III

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Algumas horas se passaram de uma caminhada longa para lugar nenhum. Os assassinos agora estavam atentos aos topos das árvores, temendo encontrar mais um daqueles corvos umiradianos, que poderiam indicar que eles estavam sendo vigiados por aqueles pequenos espiões com penas.

Entre os homens do Lorde Egeldan havia o mago Hurian, um homem misterioso e de alta confiança daquele a quem servia e que era útil em rastrear qualquer coisa que não pudesse escapar dos olhos de seus corvos, pois ele entendia o crocitar daquelas aves e com elas conversava e as davam ordens de forma mística e intrigante. O chamavam de Senhor dos Corvos.

    Arista não mais largava o arco ou sua visão do céu, aguardando a ave negra que o cruzasse e desta vez estava decidida a acertar bem na cabeça do pássaro, não importa altura que estivesse. Nenhum entre os assassinos ali duvidaria que ela fosse realmente capaz de realizar tal proeza. Com uma mira menos aguçada, Zamino caminhava atrás dos outros também com seu arco negro, que não era feito da madeira da tão desejada citrária, mas sim da madeira de freixo, pouco polido, mas que não abria mão de uma certa precisão. Se errasse o primeiro tiro, provavelmente acertaria o segundo ou o terceiro. 

    Estavam calados, concentrados e tensos, embora o velho Guromir, carregando seu pesado e longo machado com a esquerda, manuseava o cachimbo longo na boca com a direita, enfiando o cabo na boca e o retirando para soltar aquela nuvem cinzenta sobre Zamino que vinha logo atrás. 

    Mesmo em alerta, não podiam evitar que aqueles muitos olhinhos negros os vigiassem e contassem seus passos rumo ao desconhecido desde as árvores. Aqueles olhinhos estavam em posse de Hurian e que, por sua vez, vigiavam os assassinos através deles e indicavam sua localização aos homens do Lorde. De repente, um estalar suspeito veio da copa de um pinheiro à direita da trilha e, no mesmo instante, os cinco assassinos reagiram.

Arista atirou cegamente nos galhos verdes assim como Zamino e Evran, que por sua vez atirou sua adaga com tamanha destreza e rapidez que por pouco não ultrapassara as leves e rápidas setas rumo ao ruído. Penas negras caíram levemente da árvore e demoraram alguns instantes até alcançar o chão, foi então que os assassinos de Ionus tiveram certeza de que o pássaro espião havia sido morto. Entretanto, três outros pássaros abriram voo, forçando os arqueiros a recarregarem suas armas e atirarem rapidamente. Arista acertou o primeiro, enquanto que Zamino errara as duas flechas que atirara e, na terceira, sua flecha fora ultrapassada pela de Arista que atravessara bem a cabeça da ave – como ela havia prometido a si mesma – que nem ao menos crocitou antes de cair. A terceira ave fugiu, longe do alcance da assassina que em seguida olhara com o ódio estampado nos olhos para o franzino assassino que errara os tiros. 

    - Quantos homens o Lorde enviaria até aqui pra nos caçar. – Perguntou Alog retomando a caminhada. 

    - Não mais que vinte, eu acredito. – Respondeu Evran.

    - Poderá contar quando vierem nos matar. – Ergueu a voz a mulher em frente ao grupo.

    - Eu daria conta de quarenta deles se não estivesse tão faminto. – Disse o velho. – Não seria uma má ideia se comermos esse cavalo. – E ergueu o machado, golpeando a mão direita com o cabo, com voz trêmula com o cachimbo à boca. – Um único golpe e...

    - Se encostar neste cavalo eu arranco suas bolas e o faço engolir. Ainda assim ficaria com fome, pois ninguém ficaria estufado depois de comer duas coisas tão minúsculas. – Respondeu a mulher, de língua tão afiada quanto a lâmina que carregava consigo. Zamino riu tenuamente enquanto que Alog olhou para trás curioso para ver a reação do velho assassino e pôde ouvir após o seu resmungar de ódio para com a mulher, algo passar zumbindo entre ele e Guromir. Logo passou outra flecha, e mais outra, até que acertou o cachimbo do velho que tratou de se abaixar e de se arrumar atrás de um carvalho. Três flechas atingiram o peito do cavalo que derrubara Arista ao chão e que ficara com dificuldade de se levantar, até que Evran rapidamente estendeu-lhe a mão e a puxou até atrás de uma rocha. Seu arco havia caído no meio da trilha e ela não conseguiria recuperá-lo sem se expor aos arqueiros do Lorde. 

    - Quantos são? – Sussurrou Alog atrás da árvore à direita da rocha onde Evran e Arista se escondiam. O rapaz ousou por a cabeça para fora para obter a noção de quantos eram e por pouco não foi acertado no olho por uma flechada.

    - São bem mais do que vinte. 

    Uma voz ergueu-se entre os caçadores de assassinos, que se aproximavam unilateralmente por suas costas.

    - Rendam-se agora seus patifes miseráveis. Demônios degenerados que blasfemam o criador. Vermes que desafiaram a honra de nosso Lorde, vocês pagarão com suas... 

    Os insultos continuaram à medida que os soldados se aproximavam vagarosamente. Alguns montados, outros a pé com os arcos em mira, assim como Evran havia visto, trajados todos em armaduras prateadas ornadas com flâmulas azuis e brancas, as cores do Lorde. Subitamente, um machado voou por entre as árvores e acertou a testa do homem que praguejava os assassinos com palavras humilhantes, – este que parecia ser o líder daquele batalhão – palavras não mais dolorosas do que aquela machadada em sua testa, eu aposto.

Os assassinos sem mais esperar avançaram até os soldados e lhes apresentaram a fúria que os haviam tornados famosos tanto em Umiradia como em tantos países do continente. Zamino largou o arco de freixo e num salto, avançou com suas duas lâminas leves contra dois soldados que estavam há não mais que dois passos por trás da árvore onde se escondia, enfiando em cada um as lâminas bem no pescoço ao mesmo tempo, enquanto que Alog, por sua vez, avançou com sua pesada marreta, esmagando aqueles que ousavam se por à sua frente, sendo acompanhado por Evran que o dava cobertura com sua espada longa de dois gumes tão afiada quanto as presas de uma serpe dourada. Arista correu até seu arco e o recarregou com três flechas, acertando três soldados ao mesmo tempo. Uma fina flecha acertou o braço esquerdo de Alog que logo em seguida a removera sem demonstrar dor, enquanto que, imparável, ele avançou até o arqueiro autor da flechada e o agarrou pelo pescoço com uma das mãos, levantando-o até seus olhos ferozes e impiedosos como os de um falcão ao agarrar um esquilo, em seguida arremessou o soldado de cabeça a uma rocha que, com a pancada, espirrou sangue – e miolos – por metros ao redor.

Evran desviou-se do que seria um golpe que o atingiria por trás no pescoço e enfiou a espada no homem a quem lhe ameaçara sem ao menos se virar, logo em seguida golpeou com um soco firme do queixo de um dos soldados que vinha pela frente, fazendo seu elmo voar longe, logo após seu dono cair no chão e ter tido como a última visão de sua vida o machado de Guromir a decepar sua cabeça. 

    Quarenta homens ou mais haviam caído em poucos minutos enquanto que não mais que dois conseguiram fugir. O último a ser avistado numa correria desesperada por sua vida caiu perante a flechada de Zamino, que com seu arco de freixo, mirara com máxima precisão desta vez, abrindo um largo e sangrento sorriso orgulhoso na direção de Arista, que por sua vez o ignorou – pra variar.  

    O cavalo, morto afinal, serviria de comida na noite que se sucedia.   

   

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⏰ Última atualização: Sep 14, 2021 ⏰

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