“Tão Logo quanto a Próxima Primavera”
Aiser ficou em Corunha por mais dois dias, mas não voltou a ver a tal mulher, supondo que tal encontro deveria ter sido mera coisa do destino, e ele não estava disposto a permanecer ali por muito mais tempo para que o destino brincasse com ele. Entretanto, Aiser desejava vê-la novamente para que pudesse se despedir, mesmo sem saber seu nome pois, para ele, seria um insulto deixar uma dama como ela esperando seu retorno. Infelizmente, nada podia ser feito, mesmo que Aiser tenha tentado, sim, uma última vez encontrá-la, correndo até a Torre de Hércules pela manhã, em vão. O pobre capitão pareceu decepcionado, é verdade, e olhou ao redor na expectativa de encontrar alguém, mas não havia nada que pudesse ser visto ou ouvido, exceto sua respiração ofegante.— “Tão logo quanto a próxima primavera”? Será? – pensou ele, ansioso. Para o seu azar, nem mesmo seus amigos Tulio e Miguel conheciam alguém com as características descritas por Aiser, o que o fez sentir como se estivesse procurando por um fantasma. Infelizmente, seu último dia em sua cidade natal tinha chegado ao fim.
Ah, despedidas! Aiser as detestava. Os tripulantes do Diamante se encarregavam dos últimos preparativos para deixarem Monte Alto mais uma vez. Ficaram em Corunha por dois dias, mas é claro que a estadia de todos em terra não se baseou apenas em diversão. Eles precisaram limpar o casco do navio e retirar as algas presas à ele, assim como tiveram que abastecê-lo com mantimentos, o bastante para a viagem. Aiser observava sua tripulação trabalhando, orgulhoso, enquanto era observado por Tulio e Miguel às suas costas.
— Ouça, Aiser, se pretende ser o homem mais rico da Espanha, volte logo, porque eu estou precisando de dinheiro. – Tulio brincou, colocando a mão no ombro do amigo.
— E vivo, por favor. Não desejo ir a nenhum funeral. – foi a vez de Miguel, em meio a risos.
— Voltarei vivo e cheio de histórias para contar. – disse Aiser, virando-se para os dois amigos — Preciso ir agora, camaradas, pois não posso me demorar. Seis anos se passaram e eu já tenho vinte e três. Não quero aproveitar minha fortuna apenas na velhice. Adeus, em breve nos veremos novamente.
O pirata, ansioso, bateu continência aos amigos e subiu ao bote rumo ao navio, agarrando-se às cordas assim que chegou. Ao dar as ordens, todos os piratas se dirigiram aos seus postos e finalmente, a âncora foi levantada. Aiser foi até a roda do leme, preparando-se para assumir o controle do navio que, em pouco tempo, da Ilha de São Miguel, zarparia em direção à Tortuga, uma pequena ilha repleta de esconderijos onde os piratas gastavam sua fortuna, abusavam do álcool e lutavam entre si por pura diversão. Quero dizer, estavam quase sempre tão bêbados que sequer se lembravam que poderiam simplesmente morrer a troco de nada fazendo isso.
— Virar à estibordo! – gritou Flynn de cima do mastro; ele era o olheiro — Soltar todas as velas! – e não demorou muito para que o filibote ganhasse velocidade.
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PIRATA ESPANHOL - A LENDA DO CRISTAL AZUL
PertualanganFoi no ano de 1.712 em Corunha, na Espanha, que o pirata Aiser Grey decidiu que viveria a maior aventura de sua vida. Capitão do Diamante Negro, o jovem e audacioso pirata viaja de sua cidade natal até a Ilha de Tortuga incansavelmente a procura de...