35 sinais de que você esta sendo abduzido

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Meu pai era uma figura que as pessoas achavam excêntrica. Sempre foi assim, mas minha mãe o amava. Não era muito sociável, tinha coleções estranhas em sua garagem - entre elas; coleções de terra, coleções de sementes, coleções de ossos de animais mortos que ele encontrava na estrada.

Mas engana-se quem o achava louco ou demente, pois era muito lúcido até em seus últimos dias de vida, e também muito inteligente. Adorava ler e era capaz de resolver equações complexas de matemática sem uso de papel ou calculadora e isso sem ter estudado até o fim do colegial. Posteriormente quando minha irmã, sua caçula, completou 10 anos, ele acabou concluindo o ensino através de um supletivo, emoldurou o diploma e o fez questão de pendurar na parede da sala onde ele encontra-se até hoje como posso comprovar quando visito minha mãe.

Eu era sua filha do meio, sua primeira menina e sempre a queridinha. Meu pai me tinha sempre por perto, e por esse motivo eu o conhecia melhor que os outros e embarcava, até mesmo sem querer, em suas aventuras. Era sua parceira.

_Se alguma coisa acontecer comigo, corra pra casa e chame sua mãe e seus irmãos! - ele dizia, quando nos embrenhávamos no mato a procura sabe-se lá de que. Como se em nossas andanças por lugares estranhos, qualquer coisa pudesse acontecer com ele e não comigo. Ele esperava ser atingido por um raio a qualquer momento, ou tragado pela terra, ou picado por um escorpião. Estava sempre atento, mas não tinha o cuidado de me prevenir de riscos, me achava invulnerável.

Minha mãe horrorizada com as roupas sujas e as pegadas de lama por toda a casa nos proibiu, sem sucesso, de sair por ai sem rumo. Meu pai dizia que não era sem rumo, disse que procurava alguma coisa, mas não sabia dizer o que ele procurava ao certo.

Esse, claro, era um dos sinais para o meu pai, segundo um artigo que ele leu no jornal, dias antes de soltar a bomba na mesa do café numa manhã de sábado. Lembro-me deste fato com todos os detalhes que uma mente normal deixaria passar. Lembro-me do repórter na TV trazendo mais noticias sobre as explosões que deixaram vários mortos numa plataforma de petróleo na Bacia de Campos há dois dias, assunto mais que batido. Lembro do meu irmão tentando misturar toddy ao seu leite com sucrilhos e minha mãe o repreendendo, enquanto minha irmã Sophia, com apenas dois anos tomava o seu suquinho indiferente a qualquer conversa que compartilhávamos a mesa. Eu tinha nove para dez anos em 2001, minha mãe perguntava como estávamos na escola, perguntava sobre as provas, meu irmão Lancelot - o chamávamos de Lance, seu nome foi em homenagem ao cavaleiro do Rei Arthur, nome do meu pai - fazia graças quanto a suas notas, meu pai tomava seu café com os olhos no horizonte perdido em pensamentos. Foi quando o suquinho de Sophia acabou e a conversa também acabou junto aquele barulhinho de sucção do canudo seguido de um arroto da menininha. Todos riram, até minha mãe, mas meu pai permaneceu estático. Foi quando ela o cutucou:

_Arthur, onde você esta?

Meu pai desceu a xícara de café a mesa, estalou os olhos e olhou cada um de nós antes de falar.

_Tenho uma coisa a dizer.

Fez-se silencio enquanto aguardávamos sua revelação final. E quando ele falou, minha mãe derrubou a colher que usou pra mexer o café, meu irmão engasgou abafando um riso forçado, Sophia voltou a sugar o canudo no copo vazio e eu, penso hoje que talvez somente eu houvesse levado aquela declaração a sério, no momento em que ela saiu:

_Eu acho que estou sendo abduzido! - disse ele, e continuou indiferente aos olhares que recebeu. - Não agora, claro. Mas acho que estou sendo abduzido e que isso já aconteceu mais de uma vez.

_Que papo é esse Arthur? - disse minha mãe.

_Você tá loco véio? - disse meu irmão.

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