You Were A Stranger In A Bar

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I

Não era para acontecer. Eles estavam de lados opostos, literalmente. Akira queria sumir, ir embora, cavar um buraco no chão e se enfiar lá dentro. Daisuke tinha deixado ela na mão, como ele sempre fazia quando saiam para alguma festa que ela tinha sido obrigada a vir. A música era alta demais, muitas pessoas acabavam se encostando nela e as bebidas eram caras demais. Bateu a cabeça na parede - gordurosa - que estava encostada e xingou Daisuke pelo que parecia ser a milésima vez.

Kian estava entediado. Ele estava no seu terceiro drink e as bebidas começaram a ter o mesmo gosto de fruta. As batidas das músicas eram iguais e não tinha ninguém no mínimo interessante. Ou talvez ele já estava cansado de todo mundo. As pessoas pareciam iguais. Talvez ele tenha começado a ficar sem graça depois de um tempo. Acontece.

Ao mesmo tempo, ambos saíram de onde estavam e andaram para a saída. Kian só queria dormir, talvez pedisse comida. Estava pensando no que iria pedir. Já Akira, estava pensando em jeitos de matar Daisuke e fazer parecer um acidente. Talvez ela colocaria veneno no café dele quando ele chegasse na casa dela com ressaca. Daria pra culpar no coma alcoólico. Mas aí ela teria que apagar a pessoa que ele dormiu à noite também. Muito trabalho para uma recompensa baixa.

Já perto da porta, os dois perdidos demais nos próprios pensamentos para prestar atenção no que havia na frente. Eles se bateram, o que acabou com Kian derrubando a cerveja que tinha comprado para levar e um dos cacos cortando um pouco o tornozelo de Akira.

- Puta merda garota, olha por onde anda - Kian disse falando um pouco mais alto para ela ouvir

- O mesmo pra você, imbécil do caralho! Eu cortei minha perna - Akira respondeu com a mesma intensidade

Isso fez com que Kian se preocupasse o mínimo. Não iria sair sem pelo menos ajudar a garota. Ele não era tão ruim assim, ou pelo menos queria acreditar que não era. Ela aceitou acompanhar ele até a enfermaria. Acabou que não tinha uma, apenas um kit pequeno de primeiro-socorros que Kian mesmo teve que fazer.

- Eu não acredito que aquele filha da puta do Daisuke me trouxe pra porcaria de uma boate que nem enfermaria tem - A estranha disse provavelmente disse mais pra ela mesma do que para tentar começar uma conversa com Kian

- Seu namorado?

- Ew, não - Ela disse finalmente olhando para ele - Meu melhor amigo. Ele me arrancou de casa para depois de cinco minutos me largar e se atracar com alguém.

Kian riu fraco do comentário dela, porque se fosse em outros tempos, ele mesmo já estaria indo para casa de alguém que ele mal saberia o nome por agora.

- Você pensa como minha irmã, a diferença é que ela já teria me matado a essa altura - A garota riu um pouco - Aliás, como é seu nome?

- Akira. E o seu?

- Kian - Ela não pareceu reconhecer o nome, o que foi uma benção - Então Akira, como um pedido de desculpas, posso pagar um drink para a senhorita?

- Não precisa, você já fez meu curativo. Acho que isso já foi pedido de desculpas o suficiente - Ela disse se levantando. O corte não tinha sido muito profundo e o curativo que Kian fez tinha sido o suficiente - além de que as bebidas nesse lugar são um assalto.

- Não é nada. Eu insisto, você pode escolher.

Como Akira não era de recusar uma proposta, e Kian não tinha cara de que iria envenenar ela, então uma bebida não faria mal a ninguém. Eles se sentaram no bar nos únicos lugares que tinham sobrando. Já deveria ser por volta de uma da manhã e a boate só parecia encher mais e mais.

- O que vão querer? - Um bartender que já parecia cansado apareceu

- Uma caipirinha - Akira pediu primeiro

- Negroni - Kian pediu, e pelo que ela tinha visto a mistura de três bebidas fortes - Você não é muito de beber, não é?

- Não sou muito de beber fora de casa. Muita vulnerabilidade - Isso era demais para contar pra uma pessoa que ela tinha acabado de conhecer, mas tinha algo em Kian que era tranquilizador

- Nunca parei pra pensar nesse ponto

- Porque você é homem

- Bom ponto - Kian riu - Com o que você trabalha, Akira? Tem uma língua muito afiada

- Advogada. E eu sou muito boa no que faço, e não pense que eu sou convencida. São apenas fatos.

- Humilde. Sei que você não perguntou, mas sou detetive

- Estranho, eu trabalho com a parte criminal e nunca ouvi seu nome.

- Detetive particular - Ele tinha um sorrisinho de lado que era extremamente irritante

- Síndrome de Sherlock Holmes, entendo. Uma pena.

Kian riu de verdade, como não ria havia meses. E Akira riu também e começou a explicar o que "Síndrome de Sherlock Holmes" significava. Talvez não tenha sido uma perda de tempo tão grande ter saído de casa hoje.

As bebidas chegaram e o negroni estava meio fraco e Kian reclamou. Também reclamou de todas as outras bebidas que ele tinha tomado. Já Akira disse que a caipirinha estava forte demais, e Kian riu da cara dela. Eles continuaram conversando, continuaram bebendo, e tendo cuidado para não darem nenhuma informação preciosa sobre eles mesmos. Tudo estava ótimo.

A música não incomodava Akira, ele não estava lembrando que Daisuke existia nesse momento. As pessoas não conseguiam encostar nela onde estavam. As bebidas tinham gostos diferentes para Kian agora, e ele não estava concentrado o suficiente na música para perceber que elas ainda tinham o mesmo ritmo. Eles se sentiam vivos. Vivos como estavam precisando se sentir.

No dia seguinte Akira acordou com uma dor de cabeça infernal e com Daisuke num estado de quase morte em seu sofá. Mas ela se sentiu leve e sorriu ao ver o número escrito na palma de sua mão. Kian não acordou até meio dia quando sentiu seu corpo necessitando de uma aspirina e comida. Sua cabeça estava querendo matar ele, mas ainda assim se lembrou de colocar o número escrito na sua palma na porta da geladeira.

Our Love Was So Beautiful, But We Were Meant To Be TragediesOnde histórias criam vida. Descubra agora