Lights Are On

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Uma bebida forte era tudo o que ele precisava. Vestindo seus trajes de gala, agora com as duas filhas casadas com homens que elas escolheram e amavam. A oportunidade que ele nunca teve e que proporcionou à Isabel e Leopoldina. Deveria ser um dos dias mais felizes de sua vida. E talvez tenha sido, até os convidados irem embora.

Restou a Quinta, que sempre foi grande demais. Silenciosa demais. Impessoal demais. E ainda assim era tudo o que ele conhecia. Era sua casa e sua prisão. E, se um dia tivesse que sair dali, significava que havia sido expulso do país, assim como seu pai foi um dia. Aquela enorme construção era seu mausoléu particular.

Era tudo muito pior agora, muito mais pesado. Tanta coisa acontecia ao mesmo tempo, e tanta coisa dependia dele. Ele era novamente o pai, o marido, o Imperador. Todos aqueles papéis cumpridos a vida inteira. E não havia mais espaço para ser Pedro. Apenas Pedro. Ele suspirou pesadamente.

Precisava se acostumar com isso. Com esse pedaço seu que havia perdido seu espaço. Sem a luz que entrou subitamente em sua vida e perdurou por nove anos. Mas que estava apagada agora. Há meses, se fosse sincero. Sequer deveria se sentir tão miserável pela partida de Luísa no dia seguinte. Sua Luísa já não existia mais.

Tudo o que encontrava no olhar dela nos últimos meses era vazio. Mais do que isso. Era o profissionalismo de sempre, a dedicação ao Brasil, ao cuidado com as princesas. E a determinação de partir, sem olhar para trás. De encerrar aquela história e ser, como ela havia dito uma vez, a amiga que ele teria para a vida toda.

Mesmo isso não havia acontecido. Luísa havia cortado as relações. E Pedro tentou. Sabia que havia tentado. Cartas, encontros furtivos, até mesmo conselhos de guerra. Ele havia tentado se manter próximo. E então, em algum momento, parou de tentar. Parou porque machucava tentar, machucava a rejeição.

Pedro tentava não julgar Luísa. Tentava se colocar na situação dela, sentir o que ela sentia. Os medos, as alegrias, os sacrifícios. Queria dizer que entendia, mas havia uma mágoa intransponível que insistia em escurecer sua vida. Uma voz que apontava o quanto ela estava decidida a ir embora, o quanto era fácil para ela deixa-lo. Talvez não fosse, mas naquele momento era tudo o que conseguia pensar.

Luísa embarcaria para a França ao lado de Dumas. Encontraria lá o marido, Eugênio. Voltaria para a vida na Europa. Para as cortes, bailes, luxo. Para uma vida que ele não poderia oferecer. Só podia oferecer encontros escondidos em uma casa distante. Podia oferecer seu amor, que era sincero, mas que jamais seria público.

Ela estava certa, é claro. Pedro sequer conseguiria imaginar como teria tolerado conviver com Eugênio por todos aqueles anos. Como seria capaz de dormir sabendo que Luísa estava na mesma casa que o marido. Mesmo agora essa possibilidade tirava seu sono. Compreendia que ela não quisesse mais aquele papel em sua vida.

O papel que Luísa descreveu quase como secundário. O que estava muito longe da realidade, mas já não importava. Ela iria fisicamente embora, mas emocionalmente já havia se despedido dele. Já havia enterrado aquela relação, e não havia nada a fazer além de deixa-la ir.

E talvez fosse sua atitude mais infantil, mas não se despediria. Havia pedido licença assim que Dumas aproveitou o momento para relembrar a partida. Do que adiantava aquela despedida impessoal? Do que adiantava vê-la sair de sua vida com uma reverência, como se nada em todos aqueles anos importasse?

Já havia dado adeus para sua Luísa, sem nem saber que estava fazendo isso. E teria feito tanta coisa diferente se soubesse. Teria tentado memorizar tudo sobre ela. Mas era tarde. E ele deveria ter imaginado que algo tão bom não duraria para sempre. E, naquela noite, antes de adormecer, chorou como um menino.

Momentos - Pedro e LuísaOnde histórias criam vida. Descubra agora