Ao amanhecer, quando o sol mal havia surgido no horizonte coberto pelo verde, Evran sentiu um chute em suas costas, fazendo-o acordar subitamente.
- Acorda auriano. - Gritou-lhe Arista, mal humorada como sempre, assustando o homem que inevitavelmente conseguira pegar no sono nesta noite angustiante para os seus pensamentos. - A gente já tá indo.
A Fogueira agora não passava de um punhado de brasas rodeadas por meia dúzia de pedras queimadas. Ele ergueu-se e viu os outros arrumando seus poucos pertences para logo mais partir e tratou de se apressar. Partir pra o desconhecido, pois naquela floresta eles jamais saberiam qual direção era a certa a seguir, embora eles temessem finalmente ir em direção do que é inevitável para qualquer ser vivente, – a morte – que os perseguiam a cada passo e parecia tão perto quanto aquela chuva que ameaçava cair sobre a mata de Difers, a partir da visão de Evran que olhou para o céu cinzento sem muita de relance.
Arista era a única que se dava ao luxo de ir à cavalo, pois quando o cerco a eles se deu, a única que conseguiu roubar um desses animais foi ela e ninguém ousava sequer tentar tomar-lhe sua montaria, por mais doloridos que seus pés estivessem, tão pouco ela pensava em usar sua gentileza e ceder por alguns instantes o animal a outro. Nem em mil anos ela pensaria nisso.
- Eu estou congelando. - Disse Zamino de repente. Era entre os cinco o que mais sentia a temperatura. - Que tal me dar uma carona, Arista? Eu posso esquentar você... Você me esquenta...
- Ou eu posso atirá-lo dentro do fogo quando pararmos pra acampar. Garanto que vai ficar bem quentinho. - Respondeu amargamente a mulher sem virar-se. Zamino encolheu-se com sua fala.
Arista não escondia por traz de seus traços brutos e rudes uma certa beleza. Não era uma bela rosa espinhenta, mas também não era um cacto intocável. Era magra e extremamente ágil. Seu cabelo era curto, raspado nas extremidades e com um certo volume no topo da cabeça a pender para a esquerda. Os olhos negros eram ameaçadores e intrigantes, dos quais poucos ousavam encarar. Seu traje negro, quase se mesclava ao couro do cavalo que a transportava. O arco de citrária pendia em suas costas, vindo das ilhas do sul de Amgor, único lugar onde era possível encontrar desta madeira tão apreciada pelos arqueiros quanto rara, resistente e flexível. Era uma arma tão boa quanto a arqueira que a portava.
Zamino jamais se abatia por muito tempo após sofrer com a rudez de Arista depois de cada investida que dava. Ele tinha a paciência curta, curta demais até mesmo pra um assassino como ele, no entanto, bastava mirar aquela mulher por alguns instantes que dentro dele crescia novamente um sentimento que ele não ousava chamar do que parecia ser.
Ele era do norte, de uma terra da qual a maioria das pessoas de Umiradia não sabia o nome, ou não lhe interessava saber. Era o oposto de Alog em tudo. Enquanto que o grandalhão impressionava por seu grande porte físico, Zamino era franzino demais até para ser um mero escudeiro. O primeiro havia vindo das terras quentes e místicas de Sandia, no extremo sul do continente, enquanto que o segundo das mais gélidas e nevoentas terras ao norte. Alog tinha seu corpo repleto de tatuagens escuras onde gravavam símbolos estranhos para aquele país - e para a maioria - gravados em sua pele de bronze. Zamino, por sua vez tinha a pele branca demais e nela o que se via ao invés de símbolos tatuados na pele, eram cicatrizes por todas as partes, desde pequenas pontadas de adaga, a grandes como a que se encontrava em seu rosto, marcado por uma listra extensa que partia do pescoço à lateral da cavidade direita de seu olho - ele apelidou esta cicatriz como "quase", fazendo referência à quase cegueira que por pouco não acontecera naquele combate contra um lince negro. O cruel assassino franzino também tinha os pelos da face e da cabeça ruivos como uma lebre de fogo, enquanto que o guerreiro grandalhão era careca e não era possível encontrar em seu corpo pelo algum que não fosse os de suas sobrancelhas ou da barbicha em seu queixo.
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Contos de Umiradia - Corrente Invisível
Fantasi"Uma aventura emocionante, engraçada e extremamente imprevisível. Vale a leitura." New York Times Mentira hehe. Cinco assassinos fogem de um destino que parece inevitável, acorrentados às ordens de um rei e com um duque furioso em seus encalços, e...