esperava aquilo, mas havia sido uma surpresa... Agradável. E ficou ainda com mais vontade de mudar a opinião da morena sobre ele. Júlia parecia ser interessante também. O jeito dela o irritava um pouco, mas ela parecia ser uma mulher complexa, cheia de camadas. Ele meio que gostava disso. 

Por tudo isso tinha proposto a aposta, e ficado verdadeiramente feliz quando ganhou.

Eles acabaram colocando o filme para assistirem juntos, trocando farpas ao longo do desenvolvimento da história. Estavam tão empolgados que até levaram alguns olhares tortos de outros passageiros por estarem falando muito alto, e deram risada. Ok, talvez fosse mesmo o champanhe afetando os dois. Mas era difícil se conter, principalmente com Júlia criticando cada vírgula de Darcy. Só de implicância, Rafael começou a fazer o mesmo com a Lizzie, o que acabou gerando algumas discussões, mas tudo muito mais leve do que ele esperava. Júlia era passional sobre Orgulho e Preconceito e suas percepções, tanto quanto ele, e como toda advogada, adorava uma argumentação. Era fácil provoca-la e atraí-la pra uma, o que acabou sendo muito mais divertido do que ele esperava, mesmo ouvindo tantos absurdos sobre o mocinho. E pela forma que os olhos azuis de Júlia brilhavam, desafiadores, ele arrisca dizer que ela também estava curtindo bastante.

Ao fim do longa, o jantar foi servido e os dois comeram  enquanto trocavam opiniões sobre outros livros que haviam lido em comum e alguns filmes também. Apesar de surpreendentemente serem muitos e eles terem opiniões relativamente parecidas sobre boa parte, seguiram de bickering o tempo todo. Era como se aquele fosse o tom confortável de conversa dos dois, o que era meio estranho pra Rafael. Ele não era assim, não estava acostumado a implicar com ninguém, sempre tentando ser educado e gentil, mas com Júlia... As coisas simplesmente fluíam de uma forma diferente.