Ao se restringir, seja por meio de altos impostos, seja por proibição absoluta, a importação do estrangeiro de mercadorias que possam ser produzidas no próprio país, o monopólio fica mais ou menos assegurado em casa para a indústria nacional empregada em produzi-las. Assim, a proibição de importar gado vivo ou provisões de carne conservada em sal de países estrangeiros garante aos criadores da Grã-Bretanha o monopólio do mercado caseiro para o fornecimento de carne aos açougues. Os altos impostos sobre a importação de cereais, que em tempos de abundância moderada correspondem a uma proibição, propiciam igual vantagem aos cultivadores desses produtos. A proibição da importação de artigos de lã estrangeiros é igualmente favorável aos manufatores de lã. A manufatura da seda, mesmo que utilize matérias-primas totalmente estrangeiras, ultimamente tem obtido as mesmas vantagens. A manufatura do linho ainda não as obteve, mas avança a passos largos nesse sentido. Da mesma maneira, muitos outros tipos de manufatores têm obtido na Grã-Bretanha, ou totalmente ou muito próximo disso, um monopólio contra seus conterrâneos. A variedade de mercadorias cuja importação para a Grã-Bretanha é proibida, ou de todo ou em determinadas circunstâncias, excede muito o que poderiam facilmente supor aqueles que não estão bem familiarizados com as leis aduaneiras.
Não pode haver dúvida de que esse monopólio do mercado interno frequentemente dá um grande estímulo ao tipo específico de indústria que dele se aproveita, e muitas vezes direciona para esse emprego uma parcela maior, tanto de trabalho quanto de capital da sociedade, do que direcionaria se não fosse por isso. Mas se isso tende a incrementar a industriosidade geral da sociedade ou a lhe dar uma orientação mais vantajosa, não é de todo evidente.
A industriosidade geral da sociedade nunca pode exceder o que o capital da sociedade pode empregar. Assim como o número de trabalhadores que uma pessoa particular pode manter no emprego deve estar em certa proporção com o capital dessa pessoa, também o número daqueles que se pode manter continuamente empregados por todos os membros de uma grande sociedade deve estar em certa proporção com todo o capital dessa sociedade, e nunca pode exceder essa proporção. Nenhuma regulamentação do comércio pode aumentar quantitativamente a industriosidade de qualquer sociedade além do que seu capital pode manter. Só pode desviar uma parte a uma direção para a qual, de outra maneira, ela não teria se dirigido; e de forma alguma é certo que essa direção artificial possa ser mais vantajosa para a sociedade do que aquela para a qual ela se direcionaria de acordo com sua tendência natural.
Todo indivíduo sempre se esforça para encontrar o emprego mais vantajoso possível para o capital de que ele dispõe. De fato, é a sua própria vantagem, e não a da sociedade, que ele tem em vista. Mas o estudo de sua própria vantagem o leva naturalmente, ou mesmo necessariamente, a preferir aquele emprego que é o mais vantajoso para a sociedade.
Em primeiro lugar, cada indivíduo se empenha em empregar seu capital o mais próximo possível de sua residência e, consequentemente, tanto quanto possível, no suporte da indústria de seu país, desde que sempre possa com isso obter o lucro normal, ou não muito menor do que os lucros normais do capital.
Assim, por lucros iguais ou aproximadamente iguais, todo comerciante de atacado prefere sem dúvida o comércio interno ao comércio exterior de consumo, e o comércio exterior de consumo ao de transportes. No comércio interno, seu capital nunca está longe de seu controle, como acontece frequentemente no comércio exterior de bens de consumo. Ele pode conhecer melhor o caráter e a situação das pessoas nas quais confia, e se acontecer de ser enganado, conhece melhor as leis do país onde deve buscar ressarcimento. No comércio de transportes, o capital do comerciante é, de certo modo, dividido entre dois países estrangeiros, e nenhuma fração dele jamais terá necessariamente de ir para seu lugar de residência, ou posta sob sua própria e imediata vista e comando. Do capital que um comerciante de Amsterdam emprega transportando trigo de Konnigsberg para Lisboa, e fruta e vinho de Lisboa para Konnigsberg, geralmente metade está em Konnigsberg e a outra metade em Lisboa. Nenhuma fração dele jamais precisará ir para Amsterdam. O lugar de residência natural para tal comerciante deve ser Konnigsberg ou Lisboa, e só circunstâncias muito especiais podem fazê-lo preferir ter residência em Amsterdam. No entanto, o incômodo que ele sente por estar separado e tão longe de seu capital geralmente o faz levar para Amsterdam parte das mercadorias de Konnigsberg que ele destina ao mercado de Lisboa, e também parte das mercadorias de Lisboa que ele destina ao mercado de Konnigsberg; e embora isso inevitavelmente o submeta a um custo duplo de carga e descarga, bem como ao pagamento de alguns impostos e aduanas, ainda com vistas a ter parte de seu capital sempre sob sua própria vista e seu comando, ele de bom grado se submete a esse custo extraordinário; e é dessa maneira que cada país que tem uma participação considerável no comércio dos transportes torna-se sempre o empório, ou mercado geral, para as mercadorias dos diferentes países para cujo comércio o transporte é feito por ele. O comerciante, para economizar uma segunda operação de carga e descarga, empenhar-se-á sempre em vender no mercado interno tanto quanto puder das mercadorias dos diferentes países, e assim, na medida do possível, converter seu comércio de transporte em comércio exterior de bens de consumo. Do mesmo modo, um comerciante que esteja engajado em comércio exterior de bens de consumo, quando recolhe e reúne mercadorias de países estrangeiros, ficará sempre satisfeito se, com um lucro igual ou aproximadamente igual, vender a maior parte possível desses bens em seu país. Ele se poupa do risco e das atribulações da exportação quando, tanto quanto possa, converte assim seu comércio exterior de bens de consumo em comércio interno. Dessa maneira, o próprio país é o centro, se assim posso dizer, em torno do qual os capitais dos habitantes de cada país circulam continuamente e para o qual estão sempre tendendo, embora, por razões particulares, possam às vezes ser retirados e repelidos para encontrar empregos em países mais distantes. Mas um capital empregado num comércio interno, como já se demonstrou, vai necessariamente acionar uma quantidade maior de indústrias domésticas, bem como prover renda e emprego para um número maior de habitantes do país do que um capital igual que for empregado em comércio exterior de bens de consumo; e o capital empregado em comércio exterior de bens de consumo tem a mesma vantagem em relação a um capital igual empregado no comércio de transportes. Portanto, para lucros iguais, ou aproximadamente iguais, cada indivíduo inclina-se, sem dúvida, a empregar seu capital do modo em que ele provavelmente seja mais capaz de dar o maior apoio à indústria nacional e prover renda e emprego a um maior número de pessoas em seu próprio país.