Part 1

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O dia começou como qualquer outro. Kara acordou, lavou o rosto, escovou os dentes e voltou pra cama, já se preparando para o que acontecia no mesmo horário de sempre. James acordava com uma ereção e se aliviava nela antes de ir para o trabalho. Ela tinha se casado com James a quatro anos atrás e tudo era diferente naquele tempo, James era diferente naquele tempo.

A cinco anos atrás Kara sofreu um acidente de carro, estava com seus pais e irmã juntos, só ela sobreviveu.

Quando acordou na cama do hospital confusa, quem estava lá era James, que era seu namorado na época. Ela acordou muito atordoada, com flashes de memória da batida, mas não conseguia lembrar de nada. Estava com um braço quebrado e alguns arranhões, que foi tudo o que aconteceu consigo no acidente.

Mais tarde ficou sabendo que tinha sido encontrada embaixo da irmã dentro do carro. Foi esse ato que a salvou. Sua irmã a salvou e ela se odiava por isso. Esse foi o motivo de várias noites em claro, desejando que quem tivesse morrido no acidente fosse ela e não a irmã.

James a acolheu, ela tinha 19 anos e ele 21. Ele tinha acabado de sair da casa dos pais pra morar sozinho e chamou-a pra morar junto com ele. Em meio ao caos e sem ter forças pra continuar na mesma casa, a casa que a lembrava todo dia da tragédia, dos seus familiares que ela tanto sentia saudade, ela aceitou ir morar com o James. Largou os estudos, vendeu a casa e foi morar com ele.

Ele foi o apoio dela, a ajudou em tudo, ajudou a seguir em frente. Contratou uma psicóloga pra ela, deu o espaço que ela precisava, não ficava em cima, deu todo o seu carinho. E após quase um ano morando juntos, se casaram. O único problema era, Kara não o amava como marido, como amante. O amava como amigo.

Mas, como machucar a única pessoa que esteve lá por ela? Como terminar com o único que permaneceu em sua vida? E então ela continuou. Não seria um sacrifício tão grande, sexo sem prazer, beijos sem graça, mas uma companhia pra vida.

Um dia, vendo que sua vida estava muito parada, sem sair de casa, sem socializar, não tinha amigas ou amigos, não tinha ninguém além de James e a psicóloga Anna, decidiu voltar aos estudos. E foi aí que tudo começou a piorar. Ela sentou pra conversar com James, estava animada nesse dia pois havia sentido vontade de realmente viver, estava sonhando em se formar e ser bibliotecária.

Quando contou que iria voltar a estudar, James surtou. Falou que ela não ia e que ela estava querendo o deixar, por isso estava planejando começar a sair de casa, não para estudar, mas para o deixar, o trair. Falou que trancaria ela e não deixaria ela sair nem pra psicóloga, caso ela continuasse com essa ideia ridícula. Após o surto, ele se acalmou e a deu carinho, chorou, pediu pra não fazer isso, que ela não precisava estudar, ele estava cuidando dela.

Assustada, Kara concordou. E a partir daí, nem como amigo ela o amava. O sentimento de proteção que ela sentia, sumiu. E a presença dele passou a ser um incômodo.

Por isso, após a tortura que é o sexo matinal, é a melhor hora do dia, a hora que ele sai pra trabalhar e só volta a noite. Que trabalho maravilhoso.

Hoje o dia seria diferente e Kara não fazia ideia.

- Hoje vou sair mais tarde. – Diz James, ofegante após o orgasmo.

Kara já estava em pé em direção ao banheiro para se limpar. Em um dia normal, ela estaria entrando embaixo da água e tomando um banho bem demorado, pra quando voltar para o quarto, encontrar o ambiente vazio, em paz, sem James.

- Porque? – Ela para de andar e o encara.

- Troquei o horário ontem pra poder organizar a casa, vou mudar todos os móveis e ampliar a casa, fazer um quarto a mais. Não acha que já tá na hora de me dar um bebê? – Ele fala se aproximando dela e a abraçando por trás.

Tudo Que Você Nunca Teve - KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora