Jealousy

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A imagem refletida no espelho era de um homem diferente. Pela primeira vez na vida sua imagem o fazia sorrir. Não por aparência, mas por perceber que seus olhos tinham um brilho diferente. O sorriso fácil suavizava suas feições e ele sentia como se fosse anos mais jovem. Como se todo o peso do mundo tivesse saído de seus ombros.

Não era verdade, é claro. Pedro ainda era o Imperador do Brasil. Naquele momento vestia seus trajes formais. Traje este que só havia mudado de tamanho no decorrer dos anos, porque continuava uma constante em sua vida. Em alguns instantes estaria no andar de baixo recepcionando os novos deputados do país. Do seu país.

Mas, pela primeira vez na vida, Pedro sentia-se sortudo. Feliz. Era esse o efeito do amor em sua existência. Amar pela primeira vez e se sentir amado em retorno tinha um efeito tranquilizador e dava a ele algo que sempre faltou: segurança. Pedro, naquele momento, sentia-se seguro, como se pudesse enfrentar o peso de suas obrigações. Não estava mais sozinho.

O fim dessa solidão também não tinha relação com ter pessoas em seu entorno. Sempre teve isso. Centenas de pessoas que passaram em sua vida esperando dele um papel específico. Imperador, líder, irmão responsável. Mais tarde marido, e então pai. Todas essas pessoas conheciam o lado que precisavam dele. Mas, até aquele momento, nunca havia sentido que alguém o conhecia por completo e sem esperar nada em troca.

Quando Chicá, sua irmã, indicou Luísa Margarida de Barros Portugal, a Condessa de Barral, para a educação das princesas, Pedro jamais imaginou o que viria com ela. Não aquela ventania, que fizera tudo ser revirado, desde o primeiro segundo. Antes de ver os olhos dela, Pedro já estava encantado. E apavorado.

Encontrou em Luísa um mistério que não esperava. Luísa chamava sua atenção com qualquer gesto gracioso. O fazia sorrir com suas histórias, concordar com suas opiniões, e muito rapidamente Pedro descobriu um sentimento que nunca, nunca antes, havia sentido. Era tão intenso a ponto de sentir vontade de arriscar tudo apenas por alguns momentos com ela.

Luísa também o olhava de uma forma que nenhuma pessoa havia olhado antes. Seus lábios faziam cumprimentos formais, seus atos eram contidos, mas desde o primeiro momento Pedro também notou que os olhos dela faiscavam ao vê-lo. Como se os pensamentos dela também fossem levados para caminhos não habituais.

Quando a beijou pela primeira vez, Pedro sentiu como se fosse seu primeiro beijo na vida. E quando fez amor com Luísa, entendeu que nada do que vivera antes fazia qualquer sentido. Que nenhuma mulher despertara nele nada parecido em tantos anos. Ao ser beijado por Mariquinha Guedes após conhecer Luísa, Pedro não sentiu nada além de repulsa. E em sua noite com a própria esposa, era como se cumprisse uma obrigação, algo esperado dele. Seus velhos papeis. E ainda assim seus pensamentos estavam em sua Condessa.

Por quase um ano viveu com a perspectiva de Luísa nunca perdoá-lo. Escrevia todos os dias, implorava por respostas, mas tudo o que ela dava em retorno eram palavras polidas, distantes e profissionais. Procurou por ela assim que retornou ao Rio de Janeiro, mas a Condessa parecia tão inclinada à perdoá-lo quanto estava no último encontro antes da viagem.

O dia anterior havia sido uma tortura completa. Estar fisicamente próximo e emocionalmente era muito pior do que passar tantos meses longe. Luísa evitou qualquer aproximação, não retribuiu nenhum olhar. E por isso, quando recebeu o bilhete da Condessa solicitando o encontro deles, Pedro não conseguiu pensar em nada positivo.

Esperou pela chegada dela naquele teatro onde haviam se amado pela primeira vez. Quis rir da ironia, da quase crueldade dela escolher aquele cenário para mais uma vez partir seu coração com indiferença. Mal conseguiu reagir quando Luísa levou a conversa para um lado completamente oposto. Quando ouviu a declaração de amor daquela mulher que virara seu mundo.

Momentos - Pedro e LuísaOnde histórias criam vida. Descubra agora