Foi no ano de 1.712 em Corunha, na Espanha, que o pirata Aiser Grey decidiu que viveria a maior aventura de sua vida. Capitão do Diamante Negro, o jovem e audacioso pirata viaja de sua cidade natal até a Ilha de Tortuga incansavelmente a procura de...
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Naquela noite, o céu iluminou o Diamante Negro. A tempestade trouxe com ela o desespero, obrigando a tripulação a afundar sua coragem no oceano enquanto viam seu caminho rumo ao desconhecido parecer cada vez mais mortal. Em meio ao caos envolto no escuro, o capitão não teve tempo de impedir que seu filho fosse jogado no mar, já que as ondas insistiam em balançar o barco de um lado para o outro com força. O brilho do céu tocou o fundo do mar, iluminando também o rosto da criatura mais temida dentre os marinheiros e piratas que ousavam se aventurar no oceano. A sereia encarou o garoto que, em vão, tentou fugir, pois ela logo o alcançou.
Aiser Gray abriu os olhos, desnorteado. Seu tom castanho amendoado agora reluzia em tons de roxo por conta da tempestade que caía lá fora. Ele mostrou-se frustrado quando percebeu que, assim como na última noite de chuva, aquele pesadelo o estava atormentando de novo. Era a mesma coisa sempre que chovia.
“Esse sonho outra vez…”, sussurrou ele, decepcionado. Seu corpo pareceu ter despertado quando ele finalmente piscou duas ou três vezes, como se tivesse sido puxado de volta de um abismo profundo. A imagem daquela sereia assolava sua mente há muito tempo e mesmo assim, ele nunca foi capaz de descobrir como seu sonho terminava. Obcecado por eles, Aiser se acostumou a forçar sua mente a reproduzir sempre as mesmas imagens em um ciclo vicioso enquanto tentava se libertar de sua própria agonia. Afoito, o rapaz passou a mão na testa, jogando para o lado o seu cabelo molhado por causa do suor porque, como se não bastasse, fazia calor naquela noite. Era Maio ou Junho; a primavera estava chegando ao fim e seus dias de descanso também, pois duas semanas se passaram desde que o Diamante Negro atracou na cidade de Porto, em Portugal, para manutenção e reabastecimento. Ainda deitado, o rapaz virou-se para o lado em sua cama pequena e fria, encarando o lampejo brilhante do lado de fora do barco através de sua janela redonda. Não era possível ver muita coisa.
Ele não seria capaz de voltar a dormir, então deixou seus aposentos rumo ao convés, caminhando alguns passos largos até a orla do navio. Ele se pôs a encarar o céu brilhante da primavera por algum tempo até ver uma estrela cadente rasgar a escuridão da noite diante de seus olhos. Antes, sua mãe teria dito: “Faça um pedido, mas não conte a ninguém, pois é uma regra da Terra dos Desejos”.
“Que besteira”, pensou o rapaz, deixando-a de lado para dar atenção a algo mais interessante. Há muito tempo, Aiser ganhara de seu pai um um livro de presente, algo como uma herança, objeto este que ele sempre carregava consigo. Não era um livro grande, pois era pequeno o bastante para que coubesse no bolso traseiro de sua calça e assim como fazia quando estava entediado, Aiser também o lia quando estava se sentindo ansioso ou perdido. Era um livro antigo de capa dura e escura com título de “As Crônicas de um Pirata” gravado nela em alto relevo, como se fosse uma escultura feita de couro.
“Muitas são as histórias contadas pelos piratas sobre os sete mares. Uma das, senão a mais fascinante de todas, é sobre uma joia há muito tempo perdida. Boatos de que para encontrá-la, seria necessário atravessar os mares do Caribe seguindo um simples aviso: caso ouça a sereia cantar, deve ignorar, porque se prestar atenção, logo você morrerá.”
Era como se aquele trecho chamasse Aiser para uma grande aventura sempre que o lia. O vento soprou poeira em suas mãos e ele a seguiu com os olhos, deparando-se com o porto da cidade à sua frente, iluminado pelo sol que, aos poucos, começava a surgir no horizonte. Ele observou as ondas, o céu, os pássaros indo para longe, mas nada nesse mundo o deixava mais encantado do que eles: navios. De onde eles estavam vindo? E aqueles ali na frente, para onde estavam partindo?
Doze anos se passaram desde que Aiser decidiu o que faria de sua vida. Um pirata? Quem poderia imaginar?