Capítulo IV
O vento gelado soprava com força. As nuvens cinzentas, densas, carregadas de escuridão, metal e o cheiro de sangue quente em uma taça de prata; vinham do norte e em breve encontrariam a encosta rochosa chegando a praia de areia cinza que ficava reclusa entre as falésias de pedra escura, talhadas em granito.
"Um tipo diferente de magia" pensou.
A menina pesava em seus braços e os cachos cheirosos faziam cócegas em seu nariz, mas Lullabel pouco se importava.
Lullabel via o quadro, a grande pintura que se desenrolava à sua frente.
Ela não sentia o frio, ela preferia sentir o arrepio doce que lhe descia pelas costas. Ela não ligava para a areia úmida entre os dedos, preferia sentir o sabor do sal da espuma do mar que tocava os pés desnudos. Ela não tinha medo das grandes e perversas ondas que quebravam contra as rochas e ameaçava engolir a ela e a criança, gostava de vê-las como uma bela recepção acalorada.
Ela temia os raios, no entanto.
Os raios cruéis que a matariam.
Não havia aviso. Chegavam em luz, calor e dor. Ela lembrava-se da sensação de ser atingida. A sensação da carne se emaranhando, atrofiando, queimando e rasgando. Dos músculos se contorcendo e retorcendo... e da luz. A luz fustigante que lhe tirou os sentidos, que queimou as córneas, dilacerou seus neurônios e partiu seu cérebro em tantos pedaços que ela jamais seria capaz de juntá-los novamente.
E então houve vida. A clara e inconfundível sensação de vida sendo criada. Magia borbulhando na pele, carne remendada, tendões conectados, músculos costurados.
Theodore gostava de raios, lembrou de repente.
Um bom menino, seu Theodore, um menino muito bom.
- Shii, pequenina - murmurou quando a criança começou a resmungar. Era muito cedo para que ambas estivessem tão longe de casa, mas era um momento importante e ela sabia que não teria sua bebe no colo por muito mais tempo. A morte viria, podia sentir o gosto de sangue e tristeza na língua, pesando nos lábios como os vinhos amargos que bebia no jantar. Lullabel alternou o olhar entre a promessa de morte que as nuvens traziam e a pequena menina em seus braços.
- Não. Essa não - aumentou o aperto em torno do corpo frágil - Essa daqui é minha.
*
- Tem certeza de que esse número é preciso? Eu quero dizer... é uma grande quantia. Uma quantia ridícula para ser honesta. Não te parece imoral que alguém tenha conseguido tanto dinheiro às custas do sofrimento de outras pessoas?
- Se pararmos para analisar, são frutos de uma jogada muito inteligente. Vai perceber que por causa da peste trouxa, a produção de poção estava em alta. Ter unido o medicamento com o mercado de transporte ilegal beneficiou ambos os lados. Henry II pôde produzir as poções, montar um negócio lucrativo para si mesmo, nesse mesmo processo empregou vários bruxos para fazer o transporte e ainda salvou a vida de muitos trouxas. Eu acho que o dinheiro foi bem ganho. Apesar de por meios um pouco desonestos.
Estavam ambos debruçados sobre um grande livro de finanças do século XVI que Hermione estava achando absolutamente fascinante. Para ela era incrível saber como seus antepassados haviam feito tanto dinheiro e como o haviam administrado.
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I'm not alone anymore
Fanfic- Eu não sabia, irmão. - Esta tudo bem. Eu não estou sozinho. Não mais. Theodore Nott gostaria de dizer que não machucou. Mas estaria mentindo. Nada machucou mais do que não tê-la ali. _____________________________________...