Jay + Nella = pra sempre

233 19 8
                                    

—KYLE—

Chorar não é algo que os Martinelli normalmente fazem. Chorar nunca é uma opção pra uma família que esta sempre sorrindo. Simplesmente não vale a pena, não é nosso feitio, mas coisas raras também são dignas da minha família, e pela primeira vez, eu vi minha mãe chorar.

Não foi algo com muito exagero, foram apenas algumas poucas lágrimas que não chegavam nem na metade da bochecha pra serem lâmpadas pelas costas das suas mãos. Ficou ainda mais estranho quando meu pai foi até ela e abraçou, afagando seu cabelo cacheado e sussurrando palavras de conforto.

— Eles...eles...— ela tentava dizer, a voz falha e dolorosa, as palavras pareciam presas na garganta — se foram. Se foram, Gio. Se foram...

Meu pai, que nunca suportou ver qualquer resquício de tristeza ou amargura no rosto da esposa, piscou fortemente tentando impedir algumas lágrimas também, tentando se manter forte na frente dela, um deles precisava ser.

Eles não me contaram muita coisa, mas mamãe, com os olho inchados e o rosto lavado, horas depois, me pediu para tomar um banho e me arrumar. Ela me ajudou a colocar um vestido preto comportado que quase nunca usei. Odiava vestidos, a maioria deles era rodado, então precisava segurar ele o tempo todo para que o vento não o levantasse e mostrasse minhas roupas de baixo. Era uma tortura.

Lembro de minha mãe ter prendido meus cachos em um coque alto, colocando uma floriznha de pedras prateadas bem ao lado do coque e me calçou umas sapatilhas sem graça. Eu não reclamei, pela primeira vez na vida, minha mãe me deixou usar algo com minha cor favorita: preto.

Mas a cor já não me pareceu mais atraente quando desci do carro e vi várias pessoas vestidas com roupas pretas. Pessoas chorando por baixo dos óculos escuros e se abraçando abraçando força.

Era deprimente, e um pouco assustador.

Antes de entrarmos na casa bonita de campo com vigas altas e piso de de madeira escura, minha mãe se abaixou até ficar na minha altura e acariciou meus ombros.

Borbollone, preciso que saiba de algumas coisas antes de entrarmos, e quero que fique quietinha e se comporte, está bem?

Assenti, balançando a cabeça, em silêncio.

— É o tio Miller e a tia Lizzie? — resolvo perguntar. Treze anos não é muito pouco pra entender o que estava acontecendo.

Óbvio que estávamos em um velório, e aquela era a casa dos Miller. Só havia dois motivos para todas aquelas pessoas estarem ali, de preto. Tio Miller e tia Lizzie ou o idiota do James Miller, e eu estava rezando pra que fosse ele, já que gosto muito da minha madrinha e do meu padrinho.

Quase solucei quando minha mãe fechou os olhos e disse que eram eles. Depois disso, eu só ouvi pequenas partes do seu discurso. Ouvi algo como acidente, avião, hospital e conselho tutelar. Coisas demais pra mim.

Ela me abraçou e me pediu pra ficar nas escadas, comportada, quando meu pai me trouxe um sorvete de chocolate pra disfarçar um pouco a fome. Não tivemos tempo de comer antes de sairmos de casa.

Entrei em modo automático e andei até a sala, onde havia as escadas para o segundo andar. A poucos metros do degrau, me deparei com um garoto magrelo. Usava um terno mal vestido, uma camisa social amassada, com as mangas arqueadas, uma gravata mal colocada, um all Star e meias coloridas até metade da perna que ficavam amostra.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 13, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Contos de Greendale e RiversideOnde histórias criam vida. Descubra agora