Capítulo 4: Cedo demais

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Minha família inteira é evangélica. Tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. O que é bizarro, porque tudo gira em torno disso: igreja, bíblia, princípios cristãos e moralidade religiosa. Então quando meus pais se divorciaram, a separação foi um escândalo familiar.
Na época eu era bem novinha, devia ter no máximo uns 13 anos, não lembro ao certo. Mas me lembro bem de uma tia me chamando num canto pra dizer que o divórcio era culpa minha, pois eu estava envolta demais à vida conjugal dos meus pais. Eu não sabia o que fazer, mas gravei essa frase em meu coração de tal forma que acreditei por anos que de fato a culpa era minha.
Me lembro de uma vez, quando eu era bem mais nova, entrar no quarto dos meus pais e me deparar a cena lamentável da minha mãe sentada na cama olhando fotos do meu pai com uma mulher. Minha mãe contratava detetives particulares pra vigiar meu pai e trazer provas concretas do que ele fazia. Eu não sei o porquê, ja que ela sempre voltava pra ele.
O fato é que eu fui exposta a isso muito cedo, e isso determinou minha forma de se relacionar com homens antes mesmo de eu chegar na fase adulta.
Graças a essas exposições, passei a viver grudada no meu pai acreditando que minha presença ali o impediria de magoar minha mãe. Eu andava de mãos dadas a ele o tempo todo, com medo de que qualquer coisa pudesse destruir o que restava da minha família. Meu comportamento infantil chamou a atenção dos demais membros da igreja, já que não é natural uma criança deixar de brincar com os amigos pra ficar grudada no pai. Claro que isso não adiantou, pois quando um adulto quer trair ele arruma um jeito pra trair.
Todo esse casamento abusivo ocasionou traumas em minha mãe, que a fez despejar em mim mágoas contidas. O problema é que não sou psicóloga, e como fui exposta a essas mágoas muito nova, já cresci traumatizada e com distúrbios emocionais. Minha mãe nunca quis procurar um psicólogo. Sempre acreditou que não precisa de ajuda psicológica e psiquiatrica pois já tem Deus. Sempre alegou que Deus é o médico dela e que ela não precisa de mais nada. Mas até hoje não se livrou da mágoa que tem do meu pai.
Sendo eu, uma criança que foi exposta muito cedo a um casamento problemático, me tornei a única amiga da minha mãe. Ela nunca conseguiu manter amizade com ninguém, mas fazia questão de me contar com riqueza de detalhes a realidade do casamento que ela tinha com meu pai - e isso incluía o sexo. Sim, o sexo. Eu, com 12 anos já sabia como era o sexo dos meus pais. Na época eu ficava confusa e incomodada , mas não sabia expressar esses sentimentos.
Depois de muito tempo sendo bombardeada com informações dos meus pais, parei de viver minha vida e passei a viver a vida dos meus pais. E só fui entender isso na vida adulta. Só fui entender depois de velha, que não tive adolescência.

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2021 ⏰

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