Capítulo 26-O Troco

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Pov Carolina Lima

Respirei fundo, enquanto meus pensamentos vagavam pela imagem de Bárbara ao lado de Tainá. Sentia-me traida, mas não pela delegada, e sim, por mim mesma. Durante tantos anos tive controle total de meus sentimentos, meus atos, para no fim, uma mulher chegar e mostrar que eu não poderia administrar tudo ao meu redor. Aquilo me consumia, célula a célula; era como perder o controle do meu próprio ser. Maldita delegada.

- Você está bem, querida?

Ouvi a voz grave de meu marido ao fundo, enquanto fitava o movimento de pessoas que caminhavam pela calçada, com seus enormes guarda-chuvas, e outras com suas capas. O céu cinzento derramava sobre Nova Iorque uma garoa fina, que não tardaria a se intensificar, transformando-se em um temporal. Encarei os olhos escuros de Everton assim que senti o toque suave de sua mão sobre a minha. Ele estava bem agasalhado, fitando-me com um semblante curioso.

-Está sim, meu amor. Só estava um pouco pensativa com tudo isso.

-Não se preocupe. Tudo vai se resolver.- Murmurou ao entrelaçar os dedos aos meus.

Soltei um sorriso fraco, recebendo outro em troca. Ele parecia melhor do que nunca; talvez todos os medicamentos tenham surtido efeito rápido demais. Apesar do dia cheio, surge de acontecimentos, ele parecia tranquilo.

-Eu espero que sim.

-Não tenha dúvidas,Carolina.

Não demorou muito, e os enormes portões de ferro da mansão Lima foram abertos para nossa entrada. O veículo foi estacionado na parte frontal da casa, quando um dos funcionários se aproximou, abrindo uma porta para que saíssemos. Corremos para o interior da casa, evitando nos molhar tanto com a chuva.Everton e eu nos reservamos ao nosso quarto, ele de um lado com o seu computador, e eu faço outro com um livro qualquer. Ficamos algumas horas assim, sem trocar uma mísera palavra. Meus pensamentos estavam longe demais para entrar no papel de uma boa esposa, meus pensamentos rondavam a mulher de olhos castanhos que não tardaria a chegar. Por alguns instantes julguei ter sido um erro ordenar que Bárbara comparecesse essa noite em minha casa, não era um momento adequado. Tanto pela sua expulsão do caso, quanto pelo meu estado emocional visivelmente abalado pela mesma. Atuar para Everton havia se tomado algo natural, era como ser um personagem criado por mim mesma, para completar uma história que não teve fim. Mas com Bárbara não era assim, não mais. Eu me perdi. Me perdi nos meus sentimentos, nos meus atos, nos meus planos. Tudo em mim era sincero para com ela, e eu simplesmente não deixa de agir diferente. Era enlouquecedor não ter controle sobre mim quando se tratava de Bárbara Passos.

- Você fez tudo errado,Carolina. - Sussurrei.

- Disse alguma coisa? - Indagou o homem.

Ergul a cabeça e encarei seu rosto.Everton deixou seu computador de lado, enquanto me fitava tranquilamente.

-Pensei alto, querido. Você quer que eu mande servir seu jantar aqui?

-Não, podemos comer lá embaixo mesmo.

-Tem razão. -Disse ao me levantar, e me aproximar dele. - Acho que depois de todo esse estresse,devemos ficar um pouco juntos. - Sentei ao seu lado, recebendo um sorriso.

-Acho a ideia maravilhosa. Estou com saudade de você.

- Está?

-Não faz ideia do quanto. - Murmurou ao repousar sua mão sobre minha coxa.

Olhei para sua mão que deslizou suavemente pela minha pele, e em seguida encarei seu olhar. Eu já não lembrava quanto tempo Everton e eu tivemos a última noite de sexo. Desde que passei a me envolver com Bárbara, recusei suas investidas, o dopei e fiz acreditar que havia noites e noites de uma foda que nunca existiu, não depois de me entregar a Bárbara. Era como se ela pudesse me dar tudo que eu precisava, tornando assim a presença de meu marido totalmente desnecessária. Mas aquilo não poderia continuar, não depois de hoje. Se a morena era tão desprendida, por que eu não seria? Logo eu, que sempre vou me esforçar para estar um passo a frente, por cima. Sempre.

Xeque-Mate | adaptação BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora