02 - Marco zero

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𝑁𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟
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— Me diga, por favor, me diga que sabe nadar — Hela disse ainda sentada na cama de metal forrada com um colchão velho — Estamos afundando.

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— Vamos dar um jeito — Hela disse mais para convencer a si mesma do que Giulia que chorava em pé na cama, no fim das contas, ela não sabia nadar.

A luz vermelha enchia os olhos de Horik que quase não pensava direito por causa do desespero. Ele mais que ninguém sabia que deixariam Hela e Giulia para a morte no fundo do navio.

— Onde está indo? — Finan segurou o braço do filho — A minha ordem foi: Vá para os botes.

— V-vou tirar Hela, da ce- — Um tapa sonoro interrompeu a frase.

— Esqueça isso, ela não é sua família, melhor que morra assim do que ter o trabalho de levar aquela menininha pertinente até o rei. Um acidente perfeito — O comandante disse firme enquanto Horik limpava o pequeno corte no canto da boca.

— Não as deixarei para trás — Bradou firme do garoto. Quem diria, um magricelo e pequeno pestinha como esse, Finan se surpreendeu levantando as sobrancelhas, o filho nunca havia demonstrado tanta determinação, na verdade o loiro com a pele pálida demais era sempre apático, sobre tudo e todos — Hela é sim parte da família, o sangue que corre nas veias dela pode não ser o que corre nas suas mas é o mesmo que corre nas minhas.

— Está virando as costas para mim? — Finan parecia meio magoado com a rebelião tão inesperada.

Um lobo não abandona seu líder — Não se sabe se foi impressão mas os olhos de um azul tedioso e monótono de Horik cintilaram por uma fração de segundo num tom vivo e que queimava como fogo — Papai, o Norte lembra.

— O que--? — Antes que pudesse dizer mais qualquer coisa Horik se enfiou pela multidão desesperada que corria por sua própria vida não sabendo que haviam botes suficiente para todos.

— Hela! — Os berros desesperados rasgavam a garganta do garoto — Giulia! — Ele era meio desajeitado com os pés e tropeçou até o último degrau do nível onde estavam as celas. Inundada até a cintura e a água continuava a subir — Comandante!

— Pare de gritar garoto, sua voz fica falhando igual uma galinha engasgada — A voz de Hela soou da cela, esticando a mão para indicar onde estavam — Nos tire daqui, rápido, Giulia não sabe nadar.

Hela puxava Giulia que parecia mais uma estátua congelada de pânico, assim que alcançaram o andar superior com dificuldade diga-se de passagem um grande estrondo se ouviu pelos corredores e em seguida as luzes num piscar repetido finalmente se apagaram, a mão gelada e molhada da mais nova segurou na da comandante.

Porque parecia que tudo ainda podia piorar? A água rapidamente já chegava a sola de seus pés. Hela apertou os olhos com força e tentou puxar em sua memória o caminho que fazia quando era tirada de sua cela para se torturada.

Ainda segurando a mão de Giulia a ruiva alcançou a gola da blusa de Horik o puxando por um caminho decorado nas paredes de sua cabeça, ela subiu três lances de escadas dobrando para esquerda, direita, outra vez para a direita e para a esquerda tantas vezes que os dois outros até se perguntaram se não estavam andando em círculos.

Quando finalmente o céu vermelho da tempestade se abriu bem encima de suas cabeças e um raio explodiu entre as nuvens fazendo todos por um segundo esquecerem que estava naufragando, a gritaria cessou, não fosse pelo som da chuva batendo no chão de aço e a água revolta do mar nenhum barulho seria ouvido.

Legends never die - Rainha do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora