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Pov Nick

-Ei Maya, acorda- a balanço um pouco mas parece que aquela garota tem sono pesado.

-Me deixa dormir- ela resmunga baixinho se movimentando um pouco.

-É o que eu tô fazendo lerdinha, vai pra cama.

-Eu tô com sono, me deixa.- ela diz com os olhos fechados e percebo que não vai a lugar nenhum sozinha.

Pra eu não me irritar em vê-la fazendo hora com a minha cara, a pego no colo e subo as escadas.

Ela abraçou meu pescoço e fomos. Não era esforço nenhum, era leve demais.

Eu conseguia ouvir sua respiração calma em meu ouvido, diferente daquela no banheiro. O pijama de seda gelado em contato com meu braço...aquilo era bom.

Finalmente cheguei no seu quarto e por sorte a cama estava arrumada.
A deixei lá jogando algumas cobertas por cima.

- Não vaaai- ela resmunga

- Você não faz ideia do que tá falando né loirinha? - digo já sabendo a resposta, a observando virar a cara pro travesseiro

- Talvez.

Saio de lá  e fui dormir. Antes passei no quarto de Max pra ver se ele havia chegado e vi um garoto lá.

Tentei identificar no escuro, moreno, cabelo cacheado...com certeza era Kael.

Eles são amigos a um tempo. Max provavelmente o deixou dormir lá pra evitar que o garoto levasse xingo da mãe por chegar bêbado em casa.

Ri lembrando das nossas saídas aleatórias e de como chegávamos doidos.

Entrei em meu quarto, mudei a cor do led, coloquei roxo. Liguei música baixa e tentei dormir.
Eu não estava com tanto sono, então só fiquei acordado pensando em qualquer coisa.

"Qualquer coisa" virou Maya.
Maya naquele pijama, Maya no banheiro.... e apesar de eu não ter visto absolutamente nada, me fazia imaginar.
Tão perto de mim...

Sua respiração alta não saia da minha cabeça. Ao mesmo tempo que eu conseguia saber exatamente o que se passava na cabeça dela, eu também não sabia.

Eu gostava de brincar com fogo, e parece que ela também.
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Acordo em minha cama cheia de cobertores e me lembro da infância, quando dormia no sofá e acordava no quarto, como mágica.

Se eu soubesse que crescer seria assim, pediria no natal pra ter sete anos pra sempre, e não uma casa de bonecas toda mobiliada. Se eu soubesse que estaria no Canadá por uma merda de vídeo, ou se eu soubesse o quanto meus pais são influenciáveis...mas nós nunca sabemos, nunca.

Eu precisava esquecer tudo isso, ou nunca andaria pra frente. Calcei minhas pantufas e desci pra varanda de casa, precisava de ar. 

Encontro Max sentado em um dos degraus da frente com um garoto.

-Bom dia- digo tentando não assustá-los pois pareciam concentrados em observar o carteiro nas outras casa da rua.

Eles se viram, de forma cama e sorriem. Um garoto de cabelo cacheado bem bonito por sinal.

-Bom dia priminha. Esse é meu amigo, Kael.- ele se levanta pra me cumprimentar. Um pouco mais alto que meu primo, e com um abraço estranhamente aconchegante.

-Senta ai- ele oferece

Me sento e começo a prestar atenção nas pessoas que passavam na nossa frente. 

-É realmente viciante, Max.

-Kael me julgava, mas hoje tá pior que eu, olha lá- diz enquanto passa a mão na frente dos olhos do garoto, que não se desconcentra momento algum.

Rimos enquanto tentamos adivinha a vida de cada ser que víamos.

-Aquele ali- o amigo de meu primo começa- voltando pra casa depois de uma noite toda no clube de strip. Parece arrependido...levando uma jóia pra esposa?-ele faz uma pausa- hmm, nem tão arrependido.

-Por que?

- O diamante é falso. Qualquer criança tem algum melhor em seu enxoval de bonecas.- diz e rimos alto.

-Aquela ali- Max se refere  a uma senhora com o estereótipo de vizinha fofoqueira. -Indo ao médico após comer muito molho de pimenta malagueta e sentir uma leve queimação em seu anus, mas vai se recusar a dizer que são hemorroidas. - gargalho alto enquanto vejo uma moça ir chamar a outra na janela.

-Fofoca da boa aquela.- digo

-Conta tudo priminha.

-O marido da Marta da rua de cima, tendo um caso com a pastora da igreja deles...que ousada!

-Quem tá tendo um caso com a pastora?- Nicolas aparece na porta da varanda 

Nós três rimos e ele continua sem entender nada. Se senta ao meu lado no banco enquanto a brisa leve de verão move seu cabelo.

-Me levou pra cama ontem depois do filme?- pergunto a ele, Max e Kael olham pra trás assustados. - Não desse jeito, idiotas.- reviro os olhos e volto meu olhar a Nick.

-Com muito esforço, você parecia um bicho preguiça.

-Não foi tão ruim, vai.

-Fez seus pedidos mais obscuros ontem pra mim.- ele ri e eu tento me lembrar.

- Quais

- Não sabe seus próprios desejos?- ele diz e eu me questiono. O que eu havia dito? Era tão ruim assim ou só tirava a minha dignidade? Como se não ter dignidade não fosse algo ruim....Reviro os olhos.

-Eu tava com sono, idiota. Com vou saber?

Ele continua rindo, o que me deixou um pouco nervosa.

-O que foi que eu falei? Me diz!- digo brava 

-É brincadeira, sossega ai.

Senti que não era brincadeira, mas de qualquer forma ele não falaria, então nem adiantava eu insistir. 

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Eu estava pronta para começar a assistir a temporada nova de uma série, quando ouço uma batida na porta. Suspiro pensando que nunca vou passar dos cinco minutos de episódio. Levanto da cama e vejo Max entrar com uma bermuda de piscina, uma bolsa com protetor solar e toalhas, e um chapelão em sua cabeça.

- Vamos pra praia priminha do meu coração?- penso um pouco e tento escolher brevemente entre ficar em casa ou sair, mas acabo não tendo opções porque meu primo já estava separando meu biquíni.

-Vai ficar gata nesse, mas leva um extra só pra garantir.- diz e eu coloco na bolsa, juntos com minha canga e um par de chinelos.

Entro no banheiro e coloco um cropped e um short jeans por cima do biquíni. Desci rápido porque eles sempre ficam me esperando, e eu não estava afim de aturá-los com cara de tacho pra mim.

Ao chegar perto na sala já ouço música vindo do carro de Max. Todos eles estavam animados, até porque, não é todo dia que se faz 26 graus em Toronto. Mas com essa coisa toda de  agravamento do aquecimento global... era melhor eu ir me acostumando.

No caminho, Kael me mostrou sua prancha e prometeu me ensinar a surfar. Eu não tinha coordenação motora nenhuma nem pra andar de bicicleta, quem dirá pra surfar.

Sabia que estávamos chegando quando víamos areia no asfalto. Já dava pra ver as crianças felizes com suas bolas e baldinhos, os adultos com coolers e uns idosos em uma espécie de motinha andando com seus chapéus.

Senti o cheiro do mar assim que chegamos e sai do carro. Era engraçado como até o ar da praia era diferente. Por um breve momento, senti paz absoluta, como se nada pudesse interromper minha transição de pessoa para uma parte da água.

 Então os garotos me gritaram para ajudar a montar a barraca e o momento de paz absoluta acabou.

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1207 palavras

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora