A economia política, considerada como um ramo da ciência de um estadista ou de um legislador, propõe-se a dois objetivos distintos: primeiro, prover uma receita farta ou subsistência para as pessoas, ou, mais propriamente, capacitá-las a prover tal receita ou subsistência para si mesmas; segundo, suprir o Estado ou a comunidade nacional com receita suficiente para seus serviços públicos. Propõe-se a enriquecer tanto o povo quanto o soberano.
O avanço diferenciado da opulência em épocas e nações distintas deu ensejo a dois diferentes sistemas de economia política no que tange ao enriquecimento das pessoas. Um pode ser chamado sistema de comércio; o outro, de agricultura.
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Que a riqueza consiste em dinheiro, ou em ouro e prata, é uma noção popular que surge naturalmente da dupla função do dinheiro, como instrumento de comércio e como medida de valor. Em consequência de ser o instrumento do comércio, quando temos dinheiro podemos obter com mais facilidade qualquer outra coisa de que ocasionalmente necessitemos do que por meio de qualquer outra mercadoria. A grande questão, e que sempre acabamos por constatar, é arranjar dinheiro. Quando o obtemos, não há dificuldade para fazer qualquer aquisição subsequente. Como consequência de ser a medida de valor, estimamos o valor de outras mercadorias pela quantidade de dinheiro pela qual poderão ser trocadas. De um homem rico, dizemos que ele vale muito dinheiro; de um homem pobre, que ele vale muito pouco dinheiro. Dizemos de um homem parcimonioso ou de um que é ávido de ser rico que ele gosta de dinheiro; e um homem desprendido, generoso ou gastador é tido como indiferente ao dinheiro. Ficar rico é ganhar dinheiro; e riqueza e dinheiro, em resumo, na linguagem comum, são considerados, para todos os efeitos, sinônimos.
Supõe-se que um país rico, da mesma maneira que um homem rico, seja um país que tem muito dinheiro; e que acumular ouro e prata num país é o meio mais rápido para enriquecê-lo. Por algum tempo após a descoberta da América, a primeira indagação dos espanhóis quando chegavam a qualquer costa desconhecida costumava ser: "Será que há algum ouro ou prata a ser descoberto nas proximidades?". Pela informação que recebiam, eles julgavam se valia a pena estabelecer-se ali, ou se valia a pena conquistar aquela terra. Plano Carpino, um monge, enviado como embaixador do rei da França a um dos filhos do famoso Gengis Khan, conta que os tártaros costumavam perguntar-lhe frequentemente se havia abundância de carneiros e bois na França. Sua indagação tinha o mesmo propósito da dos espanhóis. Queriam saber se o país era rico o bastante para valer a pena ir conquistá-lo. Entre os tártaros, assim como entre todas as outras nações de pastores, que geralmente ignoram o uso do dinheiro, o gado é instrumento de comércio e medida de valor. Para eles, portanto, a riqueza consiste em gado, assim como para os espanhóis consiste em ouro e prata. Dos dois, o conceito dos tártaros talvez fosse o mais próximo da verdade.
O sr. Locke aponta uma distinção entre o dinheiro e outros bens móveis. Todos os outros bens móveis, diz ele, são de natureza tão consumível que não se pode depender muito de uma riqueza que consista neles, e uma nação que os tenha em abundância em certo ano poderá, mesmo sem qualquer exportação, e meramente por seu próprio uso e desperdício, ter dele carência no ano seguinte. Dinheiro, ao contrário, é um amigo constante, que, apesar de poder transitar de mão em mão, contanto que se possa evitar que saia do país, não é muito suscetível de ser esbanjado e consumido. Ouro e prata são, portanto, segundo ele, a parte mais sólida e substancial da riqueza móvel de uma nação, e multiplicar esses metais deve ser, assim pensa ele a respeito, o grande objetivo de sua economia política.
Outros admitem que se uma nação pudesse ser separada do resto do mundo, o fato de nela circular muito ou pouco dinheiro não traria muitas consequências. Somente a de que os bens de consumo que circulariam por meio desse dinheiro seriam trocados por um número maior ou menor de moedas; porém a verdadeira riqueza ou pobreza do país, eles admitem, dependeria inteiramente da abundância ou escassez desses bens de consumo. Mas não seria esse o caso, pensam eles, de países que têm conexões com nações estrangeiras, e que são obrigados a conduzir guerras no estrangeiro e a manter esquadras e exércitos em países distantes. Isso, dizem, não pode ser feito a não ser enviando dinheiro para fora com o intuito de mantê-los; e uma nação não pode enviar muito dinheiro para o exterior a não ser que o tenha bastante em casa. Cada nação dessas, portanto, tem de se empenhar em tempos de paz para acumular ouro e prata, para que, quando a situação exigir, possa dispor de recursos a fim de sustentar guerras no estrangeiro.