I Felt Like Dying So I Wrote You A Letter, Only To Remember How Our Love Felt

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BÔNUS

Kian devia estar no carro por no mínimo duas horas, só criando coragem para entrar no apartamento. A chave que ele segurava já estava suada, e ele simplesmente não conseguia soltar a chave ou sair. Ele não conseguia fazer nada. Havia anos que ele não voltava.

Havia anos que ele não voltava ao lugar que aprendeu o que era um lar. O lugar, que no final ele tinha vontade de voltar. Que ele sabia que depois de um longo dia o abraço de Akira estaria lá, sempre. Até que não estava mais. Até que nunca mais estaria, até que a única coisa que restava era sua memória.

Enquanto Kian olhava seu reflexo no espelho do elevador, percebeu que estava acabado, tanto que se fosse confundido com um cadáver, não iria julgar. Mas como ele estaria bem? A culpa pesava e o colocava para baixo.

Ele chegou no oitavo andar e não podia deixar de sorrir fraco quando viu o tapete de gatinho na porta. Enquanto ele lembrava quantas vezes Akira tinha falado que ela tinha tido um gato quando criança, por isso tantas coisas com o tema, a mão dele tremia para colocar a chave na fechadura.

Quando finalmente conseguiu abrir a porta ele fechou o olho, e a única imagem que passava na cabeça dele era o corpo de Akira ensanguentado, e a única coisa que ele ouvia eram os gritos dela, o chamando de sádico. Porque era isso que ele era, um sádico, um idiota.

O apartamento estava diferente, mas ao mesmo tempo igual, Kian pensava enquanto tirava o colar de dentro da blusa e o apertava. Akira tinha trocado o sofá e os papéis de parede. Mas no hack que a televisão ficava, a mancha do vinho que Kian tinha derrubado sem querer continuava. E as cadeiras das bancadas ainda eram desiguais porque uma tinha quebrado de um jeito que até hoje ele não sabia como tinha acontecido.

E tudo isso doeu, doeu muito. Doeu tanto para fazer ele se perguntar "o que estava fazendo aqui?". Kian teve que parar e respirar e analisar o espaço para tentar respirar um pouco, ele tinha que se lembrar de ir de pouco a pouco, em passinhos porque se não ele não ia aguentar.

Indo para o escritório ele viu algumas contas em cima da mesa e uns papéis espalhados, provavelmente do trabalho dela. Pensar que ela nunca mais iria resolver esses casos, ajudar essas pessoas era... era de mais. Mas no meio dessa bagunça, Kian encontrou um papel dobrado que tinha uma grande letra K.

Quando ele abriu e viu seu nome na letra de Akira, foi o suficiente para fazer ele chorar de novo.

Kian,

Eu espero que você nunca veja essa carta. Mas como você iria ver? Se até hoje você não invadiu meu apartamento, não acredito que vai ser essa a primeira vez que você vai fazer isso depois de anos só para roubar uma carta que você nem sabe que eu tô escrevendo.

Agora é duas e trinta e três da manhã e eu me sinto a pessoa mais idiota do mundo escrevendo isso, só porque eu senti um mal pressentimento. Olha que lógica falha: eu sinto que vou morrer e eu começo a escrever uma carta para meu ex, que eu odeio.

Porque eu te odeio, Kian Cohen Katsuhira, eu te odeio tanto por ter chegado na minha vida tão sorrateiramente e ter me deixado tão violentamente. Eu te odeio por ter pegado, roubado, furtado até o título de amor da minha vida e depois ter me deixado para morrer.

Puta merda, Kian, eu te odeio por não ligar, eu te odeio por ser tão cego e não perceber as merdas que você e sua família fazem. Eu te odeio por você ainda me fazer rever nossas fotos e os post-its que costumávamos deixar. Eu ainda escuto seu sussurro dizendo que me ama e eu te odeio. Eu quero te colocar contra a parede e te socar até seu nariz quebrar.

E o que mais me irrita nisso tudo, é saber que eu sei que apesar de tudo, você ainda teria aquele sorriso de lado insuportável no rosto. E eu te odeio por já ter me feito amar esse sorriso um dia.

Você lembra? Você lembra da primeira vez que você me levou para jantar? E que na rua do restaurante tinha uma cabine fotográfica daquelas antigas? E que eu te obriguei a tirar as fotos? E que isso só fez a gente se atrasar ainda mais? Você lembra da noite seguinte que nós dividimos as quatro fotos porque você queria colocar ela na carteira, e você ficou com suas e eu com duas? Você ainda tem essa foto Kian?

Quando eu cheguei em Lisboa a primeira coisa que eu fiz foi colocar meu anel (aliança?) no fundo de uma gaveta numa esperança que depois disso eu nunca mais lembraria de você. Eu estava errada. E você Kian? Aposto que nem sabe mais onde está o seu.

Mas apesar de tudo, eu sei do fundo da minha alma (e eu posso até tentar me enganar) que no final você ainda vai ser o meu grande amor, que mexeu comigo, que deixou minha vida de cabeça pra baixo. E essa é uma das razões de eu te odiar, Kian. E eu infelizmente ainda te amo e te amo mais do que você possa imaginar.

Agora eu estou chorando, pensando que talvez nós tenhamos sido as pessoas certas um para o outro, mas apenas no tempo errado. E o tempo sempre, sempre seria errado. Talvez nós fomos um grande erro do universo, mas um erro que eu cometeria de novo.

Eu sinto nos meus ossos que essas são minhas últimas horas e eu só queria lembrar de como foi o melhor ano da minha vida, antes dela desabar. Só queria me lembrar de como seu amor me deixou viva, de como por uma vez em minha existência eu tinha um propósito. Eu saí do piloto automático.

Eu vou morrer em algum momento próximo e o que eu mais queria sentir era como nosso amor era. Como sua mão tocava na minha, como seu sorriso era doce e não ríspido. Como meu coração batia mais rápido e eu sentia que podia voar. Eu sinto sua falta todo dia e odeio isso.

Eu sinto que você esqueceu do que aconteceu, e eu só fui mais um dos seus muitos casos. Enquanto eu morri por dentro, você só continuou sua vida. E eu queria que você olhasse nos meus olhos e dissesse que não. Eu queria que você falasse qualquer coisa que me desse a mínima indicação que você se importa. Que você não é esse ser apático que eu vejo andar pelas ruas. Que mesmo no fundo você ainda é meu Kian.

Seria tão, tão mais fácil se eu conseguisse simplesmente te esquecer. Te esquecer, esquecer da gente, mas essa merda parece uma tatuagem e isso me faz te odiar mais ainda. Porra, eu te odeio porque te amo. E eu me odeio por te amar.

Eu te odeio
Eu te amo

Akira

Kian não chorava mais, ele não tinha mais forças restantes nele para isso. Ele não tinha força nem para ficar em pé, por isso estava jogado que nem um saco no chão com as costas para a parede mais próxima pronto para o abate. Ele podia ser levado para uma sala de tortura naquele momento que não iria sentir nada, porque aquilo, aquilo foi demais.

E por instinto ele sabia que caixa era que ela estava falando, ele onde estava e também sabia do paradeiro da chave. Então, não pensando direito, deixando a memória muscular tomar conta, ele pegou a caixa que estava debaixo da cama, e a chave certa, que estava na última gaveta da cómoda.

E quando Kian abriu a caixa, foi como se estivesse abrindo seu coração. Nela, havia, exatamente como Akira tinha falado: post-its, guardanapos cheios de recadinhos bestas. Até a vaquinha que eles tinham conseguido em um daqueles parques que você tem a sensação que o tempo passa diferente. Tinha a foto deles que ela tinha falado e de uma casa grande, recortada de uma revista que eles falaram que algum dia eles morariam ali.

Era demais, tudo era demais, Kian não aguentava mais. Isso não era possível, não tinha como algo doer tanto assim. A porra do karma estava o sufocando, as palavras de Akira estavam ecoando na sua cabeça e ele não conseguia. Ele não...

Kian tirou a foto que tinha na carteira e colocou na caixa junto com a carta e a trancou deixando a chave em cima da mesa. Ele nunca mais ia ver nada dessa caixa na vida dele.

E quando ele foi embora, assim que ele trancou a porta, ele tentou, realmente tentou não olhar para trás. Ele tentou bloquear os sentimentos, tentou voltar com a postura apática. Mas era demais, eram sentimentos de mais e ele estava muito acabado para ele conseguir deixar tudo debaixo do tapete.

Na mesma tarde, quando Isabelle finalizou com o corpo dele, o último pensamento que Kian conseguiu conjurar depois de ter forças para pedir a ela para cuidar de seu filho, foi Akira. Akira com o sol batendo em seu rosto e rindo, feliz. 

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⏰ Última atualização: Sep 14, 2021 ⏰

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Our Love Was So Beautiful, But We Were Meant To Be TragediesOnde histórias criam vida. Descubra agora