Beginning | I |

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Sim, crianças. Eu amo aristocracia puro-sangue. Gosto da vida burguesa, detesto sofrimento e tenho uma quedinha por historias de noivado. Me julguem.

Eu absolutamente adoro o Theodore e acho que ele merecia uma família. Então, eu dei uma para ele.

Aproveitem! 

*


I - The Beginning


Theodore abriu os olhos em sobressalto. O suor lhe escorria pela nuca e sua pele se arrepiava com pavor gelado.

Ainda podia sentir o medo da queda. O cortante e estrondoso assobio do vento em seus ouvidos. O desespero em olhar para baixo e não ter forças o suficiente para puxá-la para cima. Ainda podia sentir, assim como sentia agora, o medo cimentando em seu estômago assim que suas mãos se desconectaram e a menina caiu direto para os braços da escuridão.

O rapaz afastou as cobertas para longe e se sentou na cama de dossel tentando recuperar a compostura.

Ele teria de dar um jeito nos pesadelos antes de voltar à escola. Não poderia acordar todos os meninos no dormitório a cada vez que encostasse a cabeça no travesseiro.

Desistindo de voltar a dormir levantou-se em passos trôpegos e deixou o quarto, desceu as três longas escadarias da grande mansão ancestral e, já no átrio, sentou-se no chão de mármore frio e encarou o grande retrato pendurado na parede, logo acima da lareira.

Geoffrey Nott II aparecia prostrado firmemente ao lado direito de Lullabell Nott. O homem de aparência normalmente severa tinha um semblante orgulhoso, o fantasma de um sorriso nos lábios. A jovem senhora sentada no centro da imagem, vestida em um vestido vermelho brilhante, embalava com carinho dois pequenos embrulhos de vibrantes olhos escuros que na imagem animada agitavam os bracinhos furiosamente.

Sentado ali, sozinho, Theo se sentia estranhamente esquecido. Como se até a solidão costumeira tivesse resolvido deixá-lo vagar apenas em companhia de suas memórias essa noite. Memórias felizes, recheadas de sorrisos e calor.

Theodore olhou a foto com saudade incalculável. Ele observava com carinho todos os detalhes já mapeados e estudados à exaustão. Seus olhos se desviaram do sorriso fulgurante no rosto da mãe e se alternaram entre sua própria imagem e a da irmã. Repetindo os movimentos de sempre, Theodore se arrastou pelo chão até estar bem próximo da imagem para murmurar baixinho.

"Sonhei com você novamente, Vivie. Não foi um sonho bom, nunca é, mas eu pude te ver sem ser em uma foto, então acho que teve alguma valia no fim"

O menino enrolou-se em si mesmo e fechou os olhos. A imagem gravada nas pálpebras fechadas.

"Papai quer começar e me ensinar sobre como gerenciar os negócios da família" relatou para o nada "Eu tentei argumentar e explicar que eu sequer comecei meu quarto ano, e que seria muito cedo. Mas você sabe como ele é com essas coisas. Me consola um pouco saber que se você ainda estivesse aqui ele provavelmente já estaria trabalhando no seu contrato de noivado" Theodore conseguiu reunir forças para rir antes de se apoiar nos cotovelos para levantar do chão.Olhou uma última vez para o rosto enrugado do bebê "Eu me vou agora. Já é quase manhã e eu sequer arrumei meu malão, não posso me atrasar e deixar meus amigos esperando" Aproximou-se da moldura - ele ainda não era alto o suficiente para alcançar a imagem em si - e apoiou a testa contra a madeira "Até mais mamãe. E eu volto em breve, Genevieve".

I'm not alone anymoreOnde histórias criam vida. Descubra agora