O macaco enlameado

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Tudo o que eu sempre quis foi que Kim sunoo me deixasse em paz. Que ele retrocedesse, sabe, apenas me dando um pouco de espaço.

Tudo começou no verão de 1977, quando nossa caminhonete em movimento entrou no bairro dele. E já que estamos quase no primeiro ano do ensino médio, isso, meu amigo, faz quase uma década de evasão estratégica e desconforto social. Não satisfeito apenas em me perseguir por todo lado, ele bateu, empurrou e encaixou seu caminho em minha vida. Entrando nela sem permissão.

Achei que o garoto branquinho e fofo, sentadinho na calçada de sua casa, quase como um anjo, segurando uma bola entre seus joelhos, e encarando nossa caminhonete em movimento com olhos ansiosos, poderia ser até que legal, e fiquei momentaneamente animado por fazer nem que fosse pelo menos um amigo naquele bairro estranho e desconhecido, porém, tamanha foi a minha decepção quando nos primeiros minutos de interação, acabei por descobrir um temperamento e personalidade extravagante e evasivo.

Umas duas horas após nos instalarmos em nossa nova morada, percebi uma presença intimidadora atrás de mim, era ele. Não seria possível que aquele garoto tivesse invadido nossa van sem autorização, seria? Se convidar a entrar e começar, sem permissão, a escalar por cima das caixas e fazer um serviço maior do que eu mesmo? Não! Não seria possível! Mas isso foi exatamente o que ele fez, dominando e exibindo-se como apenas Kim Sunoo pode fazer.

Meu pai tentou detê-lo, é claro: ─ Ei! — Ele disse, enquanto o garoto tentava tirar uma caixa de cima da outra, se catapultando a bordo. ─ O que você está fazendo? Você está sujando tudo com lama! — Não era mentira, Seus sapatos estavam tipo, cobertos com lama, deixando marcas dos seus all Star vermelhos por todas as caixas e pelo chão da nossa van.

No entanto, ele não saiu. Em vez disso, o garoto plantou seu traseiro no chão e começou a empurrar uma caixa grande com seus pés. ─ Você não quer ajuda? — Ele olhou para mim. ─ Parece que você precisa dela.

Eu não gostei da maneira como ele falou, era como se soubesse que eu não era capaz de fazer aquele simples trabalho, ou que simplesmente eu não estava afim. E mesmo que meu pai tivesse me jogado o mesmo tipo de olhar toda a semana, eu poderia dizer, ele também não gostava desse garoto — Ei, não faça isso — ele o advertiu. ─ Há algumas coisas realmente valiosas naquela caixa.

─ Oh. Bem, e essa? — Ele corre para uma caixa chamada LENOX e olha para mim de novo. ─ Nós devemos empurrá-la juntos!

─ Não, não, não! — Meu pai diz, então o puxa para cima pelo braço. ─ Por que você não corre para casa? Sua mãe provavelmente está se perguntando onde você está.

Este foi o começo da minha breve, a se tornar efetiva, consciência de que o menino não conseguia pegar uma dica. De qualquer modo. Ao invés de se sentir acanhado e perceber que não era bem vindo ali, que não queríamos a sua ajuda e que ele poderia ir fazer qualquer outra coisa. Não. Ele apenas diz: ─ Oh... minha mãe sabe onde estou. Ela disse que estava tudo bem. — Então ele aponta para o outro lado da rua e diz: ─ Nós moramos bem ali.

Meu pai olha para onde ele está apontando e murmura: — Deus do céu. — Então ele olha para mim e pisca enquanto diz: ─ Sunghoon, não é hora de entrar e ajudar sua mãe?

Eu sabia que era uma mentira. Mas eu não pensei muito mais sobre isso, essa jogada não era algo que eu tenha feito com meu pai antes. Enfrentá-lo, dizendo que é mentira não é algo que seja discutido com os pais. É tipo, contra a lei dos pais dizer ao seu filho que está tudo bem se livrar de alguém, não importa o quão irritante ou enlameado possam ser. Mas lá estava ele, colocando o plano em prática, e cara, ele não teve que piscar duas vezes.

Eu sorri e disse: ─ Claro! — Depois pulei da portinhola e dirigi-me para a minha nova porta da frente.

Eu o ouvi vindo atrás de mim, mas não podia acreditar, senti como se estivesse sendo perseguido, talvez ele estivesse realmente indo para o outro lado. Mas antes de criar coragem para olhar, ele avançou direto para cima de mim, agarrando meu braço e me impedindo de continuar.

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