6. Café e canela

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"Os odores têm um poder de persuasão mais forte do que o das palavras, aparências, emoções ou vontade. O poder persuasivo de um odor não pode ser defendido, ele entra em nós como respiração em nossos pulmões, ele nos enche, imbuí-nos totalmente. Não há remédio para isso." 

Patrick Süskind



Naquele dia, Harry precisou ficar até mais tarde no Observatório ajustando alguns detalhes para a apresentação do dia seguinte. Ele era o coordenador do departamento de divulgação científica do Observatório Griffith, um dos mais conhecidos e procurados observatórios dos Estados Unidos da América. Como coordenador, Harry era responsável por apresentar os shows do Planetário, tanto para o público em geral — turistas, basicamente — e escolas, além de também participar de pesquisas sobre novos corpos celestes com outros astrônomos em suas "horas vagas". Ele gostava de ajudar, mas a maior parte de seu trabalho se concentrava em apresentações e divulgações científicas, dentro do Planetário.

Harry era muito amado e bem visto em seu ambiente de trabalho, sempre muito pontual, inteligente e interessado, toda semana chegava com histórias novas e descobertas sobre determinado planeta ou estrela. Resolveu tentar a sorte para esse cargo pois, além de lidar com o público, — Harry adorava — o horário também o permitia ser flexível — o que ele prezava muito. 

Quando concluiu um ano trabalhando como coordenador do departamento de divulgação científica, seus superiores ofereceram-no uma vaga para pesquisador intermediário. O salário era consideravelmente maior, mas ele precisaria abrir mão das manhãs para trabalhar incansáveis horas. E abrir mão das manhãs significava uma coisa: abrir mão das horas sagradas com Ayla.

E se há uma coisa que Harry nunca abriria mão, seria de passar tempo de qualidade com sua filhote. 

Negou com um sorriso no rosto e confiança nas alturas. Eles realmente o queriam naquele cargo.

Quando percebeu o dia se esvaindo para a noite surgir, enviou uma mensagem para Niall o pedindo para que buscasse Ayla na escola, já que Kira e Ellie estudavam no mesmo local, era fácil para o ômega loiro — e mesmo se não fosse, ele daria um jeito de buscar a pequena alfa. Niall sempre ajudava Harry quando precisava e vice-versa. 

Respirou aliviado quando obteve resposta quase instantânea do ômega com apenas um "Claro, H. Deixe comigo ;)" e continuou seu trabalho. Ele precisava posicionar algumas estrelas caídas pelo auditório e conferir uma última vez os slides e projetores. Era um trabalho consideravelmente fácil e rápido, mas Harry era perfeccionista e com certeza não iria embora até saber que estava tudo perfeito para o dia seguinte.

Quando estava finalizando, se atirou em uma das cadeiras do auditório e olhou para o teto — que, assim que anoitecia abria a cobertura, revelando o céu —  encontrando diversas estrelas com poucas nuvens, sorriu satisfeito ao olhar ao redor e resolveu avisar ao amigo que estava indo para casa.

— Obrigada, titio! 'Cê é o melhor de todos! 

Harry ouviu sua filhote dizer antes de abrir a porta do carro apressada para adentrar sua casa. Como todos os seus sentidos eram apurados, Harry sabia que a menor estava chegando em casa desde o momento em que Niall dobrou a esquina de sua rua. 

Abriu lentamente a porta enquanto Ayla saía desengonçada com sua mochila — rosa, com nuvens e glitter — pesada em suas costas do carro de Niall que acenou com um sorriso sapeca no rosto, o que fez Harry franzir o cenho mas gritar em agradecimento pelo cuidado com sua filhote. 

Dancing in the Moonlight | l.s - ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora