01- Capitulo 1

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Abri meus olhos encarando a imensidão azul acima de mim. Franzi a sobrancelha percebendo ser o céu em um dia qualquer ensolarado.

Me apoiei sobre os cotovelos na grama observando ao redor vendo meus pais um pouco ao longe, sentados em uma toalha quadriculada típica de piqueniques em filmes americanos.

- Você deve estar achando estranho- me sobressaltei ao ouvir uma voz ao meu lado. Desde quando ele estava aqui?

- Noah?- me sentei sorrindo para ele. Isso era um sonho?

- Na verdade não, não é um sonho e eu não sou Noah- minha cara de confusão devia ser bem óbvia pois ele riu para mim- sou um fruto da sua imaginação, mais ou menos isso.

- Anh... Okay- falei bem devagar tentando entender- então você não é real?- ele bufou e se levantou me fazendo levantar junto.

- Parte de mim sim. Eu estou aqui para te ajudar Josh. Você está em coma.
Arregalei os olhos lembrando do que havia acontecido

"Morrer, seria uma grande aventura"

Algumas imagens se passaram por minha cabeça me fazendo recordar de tudo. Levei minha mão na altura onde a bala havia atingido e não senti nada, nem uma cicatriz.

- Você está em coma Josh, isso quer dizer que você está dormido.

- Isso é um sonho?

- Não exatamente, é uma lembrança- ele começou a caminhar comigo ao seu lado e só naquele momento percebi que ele estava usando um terno- esse verão, você tinha treze anos, e sua mãe preparou um piquenique em família.

- Josh, já está na hora de comer- minha mãe gritou me fazendo encara-la.  (Lembrando que nessa época Josh já era adotado)

- Ela pode me ver?- perguntei ao suposto Noah e ele assentiu- e pode te ver?

- Noah não está nessa lembrança, então não- assenti sentido a brisa bater em meu rosto.

- Eu... posso acordar?- perguntei me sentando novamente na grama, mas dessa vez, sob a copa de uma árvore.

Ele ficou em silêncio enquanto ajeitava o terno e parecia desconfortável em responder.

- Se você achar a porta correta- me deitei encarando as folhas iluminadas pelos raios solares.

- Como assim porta correta? Tipo um labirinto?

-Isso, tipo um labirinto.
Fechei os olhos. Sorri ao sentir um beijo em minha testa.

- Pensei que não fosse o Noah- disse com humor ainda de olhos fechados.

- E não sou, quem te deu esse beijo foi o real. No seu corpo físico- abri os olhos encarando o garoto sentado sobre seus tornozelos a minha frente.

- Como faço para achar a porta certa?

- Venha comigo- me levantei e o segui até a saída do parque. Quando voltei meu olhar ao parque vi meus pais e Will comendo, quando um garoto se aproximou se sentando com eles. Era eu.

- Por aqui- voltei a realidade encarando o falso Noah que atravessou a rua e parou em frente a um prédio- cada vez que você abrir uma porta, uma nova lembrança aparece. Tente- apontou para a porta automática e me aproximei dela, vendo-a se abrir para mim. Assim que passei por ela, me vi na sala de estar da minha antiga casa. 

Meus pais e tios estavam conversando, de pé na cozinha, e sentados no sofá da sala. Pela janela vi a neve encobrir a rua, e pelo pinheiro enfeitado por bolas vermelhas e douradas deduzi ser natal.

- Pra achar a porta correta você vai passar por lembranças agradáveis, como essa, e outras nem tanto que você precisará enfrentar. A ultima porta, vai dar para a pior lembrança de todas, aquela que você enterra em sua mente e nunca mais quer pensar nela.

- E eu preciso enfrentar todas?- ele assentiu enquanto eu olhava ao redor e percebia que meu roupa florida, do parque, foi trocado por um azul claro e sapatos da cor preta- quanta portas eu vou ter que enfrentar?

- Depende de pessoa para pessoa, mas com a sua experiência de vida, diria que são muitas. Você tem muitas lembranças negativas, você tem que tentar torna-las positivas. Você está entre a vida e a morte Josh, só depende de você agora- assenti caminhando pela sala e sorrindo para meus tios que bebiam vinho enquanto minhas tias, junto de minha mãe, terminavam de preparar o almoço de natal.

Eu me lembrava daquele natal, foi o ultimo que tinha passado com minha família, depois Noah me levou e... bem, fiquei por lá mesmo.

- São só memórias Josh- sussurrei a mim mesmo caminhando para a porta da cozinha. 

Confesso que no momento em que toquei a maçaneta fiquei com medo de qual lembrança eu teria que enfrentar. Talvez uma tarde no lago, ou até mesmo algum aniversário, poderia ser também uma coisa bem trágica que acontecera comigo a alguns anos. Poderia ser qualquer coisa.

Respirei fundo e girei a maçaneta dourada em minha mão passando pela porta de madeira.

O gramado bem cuidado me enganou por alguns segundos, me fazendo pensar estar em algum parque. Quando levantei meu olhar e vi todos aqueles túmulos e lápides, já sabia onde estava.

Minha roupa preto me dava certeza de que estava em um enterro de um ente querido. Mais que isso. O enterro de minha mãe biológica.

Duas semanas antes de completar seis anos minha mãe morreu. Alguns amigos dela estavam envolta do caixão, mas nenhum parente, nem mesmo Peter.

Meus avós maternos morreram antes do meu nascimento, e nunca tive tios ou qualquer coisa do gênero. Eu não tinha ideia de quem poderia ser meu pai na época e nenhum dos amigos dela tinham condições de cuidar de mim.

Era doloroso voltar a pensar que eu era sozinho no mundo. Sem pais, sem avós, sem família.

Caminhei junto a uma ex colega de trabalho de minha mãe até ficar de frente ao túmulo. Tinha quase certeza de que eles estavam vendo um garotinho de cinco anos com os olhos inchados de tanto chorar.

Eu lembrava muito bem daquele dia, pois foi naquele mesmo dia que eu havia ido para o orfanato.

- Josh, você quer falar alguma coisa?- o padre que estava seguindo com o enterro se voltou para mim. Na época eu não quis, tinha medo, para mim ainda não era real que ela havia morrido.

- Ela foi minha melhor amiga por muito tempo- comecei a dizer sorrindo de lado vendo a foto dela no túmulo- ela é minha melhor amiga na verdade, e sempre vai ser. Eu só quero dizer que espero que ela esteja bem, lá em cima, e que ela seja feliz, mesmo depois da morte- sorri sentindo uma lágrima solitária cair por minha bochecha.

Eu sempre quis falar algo em seu funeral, e me arrependia por não ter feito isso. Por mais que seja uma lembrança alterada, eu me sentia feliz por saber que hoje eu conseguiria fazer isso.

- Parabéns Josh, você conseguiu cumprir sua primeira memória dolorosa, se superou- sorri para Noah e voltei a segui-lo para a porta do cemitério.

Não importasse quantas portas eu teria que abrir até achar a ultima, eu iria conseguir. Só tinha medo de qual seria a ultima lembrança. Eu não fazia ideia de qual poderia ser.

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Oi gente, capítulo novo em meu aniversário de 16 🎉🎊

Estão gostando da adaptação?

Qual será a última e pior lembrança do Josh??

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Desculpa qualquer erro ortográfico

Beijos e até o próximo capítulo <3

My dear possessive- NOSHOnde histórias criam vida. Descubra agora