6 - Os sistemas agrícolas

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Os sistemas agrícolas da economia política não vão requerer explanações tão longas como as que considerei necessárias dedicar ao sistema mercantil ou comercial.

Um sistema que represente a produção da terra como a única fonte de receita e de riqueza de cada país, até onde sei, nunca foi adotado por nação alguma, e atualmente só existe nas especulações de alguns homens de grande saber e grande ingenuidade na França. Não valeria a pena, decerto, examinar extensivamente os erros de um sistema que nunca causou, e provavelmente nunca causará, dano algum em qualquer parte do mundo. Vou tentar explicar, no entanto, tão claramente quanto possa, os grandes contornos desse sistema tão engenhoso.

O sr. Colbert, famoso ministro de Luís xiv , foi um homem probo, de grande industriosidade e detalhado conhecimento, de grande experiência e precisão na análise das contas públicas, e, para resumir, de muita habilidade em cada maneira adequada de introduzir método e ordem na coleta e no dispêndio da receita pública. Esse ministro, infelizmente, abraçou todos os preconceitos do sistema mercantil, que em sua natureza e essência é um sistema de restrição e regulação, e, tanto quanto pôde, raramente deixou de agradar ao laborioso e diligente homem de negócios, que se acostumou à regulamentação dos diversos departamentos de ministérios e ao estabelecimento das checagens e dos controles necessários para confinar cada um em sua própria esfera. Ele se empenhou em regulamentar a indústria e o comércio de um grande país pelo mesmo modelo com que se regulamentam os departamentos de um ministério; e em vez de permitir que cada pessoa buscasse seu próprio interesse a seu próprio modo, com base num plano liberal de igualdade, liberdade e justiça, esse ministro concedeu a certos setores da indústria privilégios excepcionais, enquanto sujeitou outros a restrições extraordinárias. Ele não estava apenas disposto, como outros ministros europeus, a dar maior estímulo à indústria das cidades do que à do campo; mas, para dar suporte à indústria das cidades, quis até mesmo deprimir e reprimir a do campo. Para baratear as provisões dos habitantes das cidades, e desse modo estimular os manufatores e o comércio exterior, proibiu totalmente a exportação de cereais, e assim excluiu a população campesina de todo mercado exterior para a (de longe) mais importante parte da produção de seu trabalho. Essa proibição, juntamente com as restrições impostas pelas antigas leis provinciais da França sobre o transporte de grãos de uma província para outra, e também com os tributos arbitrários e degradantes aplicados aos agricultores em quase todas as províncias, desestimulou e reprimiu a agricultura desse país num nível muito abaixo daquele que atingiria normalmente num solo tão fértil e num clima tão favorável. Esse estado de desestímulo e depressão foi sentido em maior ou menor grau em cada uma das diversas partes do país, e foram levantadas muitas perguntas e pesquisas concernentes a suas causas. Uma delas pareceu ser a preferência dada, pelas providências do sr. Colbert, mais ao trabalho das cidades do que ao do campo.

Quando se encurva demais uma barra em uma direção, diz o provérbio, para torná-la reta deve-se encurvá-la na mesma medida na outra direção. Os filósofos franceses, que propuseram o sistema que apresenta a agricultura como a única fonte da receita e da riqueza de qualquer país, parecem ter adotado essa máxima proverbial; e assim como no plano do sr. Colbert o trabalho nas cidades foi certamente supervalorizado em comparação com o do campo; no sistema deles, o trabalho nas cidades parece certamente ser subvalorizado.

Eles, os filósofos, dividem em três classes as diferentes categorias de pessoas que alguma vez se supõe terem contribuído de algum modo para a produção anual da terra e do trabalho do país. A primeira é a classe dos proprietários de terras. A segunda é a classe dos lavradores, arrendatários e trabalhadores rurais, aos quais eles honram com a peculiar denominação de classe produtiva. A terceira é a classe dos artesãos, manufatores e comerciantes, que eles se empenham em degradar com a humilhante denominação de classe estéril ou improdutiva.

A mão invisível (1759)Onde histórias criam vida. Descubra agora