Remember Me

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Encarei o teto decorado da casa que não pertencia a mim. Não era a primeira vez que eu estava ali, na cama de Cristiano Dumas. Ele dormia pesadamente ao meu lado, mesmo que o sol ainda estivesse no céu naquela tarde de uma terça-feira qualquer. Nossos encontros costumavam acontecer assim, de forma discreta, em momentos do dia que ninguém estranharia a minha audiência.

Cristiano nunca se casou, não teve filhos, e embora eu fosse uma viúva com um filho agora adulto, não queria os falatórios. Não que Cristiano não propusesse um enlace formal, mas não era o que eu buscava. A verdade é que eu não sabia nem o que buscava ali, ao lado dele.

Há anos eu tinha ido embora do Brasil, jurando amor eterno à Pedro. O amor permanecia, mas não nosso relacionamento. Em parte era culpa minha, por ter ido embora pedindo que ele tentasse de verdade com a Imperatriz. Mas eu também não havia tolerado que ele levasse a tentativa a sério. Mesmo que as cartas dele deixassem claro que não a amava da mesma forma, que não havia paixão.

Eu me afastei dele dia após dia, adiando responder suas cartas, perguntando quase nada sobre sua vida, não respondendo às cobranças por uma escrita mais elaborada. E então ele havia se afastado de mim quando, há dois anos, eu viajei ao Brasil e propositalmente não fui ao Rio de Janeiro.

Ele havia entendido, segundo sua última carta, que já estava quase gasta de tantas vezes em que a abri. Com as margens rasgadas por meus dedos molhados de lágrimas segurarem com tanta força. Pedro havia entendido e se afastado. E eu aceitei seu afastamento com a dor na alma de alguém que preferia viver sem saber de nada à ser lembrada que havia outra pessoa ao lado dele.

Foi então que me aproximei de Cristiano. Ele era um bom amigo, alguém que estava por perto, e em algum momento de carência me entreguei à ele. Talvez entrega não fosse a palavra certa. Não quando havia sempre a sombra de Pedro. Quando a lembrança do beijo dele não saia de minha boca, quando eu fechava os olhos e desejava que fosse ele comigo.

Levantei discretamente, começando a me vestir. Eu nem deveria estar ali naquela tarde, não quando havia tanto a organizar. Foi uma busca desesperada por alívio, por distração. Mas nada poderia realmente me distrair. Não após aquele bilhete recebido naquela manhã.

Um bilhete da Imperatriz, que informava que ela e Pedro estavam na cidade e gostariam de me visitar. Um bilhete que me fez quebrar uma xícara e permanecer imóvel até entender o que havia lido. E ainda não compreendia o motivo daquela visita, especialmente sendo Teresa a remetente.

Talvez fosse apenas uma questão cordial. Seria esperado que os Imperadores me visitassem estando em Paris. Tínhamos, afinal, uma longa relação de trabalho. E por isso, tão logo consegui me recompor, enviei um recado os convidando para o jantar no dia seguinte. E era esse jantar que eu precisava preparar, preferencialmente convidando uma série de pessoas interessantes que fariam as atenções se dissiparem.

Foi o que fiz ao sair da casa do general. Mas o ar de Paris era diferente com Pedro estando na cidade. Como se uma força estranha existisse na cidade das luzes. Até mesmo as águas do Sena pareciam mais tumultuadas do que o normal, e o vento frio das esquinas fazia meu corpo ficar arrepiado.

Não dormi naquela noite, e o dia seguinte passou como um borrão. Eu era, afinal, uma reconhecida anfitriã daquela cidade. E nada poderia estar menos do que perfeito. Tudo precisava estar organizado, porque no momento que Pedro pisasse em minha casa, eu não mais teria mais controle de nada. Eu só rezava que ninguém percebesse.

Pedi a Cristiano que chegasse mais cedo, porque conhecia Pedro. Pedro estaria em minha casa exatamente no horário combinado, muito antes do que qualquer outro convidado. E Dumas estava ali, mas estava estranhamente quieto. Sem piadas galantes, sem gracejos.

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2022 ⏰

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Momentos - Pedro e LuísaOnde histórias criam vida. Descubra agora