Seis anos haviam se passado daquele primeiro paragrafo. Quase dez, da ideia inicial.
Nathan poderia dizer a qualquer um que se trava de uma bloqueio criativo, mas haviam onze livros agora em sua prateleira que diriam o contrario, sem contar aquelas caixas empilhadas no seu hall neste momento com sua mais recente publicação. Também 2 de seus últimos contratos tinham sido livros apenas com contos, historias pequenas, coletâneas que ele as vezes escrevia por hobby.
Seu publico adorava. Comprava qualquer coisa que ele escrevesse. Sua cara já era conhecida entre os leitores mais fieis. Dois de seus livros já tinham andamento de contratos para virarem filmes e talvez uma série.
Escrever para Nathan era fácil. Muitas vezes ligava para sua esposa que trabalhava de enfermeira e pedia um tema. - "Uma lata de lubrificante WD40" - dizia Penélope, sem nenhuma pretensão e talvez até para brincar com o marido. Mas Nathan, obstinado que era, sentava-se ao computador e trabalhava num conto sobre uma estranha lata de lubrificante quase esquecida no porão de um grande magazine, com inscrições inumanas, e o infortúnio rapaz que a encontrou e levou para casa.
E assim a mente dele funcionava. Era criativo. Gostava de escrever. Transformava qualquer tema proposto. Mas aquela historia... aquela inenarrável historia.
Sentou-se mais uma vez naquela noite com o intuito de trabalhar na historia. Tinha se preparado para aquilo. Tinha definido agora uma linha narrativa. Pelo menos acreditava que sim. Manteria o primeiro paragrafo, e as paginas seguintes deveriam ser levemente alteradas.
Era noite de sábado, Penélope estava de plantão no hospital. Seus cachorros estavam alimentados e presos. Seu celular no modo avião. Sem a pressão do seu Editor. E o melhor, chovia. Nathan costumava brincar que ganhava super poderes de escritor quando chovia, e isso era verdade. Escrever qualquer coisa enquanto a chuva lavava o mundo lá fora era simplesmente inenarrável, como tinha sido até agora aquela sua historia.
Cadeira ajeitada, a luz estava boa... mas antes de "mãos na massa", ele precisava reler o que tinha escrito anteriormente que o fez decidir que não estava bom e repensar a historia. E eram quinze paginas. Aquele rascunho já chegou a ter pelo menos vinte paginas em algum ponto de suas tentativas passadas de escrevê-lo.
Na primeira versão, a linha narrativa mostrava e-mails enviados e respondidos pelo protagonista e seu marido, estando esta em outro pais, sendo guiada por desconhecidos para o desconhecido. A protagonista teria então o encontro com um horror sobrenatural e indescritível, narrado por e-mail após um choque mental em que ela se encontraria. Não fazia sentido, ninguém escreve e-mail com a mente em frangalhos.
Foi então a primeira mudança. Algumas paginas apagadas, uma nova linha narrativa, o primeiro travamento. Ele não sabia como chegar naquele ponto da historia, o ponto crucial, o encontro do protagonista com a criatura. E o arquivo, ainda sem nome, ficou salvo como Projeto Futuro.
Passou-se dias, meses. As vezes no banho ele lembrava da historias, e pensava em novas fomas de contá-la. Então sentava-se a mesa e tentava novamente. Alterando pontos de vistas, alterando narrativas, alterando acontecimentos... mas nunca conseguia prosseguir. Mudava, voltava atrás, apagava tudo. Sonhava com a historia, precisava contá-la, mas nada fluía através de seus dedos quando tentava mexer naquilo.
Em uma das tentativas ele nomeou a historia, não com o nome final que certamente daria ao terminar, mas com o que acontecia toda vez que ele tentava fazer aquilo. "A Magia termina aqui.odt"
O arquivo era fechado. Outras ideias vinham, fluíam, tinham o seu ponto final, mas aquela historia... ela voltava a sua mente.
Voltava a sua mente enquanto ele repousava na banheira em algum momento da noite. Voltava a sua mente quando ele girava de um lado para o outro em sua cama antes de pegar no sono. Enquanto passeava pelas ruas com seus cães. Aquilo martelava a sua mente até mesmo quando ele parava para cagar. Tentava abstrair a mente nas horas vagas que tinha, lia muito, jogava pequenos jogos mobile, criou hábitos organizacionais que beiravam a um TOC. Nada disso fazia efeito, ele precisava terminar aquilo que havia começado.
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Infinito, cósmico e aleatório.
Short StoryEmbarque na viagem pelo Infinito, cósmico e aleatório. Qual distancia do infinito você pode percorrer antes de sua mente entrar em colapso? Quais desagradáveis surpresas cósmicas te aguardam a cada pagina? Vidas comuns, levadas através do tempo e es...