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- Isso é ridículo, eu não fiz nada disso.- digo indo em direção ao meu quarto, torcendo para que eles esquecerem essa babozeira.

-Tem um vídeo Maya, UM VÍDEO!- meu pai grita, e voltando ao tom normal -Não tente nos enganar, temos provas suficientes. É melhor assumir.

-NÃO VOU ASSUMIR PORQUE NÃO FIZ PORRA NENHUMA- tento bater a porta do quarto e caio na cama, mas as mãos ágeis da minha mãe me impedem. - OLHA A BOCA GAROTA!

Aquilo era tão idiota..eu não estava dando a mínima para o que inventavam de mim, mas a partir do momento que meus pais resolveram tomar medidas , eu percebi o quão longe aquilo tinha ido.

Valen havia feito um vídeo (com uma péssima qualidade, aliás) onde 'eu' apareço fumando maconha e entrando em um quarto com três garotos. Isso tudo por terem feito uma enquete no instagram e me denominarem definitivamente mais bonita que ela. 

Ridícula....aquela situação, Valen, a merda daquela enquete...

Peguei meu celular, enquanto ainda tinha ele por perto, e mandei mensagem pro meu primo.

Expliquei tudo, tentando achar uma solução. Eles queriam me mandar para um colégio interno.

Max disse que daria um jeito, mas eu já sem esperanças, deitei na cama e comecei a chorar.

Os travesseiros absorviam minhas lágrimas e alguns gritos de raiva que eu dava de dez em dez minutos. Pensei na minha vida aqui, meus amigos, minha escola, meu futuro trabalho já garantido numa clínica veterinária...Meu futuro estava na mão de dois idiotas que não sabiam distinguir a filha de qualquer outra menina em um vídeo. Eu sou loira e aquela garota definitivamente tem o cabelo castanho escuro, como podem ser tão cegos?

Ouço passos vindo do corredor, meu coração dispara já me preparando para mais alguns gritos e sermões, mas tudo o que ouvi foi 

- Você vai amanhã pro Canadá, seus tios vão ficar com você um tempo já que aqui só nos dá decepção.- saíram da minha frente e eu conseguia sentir seus passos pesados descendo as escadas.

Max. Max havia feito aquilo.

Ainda estava preocupada. Haviam anos que eu não via meus tios. Ser castigada em outro país...uma jornada realmente interessante. Ainda assim é melhor do que aqui.

Começei a fazer minhas malas.

Casacos, casacos e mais casacos. Não sabia se estava preparada pra ir á um lugar tão frio, tão diferente de Miame....

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Foi difícil dormir aquela noite, meus pensamentos invadiam minha cabeça, o silêncio daquele quarto gritava em meu ouvido e tudo o que eu queria era que me dissessem que era apenas uma piada.

Pra onde eu iria? O que faria lá? Eu não tenho tempo nem pra me despedir dos meus amigos....merda...tudo bem, eu não gosto de despedidas.

Com muito esforço e algumas lágrimas escorrendo em meu rosto, consegui dormir, mas nem nos meus sonhos meus medos me abandonavam.

Acordei cedo, desci pra cozinha e fiz meu café, não queria olhar na cara dos meus pais ou ao menos tomarmos um ''último café''.

Comi torradas, um pedaço de bolo, o resto de brownie que eu tinha guardado pro final de semana com minhas amigas, sorvete e o que mais estivesse na minha frente. A ansiedade me obrigava a comer tudo.

Tomei um banho, talvez o último naquela casa. Eu voltaria? Era melhor eu não pensar, ou explodiria.

Coloquei uma regata, calça de moletom e fui com as malas pra sala.

-Pronta?- eu conseguia ver o ódio nos olhos do meu pai e aquilo me doeu tanto.

Fiz que sim com a cabeça. Ele pegou a bagagem e levou ao carro. Atrás dele, minha mãe.

-Vai ser melhor assim- ela não sorriu, mas não me olhava com raiva. Talvez realmente quisesse ajudar.

-Toda terça a noite vem uma menininha de rua aqui na porta, faça brownies e dê a ela. Diga que vou sempre me lembrar dela.- saí sem olhar pra trás.

A viagem até o aeroporto foi silenciosa. Eu não via a hora de entrar no avião e desabar. A cada rua que passávamos, uma lembrança minha era desbloqueada. Não havia esperança em mim naquele momento, mas ainda era grata por Max.

Adormeci.

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Acordei com meu pai me avisando que havíamos chego. Saí do carro, peguei as malas e não olhei pra ele enquanto saía. Tentei não pensar em nada, apenas andar e andar. 

Após um tempo entrei no avião, meus olhos já se enchiam de água novamente, mas me permiti chorar.

Era engraçado olhar as nuvens pela janela do avião. Tão lindas, tão perto...

Tentei assistir um filme mas a senhora ao meu lado estava se dedicando ao sono, e aos roncos.

Decidi seguir olhando a janela.

Onde eu estava me metendo? O que né esperava? Eu estava indo pro céu ou pro inferno?
Pensar demais um dia ainda vai me matar.

Fiz a única coisa que me restava. Dormir.

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-Maya, oi!-  Max veio em minha direção com os braços abertos e me abraçou. Senti ali um pouco de esperança, finalmente. 

Suspirei de alívio ao ver meus tios sorrindo pra mim com um cartaz na mão escrito meu nome e alguns corações.

-Oi! Quanto tempo, meu Deus.- sorri um pouco tímida ao vê-los me encarando com seus olhos brilhando.

-Sinto muito pelo que aconteceu meu amor.- Tia Wanda me acolheu em seus braços- Eu e seu tio tivemos que dar uma de bravos com seus pais no telefone pra que eles deixassem você vir, mas está tudo bem, você está em casa.

Casa.

- Separamos alguns lugares pra almoçar, veja- Tio Tom se aproximou me mostrando alguns panfletos- mas você pode escolher, querida- ele sorri .

Escolhi o que parecia mais aconchegante e quente e fomos pro carro.

Conversamos o caminho todo, ouvi sobre Max e tudo o que aprontava aqui no Canadá. Ouvi sobre tia Wanda e sua padaria, tio Tom e sua loja de hidromassagens. Ri enquanto cantavam suas músicas favoritas.

Paramos no restaurante e a comida estava incrivelmente boa, comi até pensar que fosse explodir.

Pensei na comida da minha mãe, aquilo doeu.

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Chegamos em casa. Dois andares, uma varanda, quintal grande atrás. Era bem bonita. Max tocou a campainha e se virou pra mim.

-Eu só esqueci de contar uma coisa...- ele diz enquanto a porta se abre e um garoto de cabelos pretos e olhos surpreendentemente azuis aparece.

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1057  palavras

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora