03 ‐ Sabedoria para quem?

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No capítulo anterior
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— Comandante — A voz fraca denunciava o cansaço — Finalmente esses pássaros vão embora — Giulia também tossiu — Obrigada por vir me buscar.

Hela sequer disse algo antes de puxar a menina para seus braços, trêmula, a sensação de medo a consumiu por um segundo, não podia perder Giulia. A garota passou seus bracinhos machucados, finos e gelados em volta da comandante afim de dar um acalento que fosse.

— Eu nunca vou te deixar, é uma promessa — Giulia sorriu pois sabia que esse era o tipo de coisa que não se ouvia todo dia — Vamos sair desse frio.

Antes de poder se mexer Giulia já estava nos braços de Hela, que a carregava para uma das fendas daquele novo continente, bem, não tinha como dar para trás agora. Mais do que nunca esse era o primeiro passo no marco zero.

Nem o frio, nem a tempestade, nem mesmo os deuses irritados fariam Hela parar, Odin se esgueirou por onde começou a espionar, um sorriso divertido brincou nos lábios do Senhor dos senhores.

— Ah, então ela que vai conquistar sua própria divindade, como eles te chamam mesmo criança? — O velho ponderou com a cabeça — A filha de Odin?

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Subir aquele paredão de pedra não tinha sido fácil, não mesmo, a coxa esturricada numa ferida aberta e Giulia como um peso morto levaram Hela ao limite de seu corpo que mesmo no frio esmagador o suor quente escorria em bicas pela pele, as palmas das mãos ao chegarem no topo se encontravam em carne viva, sangrando e também escorrendo, mas a comandante não ligava, agora a sensação de ser engolida por aquela floresta imponente começou a esmagar sua alma.

Árvores monstruosas de tão grandes, pareciam até mesmo vários titãs colossais prontos para lhe esmagar embaixo dos pés, sacudiu a cabeça como quem se livra de um dejavu. Não tinha tempo para pensar nisso agora.

Pegou a pequena Giulia em seu colo e mais uma vez olhou para trás dizendo adeus, e decorando aquela vista estonteante do mar violento e da praia de areia negra, o céu cinzento e furioso fez a ruiva suspirar, ela realmente gostava desse cenário, fazia todo seu sangue esquentar.

Estamos em casa — A voz que ecoou por sua cabeça era conhecida, finalmente Fenrir voltou a sanidade — Obrigado por me manter preso pirralha, você é mais forte do que eu gostaria que fosse.

Hela sorriu sacudindo a cabeça em negação, a verdade é que a besta do fim do mundo ficou fora de si ao ver a mulher sendo torturada, mas mesmo desmaiada Hela ainda segurava firme as correntes que o prendiam, repetindo como mantra.

"Não somos como eles, não vamos enfiar nossas mãos na lama. Nós somos os herdeiros de Valhalla, somos os próximos deuses, o grande salão será nosso."

Por dias. Dias a fio, a ruiva murmurava para se convencer e acalmar Fenrir. Estava feliz sabendo que funcionou, o lobo não sairia tão cedo.

— Água — Giulia murmurou com a voz que denunciava o quão machucada estava sua garganta — Água.

— Calma — A questão era se ela tinha falado isso pra Giulia ou para ela mesma — Vamos achar água.

Hela suspirou, a floresta era chamada boreal, assim como a de Utopia, isso significava que tinham basicamente um solo bastante pobre em nutrientes, árvores coníferas que se reproduziam perto demais umas das outras tornando o chão cheio de folhas úmidas que há muito não viam o sol. Nada de frutas ou águas confiáveis, o que tinha que fazer era esperar o degelo de algumas folhas mais baixas.

Legends never die - Rainha do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora